Patrícia Pereira trabalha na rádio há mais de 20 anos. Atualmente é produtora do programa Já se Faz Tarde da Rádio Comercial, uma das rádios mais ouvidas em Portugal. O percurso longo, cheio de experiências profissionais variadas é, por si só, suficiente para nos espicaçar a curiosidade sobre este caminho, mas Patrícia Pereira tem também uma ligação ao concelho sobre a qual nos revelou alguns pormenores. «O meu pai nasceu em Lisboa, mas a minha mãe é das Pedreiras. A minha avó materna era das Pedreiras e o meu avô do norte, mas quando se casaram ficaram a viver aí. Eu tive a sorte de ter as minhas avós [materna e paterna] a morarem a 100 ou 200 metros uma da outra», conta. Nunca viveu permanentemente no concelho, mas passava cá vários meses. «Até aos meus 10 ou 11 anos ia sempre passar os verões nas Pedreiras e era na altura em que as férias grandes eram mesmo muito grandes, portanto, eu chegava em junho e só ia embora quase em outubro», recorda Patrícia Pereira.
Ainda hoje regressa «muitas vezes» e sabe que quando vê as «torres verdes» do Castelo, chegou à sua «segunda casa». Entre os momentos mais bonitos que lembra estão as idas ao Jardim Municipal: «Lembro-me que o ponto alto da estadia era ir à esplanada ao pé do rio no Jardim. Íamos lá beber qualquer coisa e era uma emoção em miúda». Estas raízes já as passou também ao filho. «Hoje em dia, o jardim novo [Parque Verde] também já faz parte do meu circuito enquanto mãe, quando vou aí, vou dar um passeio e levo o meu filho aos baloiços», explica.
Rádio Dom Fuas faz parte das memórias
No amor pela rádio, a Rádio Dom Fuas, pode ter tido alguma “culpa”. «Uma das memórias de verão foi quando apareceu a Rádio Dom Fuas, foi um acontecimento na aldeia, toda a gente sintonizava a rádio. Era uma coisa nova e feita pelas gentes da terra», recorda. Patrícia Pereira criou aqui «uma ligação» com a rádio em geral mas em particular com a Rádio Dom Fuas: «Era especial por ser feita pelas pessoas da zona, era dirigido a nós, isso é que tornava tudo engraçado». Quando «algo passava na rádio da terra, no outro dia, todos sabiam»: «Há uma história que eu recordo para sempre. Ainda só tínhamos dois canais de televisão e havia um ritual que era, uma das vizinhas da minha avó, ia ver a novela com ela e fazer companhia. Quando começou a Rádio Dom Fuas, passámos a ouvir a rádio. Há um dia em que lançam um passatempo em que a primeira pessoa que levasse um ferro de queimar o leite creme, ganhava um almoço num restaurante que havia nas Pedreiras. A dona Júlia [vizinha] estava com a minha avó Xica e disse logo que tinha um ferro desses e lá foi o filho dela, o Armindo, buscar o ferro e fomos os dois de carro até à rádio. Fomos os primeiros a chegar e foi assim que eu ganhei um almoço para a dona Júlia e a dona Xica», conta a produtora da Comercial, de sorriso na voz.
O percurso profissional
Patrícia Pereira formou-se em Ciências da Comunicação quase certa de que a rádio e o entretenimento seriam o seu rumo, expetativas que se confirmaram. «Sempre achei que não tinha muita fibra para essas coisas da informação e depois, já na faculdade, apaixonei-me pela produção de rádio, pela forma de pensar conteúdos», explica. Quando acabou o curso teve «a sorte», como lhe chama, de «ser chamada para a Media Capital Rádios por uma pessoa com quem tinha trabalhado numa rádio jovem, chamada FM Rádios, mas não entrou logo para as funções que hoje exerce. «Entrei na altura em que se democratizou a ideia que todos os órgãos de comunicação tinham que ter um site, e por isso, entrei no departamento online», conta. Depois disso, as experiências foram-se acumulando e passou por várias rádios do grupo na produção de programas variados. Foi em 2005 que foi chamada para a Rádio Comercial, onde começou por fazer o programa da manhã durante seis anos. Em abril, fará seis anos que passou para o programa da tarde.
Mas afinal, qual é a importância do papel de um produtor na mecânica da rádio, perguntamos nós? «Um produtor ajuda os animadores a brilharem ao mais alto nível, pensa os conteúdos. Tem que estar atento ao que se passa no mundo, às efemérides que estão para chegar, ao que as pessoas gostariam de ouvir, os temas que podem suscitar discussões no trabalho ou em casa, tem que pensar o programa de rádio enquanto forma de entretenimento», salienta. Depois, essa informação é passada aos animadores, que também fazem a sua seleção, com o propósito máximo de «entreter as pessoas», explica. Patrícia Pereira considera que a «simbiose entre estas duas funções» é preponderante para que todos os dias «se esteja ao mais alto nível».
A produtora com raízes familiares nas Pedreiras, considera que atualmente os ouvintes «procuram uma rádio pela música, procuram a rádio que os ajuda a enfrentar o stress da manhã e o stress da tarde e uma rádio que lhes faça companhia durante o dia de trabalho». Aqui, frisa, «já são três rádios diferentes»: «De manhã, tens que ter uma rádio animada, com personalidades fortes que te façam esquecer o trânsito infernal, uma forma de arranjares ânimo para entrares no dia e depois também para terminares. Ao longo do dia, as pessoas precisam de alguém que lhes faça companhia». Atualmente, Patrícia, faz o programa da tarde e vê neste horário a grande responsabilidade de trazer «alento às pessoas»: «Muitas vezes, quando uma pessoa sai do trabalho apenas está a sair do primeiro turno, depois em casa tem todo um segundo a começar, é jantar, cuidar dos filhos e dos trabalhos de casa, é a casa para arrumar, é preciso ter algum ânimo para entrar nesse segundo turno e é nesse sentido que trabalhamos». Hoje, Patrícia Pereira está feliz na Rádio Comercial, não há dúvidas, e se encontrasse a “miúda” das Pedreiras que descobriu a rádio na companhia da avó Xica, de certo lhe diria: «Estou realizada».