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Pandemia afetou tudo e todos e clubes de futebol e de futsal do concelho não prevêem futuro fácil

9 Abril 2020
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

9 Abr, 2020

FUTEBOL

Associação Desportiva Portomosense

Pedro Solá, técnico do Portomosense confessa que a pandemia trouxe ao balneário um sentimento de «incerteza», não sendo logo claro para todos «a gravidade da situação». Foram ouvindo as notícias mas não esperavam que a evolução fosse «tão galopante». Hoje, apesar de tudo continuar uma «incerteza» já lhe parece certo que existem poucas chances de que os treinos e as competições retomem. A equipa, considera, estava «numa fase boa» e tinha feito «alguns ajustes para atacar a última fase do campeonato e da taça distrital» e uma paragem destas não é nada benéfica. «Isto é como pararmos nas férias, embora façamos planos de treinos para ir dando aos atletas, que não são profissionais, não vivem disto, nunca vamos ter a certeza que eles o fazem, ainda para mais quando há incerteza relativamente ao recomeço das competições». Pedro Solá diz mesmo que uma paragem como esta é como «voltar à estaca zero», havendo apenas a vantagem «dos jogadores já se conhecerem uns aos outros e já terem uma ideia de jogo, mas que em todo o caso, na condição física, níveis de confiança, na rotina normal do jogo ao domingo, tudo se vai perder». O contacto com os jogadores tem-se mantido através das redes sociais e apesar de não conseguir ter o tal controlo sobre as rotinas dos jogadores, acredita no seu espírito de responsabilidade, reconhecendo que de momento há outras coisas que ocupam «a cabeça» dos atletas «por muita responsabilidade que eles tenham». O técnico frisa ainda que «há jogadores que são oriundos de outros países e neste momento a mente deles está lá, pensando no que se possa estar a passar com as famílias». Em nenhuma dimensão competitiva, frisa Pedro Solá, os jogadores «estão preparados» para lidar com esta situação. O treinador deseja que tudo «seja ultrapassado rapidamente» e diz que nada vai voltar a ser o mesmo. No mundo desportivo, o técnico acredita que muitos «clubes vão acabar» devido às consequências económicas.

Centro Cultural e Recreativo do Alqueidão da Serra

O treinador do Alqueidão da Serra, Filipe Faria, assume que «numa primeira fase» a equipa técnica e os jogadores não pensaram que o problema «fosse tão expansivo» mas acataram as ordens da Associação de Futebol de Leiria e suspenderam de imediato os treinos. Agora todos estão «apreensivos e preocupados», sabendo que o que inicialmente previam – estar de volta à competição em duas ou três semanas – não se irá realizar. O técnico prevê consequências competitivas mas também económicas que o novo coronavírus vai provocar, não só na equipa que comanda, mas a nível nacional: «Uma paragem deste tipo acarreta dificuldades físicas aos atletas e elevados custos ao clube». A equipa técnica e a direção mantém-se em «contacto constante, duas ou três vezes por semana» com os jogadores, não só para perceber «se está tudo bem e se precisam de alguma coisa» mas para enviar «o plano de treinos» semanal para «eles poderem realizar dentro de casa». Aqui também as redes sociais e os e-mails são aliados, é através destes meios que são enviadas todas as informações sobre os treinos, que apesar de serem coletivos, depois «podem ser adaptados a cada atleta, dependendo quer do material de que dispõem, quer do espaço que têm para treinar em casa ou junto à casa». O treinador lembra que alguns destes atletas se mantêm em teletrabalho e por isso esta conjugação não é fácil, no entanto considera que tem «uma equipa muito responsável, que está a ter os maiores cuidados de segurança [para evitar o contágio] e também está a realizar o plano de treinos». «Éramos um grande grupo no balneário e fora do balneário, muito unido e muito forte e apesar de estarmos longe, continuamos a ser e estamos aqui para nos ajudarmos uns aos outros», reforça Filipe Faria. O treinador frisa também que esta é uma situação «muito mais importante que o futebol, diz respeito à saúde de todos nós» e que a união será sempre a máxima da sua equipa.

