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Plano de combate ao insucesso escolar com resultados positivos

7 Fevereiro 2023
Catarina Correia Martins

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Catarina Correia Martins

7 Fev, 2023

Foi, no passado dia 26 de janeiro, apresentado no Museu de Leiria, o Relatório Técnico de intervenção das Equipas Multidisciplinares no âmbito do Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar (PIICIE) da Região de Leiria. O documento foi elaborado por uma equipa de investigadores da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, que presta «consultadoria especializada em serviços educativos» ao projeto; tendo os resultados sido apresentados na sessão por José Tomás da Silva, um dos investigadores da equipa.

Os resultados finais apontam para que, no pré-escolar, se tenha conseguido «mitigar as dificuldades mais severas que existiam» e, no primeiro ciclo, tenham havido «melhorias nítidas». Ao nível do ensino pré-escolar, houve uma diminuição do número total de crianças com dificuldades em duas, três ou mais de três áreas de conteúdo; sendo as áreas mais problemáticas a Expressão e Comunicação do Domínio da Linguagem Oral e Abordagem à Escrita. Já no que ao primeiro ciclo diz respeito, houve uma redução de 17,48% no número de alunos com notas “insuficiente”. O relatório dá conta de que, por exemplo, nas áreas de Matemática e Português, consideradas fundamentais, o número de crianças com dificuldades desceu 107 e 111%, respetivamente. José Tomás da Silva revelou também que, «no momento em que ingressaram no projeto, estavam 90 alunos em risco de retenção [no primeiro período]», sendo que, no final do ano, apenas 31 ficaram efetivamente retidos (chumbaram). «Não podemos ficar satisfeitos com estes resultados, ficaríamos totalmente satisfeitos se zero tivessem ficado retidas. Mas as causas do insucesso escolar são múltiplas e complexas e as crianças que chegam ao PIICIE são aquelas que têm mais dificuldades, [por isso] conseguir uma taxa de variação negativa de mais de 65% é assinalável», afirmou.

O professor associado frisou que «os resultados são muito bons, mas ainda há muito trabalho a fazer, especialmente porque há diferenças de velocidade entre os municípios, nem todos evoluem da mesma forma». «E mais importante, tudo muda e nada está garantido para sempre. Apesar das importantes batalhas ganhas, a guerra está longe de terminar. Assim, é importante manter e reforçar o investimento em programas como o PIICIE que, em última instância, se guiam pelo objetivo de que nenhuma criança deve ficar para trás», concluiu.

Os números, os dados, os resultados

Este programa mobiliza um total de 11 813 crianças, pertencentes a 172 estabelecimentos de ensino (pré-escolar e primeiro ciclo), que compõem 20 agrupamentos de escolas dos 10 municípios que integram a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL). Implementado desde 2017, no ano letivo transato, verificou-se um «acréscimo relativamente ao anterior de cerca de dois mil alunos», um facto que se justifica pela mais adesão da Marinha Grande, que apenas passou a integrar o projeto no segundo período do ano 2021-22. Para implementar o projeto, estão no terreno cerca de 40 técnicos especializados em diversas áreas, consoante a necessidade das escolas. No caso concreto de Porto de Mós, estão em causa 1 146 alunos, de 22 estabelecimentos, que vêm sendo apoiados por três técnicos, que trabalham a tempo inteiro no projeto.

Ao longo do ano letivo passado, foram sinalizadas 750 crianças, na sua maioria, no primeiro período do ano, sendo a maior parte crianças que frequentam o 2.º ano. Foram efetuados 1 532 diagnósticos – número que não corresponde ao número de crianças, já que cada uma pode receber diagnósticos em mais do que uma área. «Não podemos esperar que as equipas consigam dar resposta, no momento, a todas as crianças, temos então 209 diagnósticos sem apoio. Num projeto com a envergadura do PIICIE seria inusitado pensar que todas as crianças diagnosticadas e sinalizadas tivessem respostas; seria bom que assim fosse, mas nem todas podem ser atendidas no momento», esclareceu José Tomás da Silva, que ressalvou, no entanto, que «comparativamente com o primeiro relatório» feito, relativo ao ano letivo anterior, «houve um decréscimo generalizado nas cifras», concluiu. Foram ainda efetuados 275 encaminhamentos de crianças para outras respostas fora do programa. «As equipas, apesar de serem multidisciplinares, não tocam todos os instrumentos de uma orquestra e, por isso, existe o encaminhamento», explicou. José Tomás da Silva referiu ainda que, entre as crianças acompanhadas, ao longo do ano, houve 177 “altas” e 139 “vigilâncias”.

CIMRL e CCDRC apostadas na continuidade do projeto

Na abertura da sessão, o presidente da Câmara de Porto de Mós, Jorge Vala, no papel de vice-presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL), recordou o início da implementação deste plano: «Olhando para aquilo que era a realidade do nosso território, a CIMRL não viu este plano como algo de muito determinante. Tínhamos níveis de sucesso escolar bastante interessantes em toda a região e a questão que se colocou entre os autarcas era se valeria a pena o investimento naquela pequena escala. Houve quem defendesse que nem que houvesse só um [aluno nessa situação] valeria a pena. O projeto tornou-se, e já era com certeza, muito mais do que o combate ao insucesso escolar. Aquilo que entendemos ao longo do tempo é que mais importante do que combater o insucesso, é promover a qualidade do sucesso», disse. Jorge Vala considera que foi possível «criar um projeto de verdadeira coesão na região de Leiria», num «trabalho comum, que tem por base um princípio de ligação entre todas as equipas de todos os concelhos». Esta «verdadeira interação potencia não apenas o sucesso escolar, mas a uniformização deste sucesso em toda a região», frisou.

Jorge Vala garantiu que «a CIMRL tem mapeado, para o próximo quadro de apoio, o PIICIE». Na sessão esteve também Jorge Brandão, da CCRDC, que afirmou, da mesma forma, a existência de «verbas para dar continuidade a estes projetos educativos». «A comissão europeia pede aos países para continuarem a trabalhar na redução do abandono escolar, portanto, todo o trabalho que estiver focado nesta dimensão é prioritário», frisou.

Jorge Brandão deixou, no entanto, um alerta. «Estamos a apoiar projetos, que têm um início e um fim, e haverá um momento em que deixará de haver financiamento. A questão que temos que colocar é se estamos disponíveis, se temos interesse em que este tipo de dinâmicas e de apoios façam parte da prática corrente, estrutural das escolas, dos agrupamentos, dos municípios, da CIM. É uma reflexão que é importante ser feita», concluiu.

Fotos | Catarina Correia Martins

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