Depois de o Município de Porto de Mós ter comunicado à E-REDES, a empresa responsável pela rede de distribuição de energia, um acordo para «ligar as luzes meia hora depois do pôr do sol e desligar uma hora e meia antes do nascer do sol», o presidente da Câmara, Jorge Vala, queixou-se na última Assembleia Municipal (AM) que, desde que essa alteração foi feita, «não há nenhum dia que não haja iluminação pública ligada durante o dia». Descontente com esta situação de incumprimento, o autarca anunciou que estão agora para adjudicar a uma empresa que «faz precisamente controlo de faturas» o trabalho de verificação, pelo que a E-REDES «é obrigada a devolver o dinheiro das horas que a iluminação pública está ligada durante o dia». Esta medida soma-se a outras já implementadas pelo Município e que visam «minimizar o impacto dos custos que a energia está a ter». Jorge Vala defende a necessidade de se «baixar o consumo» e, apesar de admitir a existência de «alguns desfasamentos», revelou que o Município está com um consumo de iluminação pública «de menos 10 a 15%», um número que reconhece ter já «algum significado».
O presidente da Câmara lembra que o país tem uma «recomendação de poupança de cerca de 10% à fatura de energia e obrigatória de 5%», por isso apela à população para que reduza o consumo: «Cada um de nós conta pouco neste bolo mas se estivermos todos juntos, efetivamente o consumo pode reduzir», considera. Ainda durante a sessão da AM, Jorge Vala disse que estão a ser pensadas mais algumas ações, para além daquelas já realizadas, para redução do consumo energético. O autarca anunciou que nove dos 10 municípios que compõem a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL) vão lançar um concurso público para que, no próximo ano, seja feita a substituição de cerca de 125 mil luminárias, em vapor de sódio e vapor de mercúrio por leds, existentes na região de Leiria. «Este é um investimento financeiro que será feito a médio prazo», refere, acrescentando que, com esta mudança, se esperam «aparentemente reduções de fatura na ordem dos 50%».
“Encontrámos dezenas de aquecedores ligados”
O tema foi também levado a reunião de Câmara, onde Jorge Vala, além do que já tinha dito na AM, explicou que Ansião ficou “de fora” deste processo porque «já substituiu todo o sistema de luminárias antigas que tinha por leds». Por oposição ao que tinha dito inicialmente, o autarca esclarece que, neste concurso, está prevista uma candidatura ao Portugal 2030: «Ao contrário do que eu afirmei, porque estávamos para lançar uma ESE [Empresa de Serviços Energéticos], em que seria eventualmente investimento privado que depois seria amortizado em descontos a partir da poupança, o que se decidiu é que iremos fazer a substituição das luminárias, recorrendo a uma candidatura a fundos comunitários», explicou.
No momento em que lançou o assunto, o presidente da Câmara chamou a atenção para a resolução do Conselho de Ministros n.º 82/2022, onde é apresentado o Plano de Poupança de Energia 2022-2023 que contém um conjunto de medidas que permitem «fazer face à atual situação e a eventuais disrupções futuras». Estas medidas, algumas recomendadas outras obrigatórias, contribuem para a redução do consumo energético e têm impacto imediato. As recomendações abrangem não só espaços públicos, como espaços comerciais e administração pública. Um despacho que o vereador Rui Marto (PS), disse ter visto, admitindo, contudo, ter ficado «bastante apreensivo» sobre a questão de não se ligar os aquecimentos no período que se avizinha. Nesse sentido, questionou o presidente da Câmara sobre a dimensão deste “apagão energético”, nas instalações que estão sob gestão do Município, nomeadamente se os aquecedores irão estar ligados durante o inverno. Por sua vez, Jorge Vala foi perentório na resposta: «O despacho que anda na rua é bem claro, diz que fica proibido ligar os aquecedores. Neste momento é proibido e nós vamos, com certeza, cumprir». E logo de seguida justifica a decisão: «Fica proibido porquê? Porque nós encontrámos dezenas de aquecedores ligados neste momento e, como bem sabe, a recomendação que há é temperatura máxima nas salas de 18 graus no inverno e máximo de 25 graus no verão. Temos que fazer isto porque as pessoas deixam, o ano todo, os aquecedores ligados. Pode não acreditar mas isto é verdade». Sem revelar o sítio em questão, o presidente da Câmara, visivelmente estupefacto, garantiu mesmo ter sido descoberto um espaço onde havia aquecedor e ar condicionado ligados em simultâneo. «Tivemos que perguntar se em casa as pessoas têm este tipo de atitude… Era aquecedor a aquecer e ar condicionado a arrefecer», ironiza. «Eu admito que as pessoas tenham que trabalhar confortáveis mas também têm que fazer um esforço», considera.
Jorge Vala informou ainda que, tendo em conta as recomendações que constam do Plano de Poupança de Energia, será reduzida a temperatura da água das piscinas municipais, assim como a temperatura ambiente nas instalações. «A outra solução é encerrar», justifica o autarca, reiterando o alerta de que o Município «não pode continuar a ter os custos que tem tido com a energia».
Fotos | Jéssica Silva e Isidro Bento