União Recreativa Mirense

Pedro Cordeiro estava apenas há «três semanas» no comando técnico do Mirense quando a pandemia da COVID-19 afetou Portugal e obrigou à suspensão das competições. «É uma situação, para quem está no futebol, que está muito longe de ser desejável até porque eu entrei no dia 18 de fevereiro, tivemos apenas três semanas de treinos e dois jogos», frisa o treinador. O profissional acredita que ninguém, «nem os portugueses em geral» nem a equipa do Mirense, percebeu que o novo coronavírus ia ter um impacto tão grande. Já depois da decisão da Associação de Futebol de Leiria (AFL) ter sido tomada e por já se encontrarem nas instalações do clube quando souberam da suspensão das competições, a equipa do Mirense ainda treinou. O objetivo do treinador, admite, era continuar «a treinar duas vezes por semana» até saber desta decisão da AFL e ter «uma real noção» dos níveis de propagação em causa. O treinador diz que «mesmo para os jogadores profissionais» não é fácil manter os níveis físicos, mais difícil é quando se trata de jogadores amadores. Quanto à «componente tática e técnica» não há qualquer hipótese de ser mantida sem os treinos em campo e com bola. Pedro Cordeiro diz que é possível amenizar as questões físicas, tentando «manter uma boa capacidade muscular e cardiovascular» com alguns exercícios que está a passar aos jogadores com quem mantém também contacto diário. No entanto, o técnico considera que isto «não é fácil» de cumprir, «seja por uma questão de motivação, seja por uma questão de tempo ou do material que têm disponível». O treinador lembra que tem uma dificuldade acrescida, o facto de ter entrado há pouco tempo no Mirense não lhe permitiu «fazer uma avaliação dos jogadores» para saber, individualmente, quais as maiores necessidades físicas de cada atleta. Pedro Cordeiro quer passar para essa fase, utilizando os meios possíveis de momento, para tentar perceber «o que sente cada jogador que tem que trabalhar» e assim adaptar o treino.

FUTSAL

Associação Recreativa Cultural e Desportiva da Mendiga

«Ficámos todos algo sensibilizados com a situação», confessa o técnico da Mendiga, Nelson Pereira, referindo-se ao plantel e à estrutura técnica do clube. Numa fase embrionária do aparecimento do vírus em Portugal, houve uma tentativa de manter os treinos, tentando perceber como «se conseguiriam fazer desinfestações» nas instalações do clube mas logo se percebeu que seria inevitável suspender a atividade. Houve um entendimento por parte de toda a equipa técnica, direção e plantel que se reuniram «de emergência» assim que Associação de Futebol de Leiria comunicou a paragem no campeonato. O que não contavam era que esta paragem fosse superior «a uma quinzena», trazendo consequências negativas, admite o treinador, que explica que a «falta de competição não permite» que a equipa se mantenha «interligada». Nem tudo é mau, uma vez que este tempo já permitiu «recuperar algumas lesões», embora o técnico tenha dúvidas que «a prova retome». Tem «tentado comunicar com todos de forma individual» e sabe que alguns jogadores se mantêm ativos. Devido ao facto de o clube estar sediado numa terra serrana e de vários jogadores viverem perto do clube, este «espaço com bastante arvoredo» tem sido aproveitado pelo plantel para poderem «trabalhar fisicamente numas caminhadas e corridas», mas «não é a mesma coisa», frisa Nelson Pereira. «É uma manutenção física, mas não é a mesma coisa do que nos prepararmos para uma competição», juntando a isso, salienta o treinador, o facto de haver jogadores que «estão mais limitados em termos de espaço exterior na própria casa», por exemplo, porque «vivem num apartamento» e não têm possibilidade de fazer este exercício. O ideal seria tentar passar algumas das jogadas da equipa «para modo 3D», um objetivo que está na mente do técnico mas que é um projeto «embrionário» e que mesmo que avance «não permite ter a sensibilidade cara a cara» com os jogadores para perceber as suas dúvidas.

