Koen Liefferinge e Fernando Vieira são dois criadores de aves. Para o concelho já trouxeram diversos prémios, conquistados, não só em campeonatos nacionais como em campeonatos do mundo. Esta foi uma paixão que começou há muitos anos, como os testemunhos dão conta.
Começaram com quatro aves e hoje têm mais de 100
Em 24 metros de comprido e quatro de largura, Koen Liefferinge e Sylvie Ribeiro, marido e mulher, montaram um verdadeiro habitat para as mais de 100 aves que têm atualmente, em São Bento. Foi em 1998 que compraram os primeiros dois casais, um casal de roseicollis e um de mandarins, linguagem simples para quem for entendedor da matéria. Mas essa primeira compra, há 22 anos, tinha tudo para desmotivar o casal de fazer criação de aves. «Na altura já era caro, nós gastámos ali muito dinheiro, à volta de 100 euros, se disséssemos a alguém chamavam-nos malucos», começa por explicar Sylvie Ribeiro, que conta: «Fomos comprar a um criador conceituado da região e no regresso parámos para comer, deixámos a caixa com os pássaros na mala do carro, quando chegámos a casa estavam todos mortos». O que valeu ao casal foi que o criador a quem compraram foi compreensivo e deu-lhes outras aves iguais, algo «preponderante» para continuarem a criar.
O impulso para iniciar esta atividade partiu de Koen Liefferinge, que sempre gostou de aves. «Em criança sempre tive uns periquitos, canários, só que tinha apenas um casal», conta, acrescentado que já em casa dos pais fez umas «gaiolas» para ter as suas aves. Já Sylvie confessa que inicialmente não era algo de que gostasse particularmente, mas deixou-se levar pela vontade do marido e hoje é também adepta. Foi fácil irem aumentando e evoluindo, inicialmente muito «através das trocas com outros criadores» e depois também através da venda.
As aves «pequeninas» estão em colónias, ou seja «quatro ou cinco casais numa gaiola», já as de médio porte estão sozinhas em gaiolas «de três metros de comprido». Todos os dias gastam «quase uma hora» para ver «a água, comida e o estado de saúde» das aves. Converteram a filha mais velha que também já é «criadora federada», tal como pai, um requisito obrigatório para quem tem aves protegidas. O filho, por outro lado «não quer saber nada daquilo».
Koen Liefferinge participa em vários concursos com as aves onde é avaliado o «aspeto físico, desde a beleza, postura e porte» e já venceu vários prémios, que normalmente são «taças, medalhas ou rosetas» e nunca prémios monetários. Por isso não tem dúvida, neste desporto não «se ganha dinheiro, mas gasta-se», admite entre risos, sendo que até a inscrição nos concursos se paga. O que se ganha também são «inimigos»: «Nunca tivemos inimigos e desde que começámos a ser federados e a ir a concursos arranjámos inimigos, não sabemos porquê». A vantagem das vitórias é «o prestígio» sendo que depois é mais fácil vender as aves que têm.
Uma das fases que o casal mais gosta é a que se está a viver agora em que as crias começam a nascer e a «fazer as posturas». É preciso um acompanhamento constante porque aparecem os ovos e é importante «pôr umas papas para a mãe não ter tanto trabalho para dar às crias». Nunca tiveram formação na área e por isso admitem que «vão aprendendo com as azelhices». Uma coisa têm a certeza, nesta atividade não há separação de classes: «Não tem a ver com ter muito dinheiro ou não ter. O pássaro só cria se assim tiver de ser».
Onde quer que vá, traz um prémio
Há 24 anos que Fernando Vieira, natural do Alqueidão da Serra e residente em Serro Ventoso, cria aves. Começou com «os canários», depois passou para as «caturras e roseicollis», depois desistiu destas espécies e dedicou-se em exclusivo «aos papagaios». O criador começou a interessar-se por esta área por força «dos amigos» que tinham aves e começaram a mostrar-lhe este mundo. Foi quando conheceu um importador de Torres Novas, a quem comprou os primeiros casais, mas também no caso de Fernando Vieira, a sorte não foi imediata. «A primeira fêmea que comprei esteve sete anos em minha casa sem ter nenhuma cria, eu sabia que era um casal e que a fêmea estava sexada mas nada acontecia», conta. Ao final destes sete anos, um amigo do criador disse-lhe que vinha a Portugal uma veterinária de Espanha que fazia «sexagem por endoscopia» e Fernando Vieira foi ter com a profissional. Foi neste momento que soube que a fêmea «era infértil», por isso vendeu-a e comprou outra.
Para Fernando Vieira a «paciência» é por isso uma peça-chave para conseguir criar, até porque situações destas podem repetir-se. «Tenho aqui dois casais de papagaios que comprei a um colega. Na casa dele criavam e na minha casa, estão aqui há 10 anos, e ainda não criaram um filho», conta. Atualmente o criador tem 29 papagaios que são a sua «distração». Fernando Vieira acredita que o amor que tem a este hobbie é mesmo por isso, por encontrar na criação «um entretenimento» para a mente. Quem já lhe seguiu as pisadas foi também a sua filha mais velha, criadora federada e que o criador espera que continue a manter as aves, mesmo depois do pai deixar. A filha entusiasmou-se com esta atividade ao ver o «pai a vencer prémios», coisa que não aconteceu ao outro filho, que «não liga nada».
Uma das coisas que enche de orgulho Fernando Vieira é saber que «onde quer que vá ganha sempre» um prémio. Os amigos dizem-lhe muitas vezes isto, mas o criador confirma: «Não há concurso onde tenha ido, que não tenha trazido os primeiros lugares». Os seus papagaios «têm normalmente as cores mais vivas e brilhantes», algo que os criadores conseguem, por vezes, antever. Tal como a junção de cores num quadro, também os papagaios são fruto da junção de cores dos seus progenitores.
Por levar «o nome de Serro Ventoso» ao mais alto nível, recebe um apoio da Junta de Freguesia para a alimentação das suas aves. Usa uma «mistura de pombos» que é mais barata, mas também dá «fruta e verduras» aos papagaios e de momento está a plantar beterrabas para a alimentação das suas aves. Em relação ao espaço necessário, Fernando Vieira tem uma opinião clara: Qualquer pessoa pode criar aves independentemente de ter ou não muito espaço. «Se tiver uma palete com rede à volta, esse metro quadrado é suficiente para eles se criarem», explica. O espaço não é entrave, na opinião do criador, mas as burocracias que hoje são necessárias para a criação, podem ser. Fernando Vieira acredita que a atividade está em queda a nível nacional por ser preciso, atualmente, «tratar de muitos papéis» para se estar autorizado a criar.