As paróquias de Porto de Mós e Alqueidão da Serra contam desde o dia 6 de outubro com um novo pároco. Trata-se do padre Rui Acácio Amado Ribeiro, que até essa data esteve à frente da paróquia dos Marrazes (Leiria). A mudança ocorre no âmbito da reorganização pastoral em curso na Diocese de Leiria-Fátima e que passa por juntar as 73 paróquias existentes em 17 Unidades Pastorais, uma novidade a nível diocesano.
O novo modelo de organização, numa primeira fase, fica a funcionar em pleno apenas nas paróquias de Azoia, Parceiros, Marrazes e Barosa (agora reunidas na Unidade Pastoral de Marrazes), e nas de Alburitel, Nossa Senhora das Misericórdias, Nossa Senhora da Piedade e Seiça (que integram a Unidade Pastoral de Ourém). Ora, dois dos sacerdotes chamados a assumir esse desafio foram os até há pouco párocos de Porto de Mós, Alqueidão da Serra e Alcaria, respetivamente, José Alves e Vítor Mira, pelo que foram substituídos por Rui Acácio Ribeiro.
Por sua vez, a substituição já foi feita a contar com a efetivação plena, num futuro próximo, da Unidade Pastoral de Porto de Mós que irá juntar Porto de Mós, Alqueidão da Serra, Serro Ventoso, Mendiga, Arrimal e São Bento, tendo ao seu serviço três padres. Ainda fruto destas mudanças, Alcaria tem agora um administrador paroquial, o padre Luís Manuel Rodrigues Ferreira, da congregação dos Missionários Monfortinos, que acumula, para já, com as paróquias de São Bento, Mira de Aire e Alvados.
A despedida de José Alves e Vítor Mira foi, salvo um ou outro pormenor, idêntica entre si, e pontuada por um ambiente de emoção e de festa. Tanto na última missa como no convívio que se lhe seguiu, as comunidades manifestaram a ambos a gratidão e apreço pelo serviço prestado, desejando-lhe, ainda, as maiores felicidades para o novo desafio que agora abraçam. Cerca de 15 dias depois, foram muitos os que fizeram questão de participar nas missas no decorrer das quais ambos os padres tomaram posse formal das suas novas paróquias.
E foi também em festa que o padre Rui Acácio Ribeiro foi recebido. As igrejas encheram e as missas tiveram a solenidade própria dos grandes momentos. Durante as cerimónias, houve vários momentos de grande simbolismo como, por exemplo, os do juramento feito pelo novo padre, a entrega das chaves das igrejas ou a oferta de um cabaz com produtos locais em sinal de boas vindas.
A convite do nosso jornal, Rui Acácio Ribeiro apresenta-se, a seguir, aos nossos leitores, enquanto que José Alves e Vítor Mira falam da experiência que viveram nas paróquias que estiveram a seu cargo em termos pastorais.
Pe. Rui Acácio Ribeiro
O meu nome é Rui Acácio Amado Ribeiro. Nasci em 23 de junho de 1967 (véspera de S. João, deveria chamar-me João). Nasci em França, e sou o segundo de três filhos que minha mãe teve. Sim minha mãe, porque ela morreu quando eu tinha oito anos e meu pai casou segunda vez. Desse casamento nasceu mais um rapaz. Assim somos quatro filhos do mesmo pai, mas não da mesma mãe. Ainda assim não fazemos distinção e somos todos irmãos, nas mesmas condições. A minha terra é Moinhos de Carvide (próximo de Monte Real e da Praia da Vieira que é o meu refúgio).
Em Portugal desde os seis, percorri a escolaridade normal. Entretanto meu pai abriu uma carpintaria e com isso abriu portas para o meu sonho de menino. Eu seria carpinteiro. Nas férias ia com ele trabalhar e os meus sonhos fixavam-se naquele trabalho. No entanto, terminada a escolaridade obrigatória, surgiu o problema: para trabalhar era novo (teria que ter 14 anos) para estudar não havia muitas opções e esse não era de todo o meu desejo. Foi neste impasse que surgiu a ideia de ir para o Seminário. Eu não sabia o que era nem nunca tinha ido lá. Mas um colega meu decidiu ir e apenas queria ter companhia. E foi assim que ingressei no Seminário, a minha casa dos 13 os 25 anos. Em 1992, fui ordenado padre.
Durante oito anos fui professor e formador no Seminário; depois, três anos em França onde acompanhei três comunidades de emigrantes e fiz uma licenciatura em comunicação social. Em 2001 regressei para tomar posse na paróquia das Cortes, que acumulei com a capelania da prisão escola e a direção d’O Mensageiro.
Em 2006, assumi a paróquia da Cruz da Areia, juntamente com as Cortes e deixei a capelania da prisão. Em 2011 deixei a Cruz da Areia, assumi a Barreira, juntamente com as Cortes e de novo a capelania da prisão. Em 2016 deixei todas estas funções e assumi a paróquia dos Marrazes, onde estive até setembro deste ano.
