A mudança foi como da noite para o dia, garantem-nos, e está a deixar algumas pessoas apreensivas. Há cerca de seis meses, a pedreira do Penedo Grande, no Alqueidão da Serra, foi adquirida por um grupo empresarial sediado em Rio Maior, e pouco tempo depois começaram a ser sentidas as primeiras mudanças. «A britadeira está a trabalhar 500%, mais do que com a anterior gerência, e os efeitos disso já são visíveis: há mais camiões e de maiores dimensões sempre em movimento, e há muito mais pó no ar», explica um dos moradores do Alqueidão da Serra.
«A pedreira está a avançar por aí além em direção a sul e a serra já começa a ficar toda esventrada e há uma quantidade incrível de pó que cai sobre os terrenos cobrindo as culturas com um manto de pó branco», prossegue o morador explicando que a sua principal preocupação e a de outras pessoas que cultivam terrenos nas imediações «é, precisamente, com o excesso de pó e as consequências que daí poderão resultar num dos vales mais férteis da freguesia».
«São terrenos que produzem quase tudo e com pouca água, desde batata a tomate e grão, passando por cebola e feijão para verde e seco, e agora estamos com receio de vir a perder esta verdadeira riqueza», reforça o morador, que pediu para não ser identificado.
«A maioria de nós é reformada e tem ali um excelente passatempo. Andamos ocupados e vamos convivendo uns com os outros. Há gente do Alqueidão mas também das Alcanadas e de outros lugares e o que produzimos é para consumo próprio», diz, deixando claro que nada os move «contra a empresa» existindo, apenas, da sua parte, aquilo que consideram ser «uma preocupação legítima».
«Desde que a empresa resolva o problema do pó e explore apenas na área licenciada e que isso mesmo seja verificado pelas entidades competentes, nada há a opor. É claro que no meu caso me custa ver uma serra tão bonita e onde ainda há imensa floresta a ser esventrada, mas se as pessoas estiverem a trabalhar dentro da lei, pouco ou nada podemos fazer», prossegue.
Se essa questão alguma vez se colocar, o morador espera «que as entidades oficiais chumbem qualquer pedido de alargamento» pelos motivos já evocados e por achar que em termos económicos pouco ou nada traz para o Alqueidão da Serra, «que nem sequer tem pessoas da terra lá a trabalhar».
Para já, à preocupação com o alegado excesso de pó, junta-se uma outra: «Há cada vez mais pessoas a dizer que o proprietário quer comprar todos os terrenos ali à volta e eu e outros temos pena se nos obrigam a vender aquilo porque depois deixamos de ter para onde ir. Vou lá umas duas vezes por semana, corto, pulverizo, planto e colho. Não me dá lucro mas é um passatempo agradável e saudável», sublinha.
O receio não apareceu do habitual “diz que disse”, garante, mas pelo facto de um dia para o outro terem surgido no chão «umas estranhas marcas azuis que ninguém sabe o que significam e quem as fez mas que alguns acham que pode servir para a delimitação da área que a empresa quer explorar».
“Empresa já tem solução”
Ouvidas as queixas e receios da parte de algumas das pessoas que têm terrenos nas imediações da pedreira, O Portomosense procurou também registar a posição da Junta de Freguesia do Alqueidão da Serra sobre o assunto, bem como a própria empresa visada.
Da parte da Junta, o seu presidente, Filipe Baptista, garante que a autarquia local está a par das preocupações e delas já deu conta à empresa. «Penso que temos de dar o benefício da dúvida ao empresário. O senhor comprou uma unidade que, face às novas exigências legais e de mercado, está obsoleta. Tem vindo a fazer melhoramentos e possui um projeto de alguma dimensão que quer pôr em prática, mas, claro, isto não se consegue de um dia para o outro», afirma o autarca.
No entender de Filipe Baptista «é natural que agora haja mais pó porque a produção é muito maior que aquela que existia nos últimos anos», mas nada que seja, se calhar, muito diferente, daquilo que acontecia há mais de 20 anos, nos tempos áureos daquela unidade extrativa.
«A empresa está a respeitar a área que está licenciada, não houve alargamento. Relativamente ao problema do pó, garante-nos que está a tomar medidas e empenhada no encontrar de uma solução definitiva, por isso, penso que agora tempos de dar tempo ao tempo» conclui, lembrando também que a fiscalização dessa e de outras situações não cabe à Junta mas às entidades licenciadoras.
Contactada também a entidade explorada da pedreira, foi-nos dito que «a empresa já tem uma solução para garantir a laboração sem pó», tendo, entretanto, dado «todos os esclarecimentos necessários às entidades competentes», nomeadamente, à Junta de Freguesia do Alqueidão da Serra e à entidade licenciadora, informando quais «as medidas tomadas para minimizar estes impactos e para a resolução dos mesmos».
A pedreira do Penedo Grande iniciou a sua laboração nos anos 1970. Nos últimos anos, segundo várias fontes, a sua atividade estava reduzida ao mínimo ou, pelo menos, bem longe dos tempos áureos. Nesta unidade são produzidos inertes para a construção civil.
Foto| Jéssica Moás de Sá