União Recreativa Desportiva Juncalense

A reação inicial ao impacto deste vírus foi «de surpresa», confessa Jorge Branco, técnico do Juncalense. Ninguém estava à espera que a força da COVID-19 fosse de tal forma grande que obrigasse à suspensão de muitas atividades, incluindo no desporto. Não houve dúvidas que era o melhor a fazer, parar, até porque, reforça o treinador «há muitos jogadores que são pais de família» e por isso sentiam a responsabilidade de fazer o que pudessem para travar esta epidemia. Antes de falar em questões desportivas, o treinador refletiu sobre o impacto que esta pandemia terá na sociedade: «Acho que nunca mais vamos ser os mesmos, a nossa vida vai mudar completamente, penso eu. Na minha opinião, a minha vida vai mudar, vou começar a ver as coisas de outra maneira, se calhar vou começar a tentar passar mais tempo com a minha família, se calhar vamos começar a dar outro valor à vida». Em termos desportivos o cenário é «muito complicado», sobretudo nas finanças dos clubes, considera Jorge Branco. «Uma equipa que faça um investimento para subir de divisão ou até para não descer e chega a esta altura do campeonato com esta indefinição se vai haver campeonato ou não, sente que este dinheiro foi deitado à rua», frisa o treinador que admite «não saber» a melhor forma da Associação de Futebol de Leiria responder a esta situação, sobretudo depois de estar mais calma. À semelhança dos seus colegas de profissão, o treinador do Juncalense tem também mantido contacto com o plantel, a quem tem reforçado que é importante «que se mantenham ativos, que façam algum exercício físico», algo a que o plantel tem correspondido. «Todos me disseram que estão a fazer algum exercício em casa, umas corridas, flexões, abdominais», contou o técnico que reforçou que até por questões de sanidade mental é importante «não estarem sempre fechados em casa, apanharem ar, no jardim da casa ou na sua rua».

Centro Cultural e Recreativo Dom Fuas

«É uma situação a nível global que nós não estávamos à espera e que ninguém estava à espera», confessa Nelson Silva, treinador do Dom Fuas. A compreensão «pelo momento» que o país atravessava foi percebida ainda em competição: «No último domingo em que jogámos já nos perguntámos se teríamos mesmo que fazer o jogo porque já se falava tanto do vírus, a comunicação social já nos dizia o que estava a acontecer em Itália e para chegar cá era um pulo», recorda o treinador, que reforça que tinham «existido algumas feiras em Itália» e que na região existem «vários empresários» que estiveram presentes nesses eventos. Esta paragem é, para Nelson Silva, «o matar da época» e para o técnico «não vale a pena pensar» mais na competição, que, na sua opinião «dificilmente retoma». «Uma equipa que pare agora um mês, a nível coletivo e individual, dificilmente pode recuperar em oito dias. Se estivermos parados um mês será até ao fim de maio e ainda temos 12 jogos do campeonato para disputar, é impossível», manifesta o técnico. Nelson Silva reforça que é necessário «descer à realidade» do escalão amador em que a sua equipa compete e salienta que apesar de «manter contacto com os jogadores» é impossível «fazer planos de treino», quando muitos dos jogadores «estão ainda a trabalhar» e não têm «disponibilidade financeira para ter todos os mecanismos para treinar em casa». Aliás, é difícil, «até para os clubes terem mini-ginásios nos pavilhões, ainda pior é para os atletas», reforça Nelson Silva. O treinador acredita, no entanto, que os atletas «vão fazendo umas corridas» para se manterem ativos, mas pedir «mais do que isso é impossível». O técnico salienta que esta será um momento que vai trazer muitas consequências «sociais e económicas» para o país e até para os clubes esperando que seja atravessado o «mais rapidamente possível».

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