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Por trilhos nunca antes caminhados

27 Abril 2021
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

27 Abr, 2021

Lurdes Fiel e Susana Repolho não são atletas de alta competição nem procuram atingir tempos recorde, caminham por amor à Natureza, para se sentirem mais ativas e poderem libertar o stress do dia-a-dia. Sem outras distrações permitidas, em razão das regras impostas pela Direção-Geral da Saúde, a forma como encaram as caminhadas mudou de há um ano para cá, tentando agora caminhar sempre por caminhos, estradas e trilhos desconhecidos. A descoberta da Natureza é um dos principais focos destes dois testemunhos, que refletem a vontade de muitos outros.

«A partir do momento em que se começou a dizer que caminhar fazia muito bem ao coração, ao corpo e à alma, eu comecei a caminhar», conta Lurdes Fiel de 68 anos, natural da Ribeira de Cima. Já lá vão alguns anos desde que começou a ganhar este hábito e agora caminha «todos os dias, faça chuva ou faça sol». Caminha entre uma a duas horas, normalmente com a companhia de uma amiga ou duas. «Gosto muito de caminhar pela Natureza, de ir para sítios onde há rios e serras», explica. Uma coisa Lurdes Fiel pode garantir: desde que começou a caminhar, é uma pessoa nova. «Senti melhorias em todos os aspetos, tinha tendência para o colesterol elevado, tensões altas e com as caminhadas sinto-me mesmo bem», afirma. «Tenho 68 anos e não tomo nenhum medicamento, talvez seja por isto», diz, sorrindo.

Embora caminhar já fizesse parte da rotina de Lurdes Fiel, a verdade é que a pandemia trouxe uma nova forma de encarar esta atividade, como um dos únicos escapes à realidade. «Comecei a caminhar para outros sítios, comecei a ver também no Facebook colegas minhas a partilharem trilhos para os quais não tinha hábito de ir, porque com a pandemia e depois também por já estar reformada, acabei por ficar com mais tempo disponível para ir para outros lugares», refere. A cada dia, um local: «Sempre um sítio diferente, um dia vou pelo lado do Figueiredo, outro dia vou ali para o lado da Central, outras vezes pela Bezerra. No outro dia fui descobrir uma gruta na Serra de Santo António», conta. Caminhar é sempre igual em qualquer lado? Para Lurdes Fiel, nem por isso. «O sítio faz diferença, ainda no outro dia viemos no meio dos carvalhos, só se ouvia o chilrear dos pássaros, era um silêncio tão bom e mesmo o barulho das árvores parecia água a correr, faz tão bem à cabeça», confessa. Não foram só os sítios para onde caminha que mudaram, as caras com quem se vai cruzando também: «Há muito mais pessoas a caminhar. Vejo pessoas a caminhar que nunca via, porque lá está, com a pandemia as pessoas sentem falta de sair».

“Continuei sempre a trabalhar [na pandemia] e precisava de desanuviar”

Susana Repolho tem 47 anos e vive no Livramento, mas é natural de um concelho vizinho. Todos os trilhos são, por isso, uma novidade, embora já estivesse habituada a fazer alguns dos mais “clássicos”: «Quem começa a caminhar, começa por onde? Pela Fórnea e pela Ecopista». Estes locais são conhecidos de todos os portomosenses, mas foi também em trilhos diferentes que se começou a aventurar. «Eu de vez em quando já fazia algumas caminhadas, nomeadamente no Tokandar ou num grupo que temos do ballet que organizava umas caminhadas para angariar dinheiro. Mas no ano passado, com a pandemia, comecei a ir ao fim de semana com a minha filha e com outra amiga e a filha dela, até porque as garotas estavam habituadas a ter atividades e escola e sentiam falta. Inicialmente íamos só ao domingo de manhã», conta. Embora ache a «Ecopista agradável de ver», para Susana Repolho acaba por ser um «percurso muito monótono, sempre a mesma estrada». Os objetivos também aumentaram em termos de exigência: «Eu e uma amiga começámos a tentar fazer umas corridas porque queríamos participar numa mini maratona e por isso começámos a caminhar e a correr durante a semana e foi a partir daí que fomos à descoberta dos percursos pedestres marcados pelo Município», lembra.

Como sempre trabalhou durante a pandemia no atendimento ao público, Susana Repolho sentia mesmo «falta de desanuviar», mas tinha de ser «longe da vila, dos carros e do barulho». «Ao domingo vamos para o meio da serra e quando chegamos à vila parece que já nos faz diferença o barulho dos carros, o cheiro, as pessoas porque na serra estamos sem nada nem ninguém, é muito bom», refere. Também segue a filosofia de um trilho diferente a cada caminhada e de uma caminhada por semana passou a fazer «três ou quatro», mas é principalmente ao domingo, com mais tempo, que se deixa levar à aventura dos novos trilhos. Não tem facilidade em eleger a sua zona predileta, mas destaca os percursos de «Alcaria, Alvados, direito ao Chão das Pias». Apesar de reconhecer que há muito mais pessoas a caminhar, Susana Repolho deixa um incentivo para as que ainda não se aventuraram: «Há pessoas que dizem que não conseguem caminhar ou correr, eu também não conseguia no início, mas depois com o tempo vamos conseguido cada vez mais. É preciso é experimentar e vão descobrir caminhos que nunca imaginaram existirem».

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