Erigido em 1999 com o objetivo de se tornar numa base de turismo e desporto de natureza por ocasião da vinda do Campeonato da Europa de BTT nas vertentes de downhill e cross-country ao nosso concelho, o antigo Centro de Atividades ao Ar Livre de Alvados nunca chegou a cumprir o seu principal propósito. Ao contrário do que era previsto, o processo de construção alongou-se e a última pedra não foi assentada a tempo desta prova de índole internacional. Só depois do Europeu passou a ser utilizado por movimentos associativistas da região de Alvados, mas duas décadas depois as instalações foram renovadas e ganharam um novo sentido: tornaram-se na «porta de entrada do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC)», um objetivo assumido pelo atual executivo municipal.
Integrada no último dia da programação do Festival Viver, que este ano teve lugar precisamente em Alvados, a cerimónia de inauguração deste novo Centro Interpretativo das Atividades de Natureza (CIAN) contou com a presença de diversas figuras do espectro socioeconómico e político não só do concelho como também dos arredores. A presidente da União de Freguesias de Alvados e Alcaria, Sandra Martins, foi a primeira a tomar da palavra com um discurso alicerçado na ideia de “recomeço”: «Este espaço tem uma história, mas não teve ainda, se calhar, os dias para os quais foi realmente construído e portanto acho que hoje não vale a pena falarmos do passado. Estamos aqui para falar do futuro, de recomeços, e um recomeço nesta casa passa pela aposta que o Município depositou e ao qual eu agradeço, porque acho que estamos numa zona privilegiada, com um turismo de natureza muito privilegiado». Neste sentido, a autarca aproveitou para salientar as oportunidades que o território oferece em termos turísticos: «Temos tudo aqui, mas é importante que o turista, quando chega, tenha algum conhecimento do que pode ver e desfrutar, e também é importante que, quando abala, que também possa levar mais alguma informação específica, nomeadamente sobre a fauna e a flora, e tudo o que envolve este espaço», sublinhou.
Pela mesma linha de pensamento regeu-se também o presidente do Turismo Centro de Portugal. Socorrendo-se de dados estatísticos que indicam a crescente procura pelo turismo de natureza (setor turístico teve um peso de 16% no PIB nacional relativo a 2022), Rui Almeida apontou para a necessidade de continuar a explorar-se este tipo de oportunidades e considerou imperativo contornar determinados obstáculos: «Um dos desafios que temos neste momento é precisamente fazer com que o turismo de natureza se estenda por todo o território. Existe sempre aquela tendência de procurar sol e mar, procurar o litoral, o turismo das praias […] e é por isso que hoje estamos aqui a inaugurar este espaço de excelência, um espaço que também enquadra um dos novos desafios do Turismo, que é a digitalização, que é o facto de nós quando vamos a qualquer lado querermos informação. Este espaço também vai trazer isso», completou.
Porto de Mós, um “concelho protegido”
Em representação do secretário de Estado do Ambiente, Hugo Polido Pires, o diretor regional do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), Rui Pombo, congratulou o Município pelo «trabalho desenvolvido em prol da promoção e proteção da área protegida que preenche mais de 50% do território», o que faz de Porto de Mós, como considerou, «um concelho protegido» e que tem tido responsáveis políticos que «sempre souberam percecionar as mais-valias que esta área pode trazer em termos económicos». Rui Pombo aludiu ainda, durante a sua intervenção, ao programa de cogestão do PNSAC, que integra sete concelhos com os quais lembrou estar a trabalhar «de forma muito próxima» e reforçou aos presentes que esta requalificação – que teve um custo de 149.800,41 euros e que é parte integrante da operação Rede de Trilhos e Espaços de Visitação do concelho de Porto de Mós, no âmbito do Programa Operacional Regional do Centro – Centro 2020 – «é a prova do dinamismo que esta Câmara Municipal consegue encetar em todos os processos».
Logo após os três primeiros discursos, seguiu-se um momento solene no qual foi rubricado entre o Município e a Trilho do Castelejo – Associação de Aventura de Alvados um documento que confirma a cedência de um espaço dentro das instalações para a dinamização de atividades de natureza desportiva.
Seguiu-se, por fim, a subida ao palanque do presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, Jorge Vala, que aproveitou a oportunidade para “recuar” quatro décadas no tempo, altura em que «alguém promoveu que este território fantástico chegasse aos dias de hoje conservado e é na parte da conservação que nós temos também que nos centrar», advertiu. «É por isso que este é um projeto integrado na valorização da visitação, sempre na perspetiva de podermos dar aos nossos visitantes aquilo que está conservado e que de melhor temos neste território», disse. Para levar a cabo este objetivo, Jorge Vala explicou ainda que o Município não trabalhou sozinho, tendo sempre por base um trabalho conjunto com as restantes autarquias responsáveis por preservar o PNSAC através de um plano cujos princípios considera essenciais para garantir a valorização e a conservação de «um território que não tem fronteiras» e onde é possível encontrar múltiplos geossítios, como é o caso, exemplificou, da Fórnea, da Praia Jurássica, das Lagoas do Arrimal, das grutas, do Algar do Pena ou o Vale de Meios, dos Poljes de Mira-Minde, das salinas de Rio Maior, entre muitos outros.
Na reta final da sua intervenção, Jorge Vala adiantou que todo o património do PNSAC será eternizado em livro através de uma parceria com a Associação Vertigem. Mas, para além desta iniciativa, há mais planos. O autarca confirmou que está em marcha um projeto de birdwatching e que é intuito do Município envolver-se «em tudo o que tem a ver com estudos e preservação de espécies em vias de extinção no território do Parque Natural, como é, por exemplo, o caso da gralha de bico vermelho».
Quanto às novas instalações do Centro Interpretativo, Jorge Vala considera-as um espaço «para todos aqueles que queiram continuar a olhar para este território como um território de natureza, que importa continuar a preservar e que pode ser visitado em todos os seus cantos, onde nada fica escondido», rematou.
Foto | Luís Vieria Cruz