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Paragem forçada levou a corrida “em massa” às oficinas de mecânica no período de pós-confinamento

29 Janeiro 2021
Jéssica Silva

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Jéssica Silva

29 Jan, 2021

Com o primeiro confinamento geral, decretado pelo Governo em março do ano passado, foram muitos os automóveis que passaram dias a fio parados na garagem. As consequências dessa paragem forçada não se fizeram esperar e aquando do levantamento das restrições, de imediato, se assistiu a uma corrida às oficinas para tratar problemas mecânicos avolumados pela quarentena. Fabrício Leal, responsável pela Perileal, relata um ambiente de «muita confusão» e «muito trabalho» nas oficinas, principalmente nos meses de «julho, agosto e setembro». «Após o confinamento houve uma afluência muito grande, não só pela falta de manutenção preventiva dos meses anteriores, mas também devido às inspeções periódicas obrigatórias», recorda.

Também na empresa de que é responsável há mais de 25 anos, Fernando Jordão garante que os meses de verão foram marcados por uma ida «em massa» de clientes que, ao verem chegar ao fim o prazo para fazer as inspeções, decidiram ir ao mecânico. «O que nos aumentou muito o trabalho foi a preparação para as inspeções. Apesar do prazo ter sido prolongado, nos meses de confinamento não se fizeram nem revisões nem inspeções, então as pessoas foram à oficina por isso mesmo», esclarece.

Com o desconfinamento, o país tentou, aos poucos, voltar à normalidade e uma das primeiras coisas a ser feita foi levar o carro ao mecânico, devido a um problema de que, praticamente todos padeciam. «As baterias já estavam com alguma deficiência e não trabalhando todos os dias, acabavam por entrar em curto circuito e avariavam», explica Fernando Jordão, o responsável da Auto Jordão, adiantando que nessa altura, a venda de baterias foi «muito superior» àquilo que era «normal». Mas, afinal, por que é que tanta gente sentiu necessidade de adiar a ida ao mecânico? A resposta é: falta de poder de compra. «As despesas do dia-a-dia são muitas, os ordenados não chegam para tudo e a ida ao mecânico vai sendo cada vez mais adiada. Acabam por ir quando tem mesmo de ser, quando surge uma avaria ou quando o carro tem de ir à inspeção», justifica. Também Fabrício Leal é da opinião que o poder de compra, ou neste caso, a falta dele se reflete na escassez de idas ao mecânico. «Nós fazemos o diagnóstico e informamos o cliente para a necessidade de, por exemplo, comprar uma bateria nova mas o que acontece é que este só a vai substituir quando está avariada e aí não está a fazer manutenção preventiva», alerta.

Aprender com os erros do passado

Quase um ano depois, Portugal volta a estar confinado, que é como quem diz, está em vigor o dever de recolhimento domiciliário. Apesar da situação a que se assistiu da primeira vez, Fabrício Leal admite que após este novo confinamento, «vão existir os mesmos problemas». Ainda assim, o empresário deixa alguns conselhos para que no futuro não se venha a repetir os mesmos erros do passado e se evitem idas forçadas ao mecânico. «A bateria tem que estar em excelentes condições para poder funcionar em pleno, caso tenha uma utilização inferior a 50%, após uma semana o carro já não pega», avisa. Além disso, recorda, o óleo e os filtros devem ser mudados «regularmente», ainda que, frisa, «não se façam certos quilómetros». Fabrício Leal sublinha também a necessidade de se fazer a revisão «por prevenção» sob pena de se «danificar outras peças dentro do motor» e alerta para a necessidade de carros que estejam mais parados, «devam ter mais manutenção» do que outros que andem todos os dias. «Tentar pôr o carro a trabalhar de três em três dias, em vez de estar parado uma semana. E, se conseguirem, dêem uma voltinha de cerca de 15 minutos no quarteirão ou perto de casa», sugere Fernando Jordão, esclarecendo que estas pequenas dicas podem ajudar na «manutenção das baterias» e do próprio «funcionamento do carro». Paralelamente, adverte, nas condições atmosféricas atuais, marcadas por tempo «muito frio», as baterias têm tendência a «perder alguma capacidade de carga» e, garante, esse ponto faz toda a diferença nos carros cujas baterias apresentam «algum desgaste».

Falta de poder económico leva pessoas a deixarem pneus para “segundo plano”

Se há aspeto de «máxima importância» nos automóveis, são os pneus e o estado em que se encontram. Não fosse o único elemento que está em contacto direto com a estrada, os pneus são também um dos componentes «principais da segurança», como refere a O Portomosense, Jorge Costa, responsável pela Pneus 32, ressalvando que é importante «ajustar» os pneus ao veículo e também ao «tipo de condução». Apesar do estado dos pneus ser considerado um dos aspetos mais relevantes para a condução, a verdade é que «nem todas as pessoas» lhe dão a devida «relevância e importância». «Esse cuidado é essencial pois o carro pode aparentar estar normal, mesmo com deficiências do pneu», alerta o profissional, frisando a necessidade de haver uma «manutenção regular».
Este esquecimento que existe na não substituição dos pneus de forma atempada, acredita Tiago Silva, está relacionado com a «falta de poder económico» da sociedade portuguesa que hoje em dia «não tem tantas possibilidades». O responsável de oficina da empresa Team Pneus, adianta que é frequente haver pessoas que andam com pneus «praticamente até ao fim da vida», ou seja, abaixo dos 1.6 mm, o piso mínimo imposto por lei. «Agora com a pandemia, há pessoas que ficaram desempregadas e por isso, os pneus são uma das coisas que fica para segundo plano», constata. O profissional alerta ainda para o facto de estarmos numa estação do ano, em que a importância do estado dos pneus ganha outra importância porque, segundo justifica, com água e gelo há «maior probabilidade» de se ter um acidente.

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