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Paróquias lutam pela preservação do património artístico de igrejas e capelas

17 Fevereiro 2021
Isidro Bento

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Isidro Bento

17 Fev, 2021

A conservação e restauro da talha dourada da antiga igreja matriz de Mira de Aire venceu o Orçamento Participativo 2020, colocando, pela primeira vez, um projeto da área da Cultura no lugar cimeiro, mote suficiente para O Portomosense se lançar à estrada e tentar perceber, afinal, que património religioso temos e qual o seu estado de conservação. Para isso, nada melhor que falar com os responsáveis de cada paróquia, os primeiros guardiões das nossas pequenas grandes riquezas em termos de arte sacra.

«Temos andado um bocadinho a tentar perceber quais as peças mais importantes e como é que podemos, aos poucos, ir recuperando, não só os edifícios, mas os seus elementos patrimoniais e as esculturas existentes», diz o padre José Henrique Pedrosa, pároco da Calvaria de Cima, quando questionado sobre o assunto. «Já o fizemos relativamente às principais imagens das nossas igrejas. Vamos agora entrar em mais um restauro, neste caso, de duas peças da igreja da Calvaria. Recentemente, restaurámos quatro imagens da Capela de São Jorge, entre elas a do Santo Condestável. Na igreja paroquial, houve uma intervenção na zona do presbitério, não só de conservação e restauro, mas também a nível arquitetónico. Há poucos anos, com o envolvimento de toda a comunidade e o apoio da Câmara, fez-se o restauro de um retábulo da capela de Casais dos Matos, uma intervenção que custou cerca de 10 mil euros», recorda.

Nas paróquias de Serro Ventoso, Mendiga e Arrimal, o património que, talvez, mais se destaca pela sua beleza e imponência é o altar da igreja de Serro Ventoso. A talha dourada foi alvo de intervenção há alguns anos, mas, segundo o padre Leonel Batista, o responsável pelas três paróquias, «é algo que necessita de atenção constante, por causa dos parasitas que podem corroer a madeira». Por outro lado, a proximidade à estrada tem-se refletido no interior do templo, «em especial no teto do altar-mor, que se vai deteriorando com a trepidação dos veículos».
Nas três paróquias, a nível dos bens móveis, como imagens e “alfaias” tem-se feito alguma conservação, mas a incidir de um modo especial nas mais utilizadas para não acarretar despesas excessivas para as respetivas comunidades. Quanto ao futuro da chamada igreja velha de Arrimal, Leonel Batista admite que paróquia, poder autárquico e diocese estão perto de chegar a um acordo, mas prefere, para já, não adiantar pormenores.

Órgão aguarda, há anos, por restauro

Em Alcaria, Vítor Mira, o pároco local, explica que «embora a intervenção não seja urgente, está em marcha uma pequena campanha e algumas iniciativas para ir juntando dinheiro, com vista à recuperação da talha dourada da igreja, que já é muito antiga». No entanto, «não há previsão de quando é que se poderá avançar, porque são ações sempre dispendiosas».

No Alqueidão da Serra, na outra paróquia sob a responsabilidade de Vítor Mira, vai-se recuperando algum património, sempre que os curtos recursos o permitem, mas há um elemento que continua, há longos anos, à espera de restauro. Trata-se de um órgão de tubos, do século XVIII. O arranjo do órgão não é fácil, muito menos, barato, e isso ainda é mais verdade sabendo-se o seu estado de degradação. Mazelas do tempo, mas também «da forma pouco cuidadosa como terá sido retirado do local original», repetida, mais tarde, quando se entendeu necessário transportá-lo e acondicioná-lo noutros espaços da paróquia.
Foi constituída uma comissão de restauro «para se começar a pensar a sério neste projeto, mas com a atual pandemia e com a mais que provável crise económica que por aí vem», o padre considera que «não é a melhor altura para se avançar», até porque pelos valores que deverá envolver o restauro, a paróquia necessitará sempre de ajuda externa, sublinha.
Ainda na paróquia, em 2019, foi feita a recuperação do cruzeiro junto à capela de Nossa Senhora da Tojeirinha, que apareceu derrubado, e aproveitou-se para mudar o chão da capela e pintá-la por fora.
Por Porto de Mós, o padre José Alves diz que o património da Igreja «não é muito, nem em quantidade nem propriamente em qualidade, havendo, contudo, algumas peças, sobretudo a nível de estatuária, de maior relevo».
«Temos a imagem da Imaculada Conceição na igreja de São Pedro, que é muito grande e precisava de um bom restauro. As outras foram substituídas há uns anos, são relativamente novas e estão em bom estado de conservação» descreve, acrescentando que «mais do que estar a fazer restauros, a grande preocupação tem sido conservá-las o melhor possível». A mesma regra para altares e outros elementos de maior importância artística.

Arte sacra passa também por algumas capelas

Em Mira de Aire, o padre Luís Ferreira mostra-se satisfeito por se poder avançar para o restauro da talha dourada da antiga matriz, lembrando, contudo, que se trata de um património que não pertence à paróquia e que é, neste momento, um espaço cultural. A candidatura foi dinamizada pela sociedade civil, mas isso não o impede de aplaudir a mobilização popular e o êxito alcançado. Relativamente à igreja de Mira de Aire e às capelas de São Silvestre e da Senhora da Boa Morte, essas sim sob a sua alçada, considera que «não têm grandes elementos de património religioso e artístico, mas o que há, está bem conservado».

De acordo com o também pároco de Alvados e de São Bento, entre as suas igrejas, aquela que tem o património mais relevante a nível artístico é a de Alvados onde, há cerca de 10 anos, «foi feito um grande trabalho de conservação». Dado que a igreja de São Bento é relativamente recente, Luís Ferreira destaca, ao nível do património religioso, as capelas de Cabeça das Pombas e da Pia Carneira, «dois espaços pequeninos, mas com alguns pormenores de interesse artístico».

À conversa com o nosso jornal, o pároco das Pedreiras e do Juncal, padre António Cardoso, refere que a igreja das Pedreiras é “recente”, pelo que «os elementos de maior valor artístico acabam por ser as imagens de Nossa Senhora das Dores e de Santo António que vieram da antiga igreja, hoje casa-velório». Desse espólio, a paróquia guarda «outras imagens muito deterioradas» e que o sacerdote gostava de um dia poder recuperar, já não com o objetivo de voltarem aos altares, mas para que o património não se perca.

A situação do Juncal é bem diferente. É uma igreja muito mais antiga e que conta com elementos, como os painéis de azulejo da Real Fábrica do Juncal e alta-mor em talha dourada, que a tornam numa das mais relevantes ao nível concelhio, em termos de património religioso. «Embora um altar ou outro precise de uma intervenção», o pároco mostra-se particularmente preocupado é com «o estado de degradação da fachada, porque algumas das pedras que a compõem estão em perigo de queda, estando por isso muito necessitada de intervenção». Fora da vila, há algumas capelas com elementos artísticos com algum relevo, no geral bem cuidados, conclui o padre António Cardoso.

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