A renovação pastoral que a diocese está a implementar, levou-me a mostrar a minha disponibilidade para que o senhor bispo dispusesse de mim para onde e quando quisesse. Nesse espírito fui questionado sobre a minha anuência para implementar a unidade pastoral de Porto de Mós, a maior que a diocese terá. Disponibilizei-me para enfrentar o desafio. Até março, estou sozinho com Porto de Mós e Alqueidão da Serra. Depois seremos três padres e tentaremos levar a cabo a assistência religiosa daquelas seis paróquias.
A ideia é fazer de Porto de Mós o centro dessa nova unidade pastoral. O que significa que aqui estarão centralizados os dossiers e a organização de toda a unidade. O caminho está pensado e esperamos iniciá-lo depois de janeiro.
Dei início às minhas funções de pároco no dia 6 de outubro. Fui bem acolhido e senti desde logo empatia pelas pessoas. Quanto à realidade encontrada, sinto grande dispersão, muitas capelas, muitas comunidades, uma pluralidade que me assusta, mas que me desafia no meu ser padre.
Sim, como padre quero ser próximo, atento, algo lento, mas atencioso. Sou (como alguém) mais de afetos do que de organismos e é aos afetos que quero prestar atenção. Sempre entendi a fé como desafio para o interior e não tanto para o exterior. Por isso (e apesar de ser da comunicação social) não me interessam perfis ou nicknames… Gosto de ouvir a voz de quem fala, de olhar nos olhos e de ler os seus gestos. Este meu lado faz de mim um poeta, um sonhador e um lírico. Mas assumo e gosto de assim ser.
É assim que me apresento diante de vós. Calmo, sereno, tranquilo. Sem pressas, sem alaridos… sem sonhos impossíveis. Quero o possível, mas quero o melhor do possível.
Agora estou a conhecer as ruas, os lugares, as gentes, os nomes… vivo em Porto de Mós e vou tentando conhecer cada um na medida que seja permitida conjugar com a agenda obrigatória.
O caminho faz-se caminhando. Permitam-me entrar na viagem das vossas vidas e caminhar convosco. Juntos seremos melhores que sós.
Pe. José Martins Alves – antigo pároco de Porto de Mós
Ser Pároco em Porto de Mós foi uma experiência pessoal, comunitária e sacerdotal maravilhosa. A nível pessoal usei quinze dos meus melhores anos da minha vida entre os meus 43 e os 58 anos de idade, com a plenitude da saúde que Deus me deu e da totalidade das minhas forças, físicas, intelectuais e emocionais.
A nível comunitário o maior feito realizado foi ter estado sempre muito perto de todas as pessoas da Paróquia. Tanto nos momentos de festa como nos momentos de tristeza, dor ou morte. Além disso, foram centenas e centenas de atividades comunitárias belas e arrojadas em que milhares de pessoas participaram ao longo destes anos.
A nível sacerdotal sei que cumpri a missão que me foi confiada pelo meu bispo ao enviar-me para esta Paróquia. Nem sempre com a santidade e a perfeição merecida ou desejada mas sempre com alegria, confiança e com o sentido da esperança cristã.
Tudo isto só foi possível pelos bons e fiéis colaboradores com que tive o prazer de realizar esta missão e que nunca desistiram nem me abandonaram durante os tais 15 anos que vivi em Porto de Mós.
Para todos eles os meus sinceros agradecimentos e as melhores recompensas de Deus em quem acreditamos. Agora chegou nova missão e novos desafios nas paróquias de Marrazes, Barosa, Parceiros e Azoia onde estou a residir. Da minha parte seja feita a vontade de Deus! Para todos os portomosenses as melhores bênçãos de Deus.
Pe. Vítor Mira – antigo pároco de Alqueidão da Serra e Alcaria
Desde a minha ordenação que assumi que a minha vocação de padre passa por estar sempre “em modo de partida” porque fui chamado e enviado por Deus. Por isso fui para Angola em missão logo no primeiro ano da minha ordenação.
Os sete anos que passei nas paróquias de Alqueidão da Serra e Alcaria fazem parte dos meus 32 de padre em que experimentei dificuldades, limitações e algumas duras provações, mas em que também foi possível ver a graça e a ação de Deus a tocar pessoas e transformar as suas vidas.
Fui enviado para estas duas paróquias onde praticamente não conhecia ninguém. Durante estes anos a relação, o conhecimento mútuo e a confiança foram aumentando a ponto de no fim, com bastante gente, já sentir que “era como se fosse da família”. É muito bom e gratificante ouvir isto. Obrigado.
Fui para estas comunidades com uma proposta que procurei sempre que fosse a de Deus. Como sempre aconteceu, uns aceitaram, outros não. Peço desculpa pelas vezes em que os meus defeitos e limitações foram obstáculo a essa aceitação.
No momento da despedida dei graças a Deus pelas pessoas que me acolheram e apoiaram a vários níveis e ainda por aquelas que não se limitaram a manter-se numa “religião de consumo e tradição” para aceitarem as propostas de novos percursos de vivência cristã, envolvimento e compromisso na comunidade cristã. Todos nos enriquecemos com essas experiências. Agradeço também às pessoas pelo seu testemunho de fé, dedicação e entrega às suas comunidades. Que Deus a todos abençoe.
Foto | Isidro Bento