Ivone Borges era «católica praticante», José Olivença «não era católico nem tinha qualquer “preferência” religiosa». Mas um «chamamento» levou a que tudo se alterasse e o casal, natural de Lisboa, acabou por se casar, pela igreja, durante uma peregrinação. A igreja em questão está localizada nas Pedreiras, localidade do concelho de Porto de Mós. Um casamento “fora da caixa” que se revelou «um dos dias mais intensos» da vida do casal.
Tudo começou «há cerca de seis anos» quando um conjunto de fatores levou a que José Olivença, na altura ateu, fosse a uma missa. «O meu filho mais velho entrou para a catequese e colocava muitas questões sobre Jesus. Nessa altura saiu também o filme religioso com o ator português, Diogo Morgado, que me mostrou outras partes da Bíblia. Além disso foi na Páscoa, a minha sogra fazia e anos e eu achei que era importante ir à missa», conta. Mal sabia que este “despertar”, trazia algo ainda maior destinado. Nessa missa, o padre lançou um repto aos casais presentes: partirem na experiência da peregrinação em casal. Estas são peregrinações, como o próprio nome indica, «feitas em casal e só se pode ir em casal», permitindo viver a «fé» a dois. É também, explica Ivone Borges, «um momento de partilha com os outros casais» onde são acompanhados por um padre e onde são «desafiados a pensar sobre vários temas».
A ideia sorriu a José Olivença, que sentia falta de passar tempo com a mulher, «isolados do reboliço dos miúdos e do trabalho» e por saber que era algo de que Ivone Borges gostava, lançou-lhe o convite. Essa foi apenas a primeira peregrinação do casal, que se repetiu ano após ano, mas José sentiu desde a primeira «uma descarga emocional muito grande», como se estivesse a ser «amparado por Deus e pelo grupo» de casais com quem seguia em peregrinação. Este sentimento foi-se alimentando até se tornar «em fé» e atualmente José é um católico praticante.
Da fé ao casamento
Foi o mesmo padre que lançou pela primeira vez o repto para que fizessem as peregrinações, que questionou: «Por que não se casam pela igreja?». A resposta do casal foi simples, José Olivença já tinha sido casado e por isso, segundo as leis católicas, não poderia voltar a casar. No entanto, o matrimónio tinha durado apenas oito meses e por sugestão do pároco, José pediu a anulação do casamento devido à sua curta duração. A anulação foi aceite depois de um processo «de um ano e pouco» e de ter frequentado «catequese para adultos». Finalmente estava apto para pedir a sua futura mulher em casamento e assim fez.
Foi nesse momento que o casal começou a equacionar onde se casariam. «Chegámos à brilhante conclusão que só fazia sentido casar em peregrinação. Foi ali que me encontrei com a fé e foi ali que nos reencontrámos de forma diferente enquanto casal», frisa José Olivença. O matrimónio realizar-se nas Pedreiras foi uma questão logística, explica Ivone Borges: «Todos os dias em peregrinação temos uma missa e para nós termos tempo para viver a experiência, até porque levámos alguns convidados, convinha que não fosse no final do dia porque a peregrinação acontece em dias de trabalho e a deslocação não era fácil. Naquele ano, Pedreiras era o dia anterior a Fátima e a missa foi às 12 horas. Era perfeito para a celebração».
Este casamento envolveu pouca preparação por parte do casal. A única coisa que escolheram foi a cantora que cantou à capela, cânticos escolhidos por eles.
Substituíram as t-shirts e os ténis por outra roupa, «mas tudo muito simples». «Houve vestido de noiva, um vestido muito singelo», conta Ivone. E embora a lista de convidados fosse curta, apenas alguns familiares mais próximos como pais, irmãos e sobrinhos, houve muito mais envolvência do que se esperava. A ideia inicial, frisa José, era que o casamento acontecesse sem afetar a «dinâmica da peregrinação», mas afetou de uma forma positiva. A população de Pedreiras «envolveu-se de uma forma muito intensa», quando perceberam que a celebração se ia realizar. Houve até quem oferecesse casa a Ivone Borges para se vestir, «porque tinha que ser surpresa» para o noivo.
Nesse dia até o «bolo da peregrinação parecia um bolo de noiva», como se de um alinhamento cósmico se tratasse. Na boda houve direito a pastéis de bacalhau e arroz de tomate e foi aqui, que os outros casais em peregrinação, que não assistiram à celebração religiosa, viveram o momento com o casal casado de fresco. «Às tantas, estes peregrinos que fizeram parte da nossa história, que conversaram com o meu marido, que o influenciaram, eles também são a nossa família», salienta Ivone, que, com o marido, acredita que o facto de este casamento ter afetado a peregrinação acabou por ser bom, porque todas aquelas pessoas «viveram um momento de cumplicidade». Hoje em dia, Ivone Borges agradece o facto do José não ter tido logo disponibilidade para casar porque certamente um casamento sem estas circunstâncias «não teria a mesma intensidade e não seria vivido em uníssono» como foi, sublinha.