Passeio Sénior: um dia em que todos os idosos são bem-vindos e a solidão não entra

2 Agosto 2023

Jéssica Silva

Saem de casa, da sua zona de conforto, para conhecer novos lugares, respirar novos ares e viver uma experiência que os faça sair da solidão onde alguns mergulharam há vários anos. Chamam-lhe Passeio Sénior ou Passeio dos Reformados, iniciativa que proporciona um dia diferente às pessoas «com mais de 65 anos ou reformados» onde, ainda que por algumas horas, permite que estes saiam da rotina, convivam e se divirtam junto de outras pessoas. Escolhemos Alqueidão da Serra, Porto de Mós e Serro Ventoso, mas podíamos ter escolhido uma qualquer outra freguesia do concelho. Todas elas, por esta altura, decidem dinamizar esta iniciativa que já se realiza há vários anos e que conta sempre com bastante adesão. Se dúvidas existissem sobre o seu sucesso, os números falam por si. Só este ano, foram precisos quase 10 autocarros para transportar os idosos que participaram no passeio proporcionado por estas três autarquias.

Um dia “memorável”

«Uns jogam cartas, outros conversam, dançam… É um dia preenchido, em comer, dançar e passear». É desta forma que o presidente da Junta de Porto de Mós, Manuel Barroso, descreve o Passeio Sénior dinamizado pela sua autarquia. Uma iniciativa a que atribui uma importância inegável, sobretudo quando falamos num país envelhecido, onde combater a solidão se torna cada vez mais premente. «Há muita gente que não sai de casa e esta é uma forma de porem a conversa em dia. É quase um ponto de encontro dos fregueses de cada localidade», considera, defendendo que iniciativas como esta devem ser reforçadas pelo poder local. O autarca reconhece que esta é uma iniciativa com benefícios para os idosos que, considera, passam «um dia muito agradável».

Desde que está à frente da Junta, Manuel Barroso já organizou passeios a locais como Santa Comba Dão, Peniche e Vila Nova de Gaia. Desta vez, o itinerário começava por Vila Nova da Barquinha, a primeira de várias paragens do itinerário, e foram precisos cinco autocarros para transportar os cerca de 300 fregueses que responderam ao convite da Junta. Apesar do número expressivo, a verdade é que, ainda assim, e surpreendentemente, este não foi o melhor ano em termos de participação. «Houve um ano, talvez em 2017 ou 2018, em que chegámos a ir seis autocarros», recorda. Um decréscimo que o autarca relaciona às consequências provocadas pela pandemia: «Houve muita gente que partiu, além disso, a COVID desanimou as pessoas com mais idade. As pessoas têm medo de viajar, de sair de casa e antigamente não existia esse medo», conclui.

“Os que vão ficam todos contentes”

Apesar de haver um crescimento da população idosa, a verdade é que esse aumento não se reflete em termos de participação. À semelhança de Porto de Mós, também em Serro Ventoso se sente uma diminuição em termos de afluência à iniciativa do passeio, que este ano contou com 75 idosos. A “culpa” é, acredita o presidente da Junta, Carlos Cordeiro, da pandemia: «Há sete ou oito anos eram 120/130 pessoas e agora são menos. Já cheguei a ter três autocarros e agora só vão dois. Acho que depois da pandemia ficaram mais fechados em casa, com medo de sair. Noto que há alguns que não foram, que não morreram e que estão em casa e que pura e simplesmente não quiseram ir. Acho que à medida que aumenta a idade, aumenta a vontade de ficar em casa».

Através da Junta, os idosos já foram a Mealhada, Mafra e Figueira da Foz e desta vez o destino foi Escaroupim (Salvaterra de Magos). Carlos Cordeiro não tem dúvidas das vantagens que o Passeio abarca, sobretudo quando proporciona aos idosos experiências que não teriam em mais lado nenhum: «Iniciativas como esta são de extrema importância para combater a solidão, conviverem uns com os outros e saírem de casa. Muitos deles vão poucas vezes ao restaurante. Acho que é excelente, aqueles que vão ficam todos contentes, aqueles que não vão começam a ficar mais comodistas, em casa».

“Fazemos sempre uma viagem cultural”

No Alqueidão da Serra, o executivo liderado por Filipe Batista tenta proporcionar uma experiência aos idosos onde o foco não está tanto no lazer e divertimento mas na vertente cultural: «Fazemos sempre uma viagem cultural, eu sou diferente dos meus colegas. Eu sei que os seniores gostam de passear, depois vão almoçar no restaurante e depois ficam lá mas eu não proporciono essa parte, se fosse para comer, ficávamos no Alqueidão», defende. E foi precisamente nesse âmbito que organizaram uma viagem à Assembleia da República, um dos passeios que, garante, suscitou maior interesse nos idosos. «Eles adoraram, verem aquilo que veem na televisão, foi engraçado para eles», frisa. Da lista de sítios que os idosos puderam conhecer através desta iniciativa, destaca-se também Lisboa, Coimbra, Aveiro e Marvão, onde visitaram diversos museus. Este ano, o destino foi a Barragem do Fratel que contou com a visita de 120 pessoas.

Para o presidente da Junta do Alqueidão da Serra, iniciativas como a do Passeio Sénior «são uma forma de combater a solidão»: «Até pelo convívio que fazem uns com os outros. Muitos não tem oportunidades, muitos deles não têm forma de sair, não têm carta de condução. É uma forma de passearem um pouco», considera.

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