Há uma geração que vive sem tempo, sem energia e sem dinheiro para investir ad aeternum enquanto procura a sua vocação
Quantos de nós em crianças não tivemos já o sonho de nos tornarmos futebolistas, polícias, bombeiros, astronautas, professores ou até mesmo bailarinos? E quantos de nós não chegámos ao fim da nossa adolescência sem saber minimamente para onde queríamos ir? O mercado de trabalho é vasto e há, em teoria, opções para todos os gostos, mas quando chega a “hora H” somos socialmente pressionados a tomar uma decisão que, em grande parte dos casos, vai definir, para o bem ou para o mal, o rumo das nossas vidas.
É por considerar esta uma fase de crucial importância que me tornei a favor da política da “porta aberta”. Esta política fez-me falta enquanto estudante e ainda mais falta fez a algumas das pessoas com quem comentei este assunto. Quando somos jovens, sentimos que podemos fazer tudo e que o céu é o limite, mas na hora da escolha patinamos por não sabermos sequer aquilo que gostamos, quanto mais aquilo que nem nos imaginamos a fazer profissionalmente…
É certo e sabido que enquanto adolescentes temos energia e tempo, mas não temos dinheiro, e que em “velhos” é suposto termos dinheiro e tempo, mas não energia. E no meio? No meio vive uma geração que enfrenta esta dura realidade sem tempo, sem energia e sem dinheiro para investir ad aeternum enquanto procura a sua vocação. Daí a política. Daí a “porta aberta”.
Ter a ousadia de pedir para visitar um qualquer local de trabalho pode parecer fácil para alguns, mas não o é para todos. “O ‘não’ está sempre garantido”, também se diz, mas nós, que andamos pela vida adulta há algum tempo, temos o dever moral de facilitar um pouco a tarefa daqueles que vão cuidar “do amanhã” e abrir-lhes as portas dos nossos empregos, mostrando-lhes o que fazemos, como e porquê. Talvez essas experiências lhes possam dar algum “mundo”, quanto mais não seja para que se arredem da ideia certas opções. Antes do jornalismo puro e duro fizeram-me falta os microfones, as câmeras e o ambiente de redação. Gosto de tudo. Tive sorte. Mas com que “cara” diz um puto aos pais que quer sair do curso a meio ou que abandona a área para a qual tanto estudou por se aperceber que afinal não está à vontade com o ambiente que se vive in locco? O “papel” é muito bonito, todos sabemos, mas na prática às vezes as coisas são um pouco diferentes. Se mantivermos as nossas portas abertas, talvez o amanhã fique um pouco mais bem entregue.