A Casa da Cultura de Mira de Aire acolheu no passado dia 11, o 15.º Congresso Nacional Radiodifusão, organizado pela Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR), no primeiro painel, cujo mote era Rádio e Novos Territórios do Podcast, o subdiretor da Rádio Observador, Ricardo Conceição, lançou a seguinte frase, logo a iniciar a sua intervenção: «Acho que os podcasts vão salvar as nossas rádios». Depois do investigador da Obercom, Miguel Paisana, ter apresentado um estudo com resultados muito animadores para o crescimento deste formato em Portugal, Ricardo Conceição reforçou que «disponibilizar toda a emissão em podcast, “cortada às fatias”, é claramente uma lógica vencedora porque permite às pessoas ouvirem a rádio quando querem, onde querem, à velocidade que querem e toda a gente pode ter acesso àquilo que passa na rádio», disse, referindo-se à opção tomada pela rádio que gere.
Sem deixar nada por dizer, Ricardo Conceição foi direto ao assunto: «Os podcasts dão dinheiro?». E respondeu logo de seguida: «Acho que vão dar, mas ainda não dão, pelo menos não tanto como todos gostariam», afirmou. O subdiretor da Rádio Observador explicou que, em Portugal, o mercado é ainda «muito pequeno e muito desinteressado quando comparado, por exemplo, com o mercado norte americano, onde há lista de espera para fazer publicidade em podcasts». «Em Portugal isso não existe, só agora é que as marcas estão a perceber que há uma coisa chamada podcast», referiu. Além disso, «a monetização automática que decorre das plataformas não consegue, só por si, financiar a operação. Essa rentabilidade virá de patrocínios direitos no podcast», considera.
Ricardo Conceição adiantou que «os estudos indicam que estamos predispostos a ouvir os anúncios» e que «a maioria das pessoas não passa à frente», quando eles surgem “dentro” de um podcast de que gostamos e que escolhemos ouvir. Como se explica este fenómeno? É relativamente simples: «A publicidade é feita, de propósito para aquele conteúdo. Há um tom na conversa, há uma forma que aquele conteúdo tem. O spot deve ser feito no mesmo tom e preferencialmente pelo anfitrião do programa. Aparentemente, segundo os estudos, isto funciona», diz. E é por isto que considera que os podcasts podem vir a salvar as rádios, porque podem vir a ser uma «boa forma de financiar as rádios, já que é uma forma boa e eficaz de fazer publicidade». «Os anunciantes em Portugal ainda não perceberam bem esta realidade, ainda não conseguiram entender que o podcast tem uma escuta voluntária e a capacidade de fazer passar a mensagem deles através deste tipo de conteúdos, mas quero acreditar que isso está a mudar», concluiu.
Do painel fez ainda parte a docente e investigadora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Ana Isabel Reis, numa conversa moderada pelo diretor da rádio Hiper FM, Ricardo Conceição.