Porto de Mós recebe III Fórum Diabetes

25 Novembro 2023
Texto

Isidro Bento

O Cineteatro de Porto de Mós acolheu no passado dia 13 de novembro o III Forum Diabetes dinamizado pela Unidade Coordenadora Funcional da Diabetes do Agrupamento de Centros de Saúde Pinhal Litoral e Centro Hospitalar de Leiria, com o apoio do Município de Porto de Mós.

Dezenas de profissionais de saúde estiveram reunidos todo o dia para ouvir os vários palestrantes convidados e discutir com eles as temáticas abordadas.

Este III Fórum Diabetes teve como tema genérico Acesso aos cuidados de saúde na Diabetes, dividindo-se depois pelos painéis “Evidência sobre a atuação na pré-diabetes”, “Sexualidade no diabético”, e “Integrar a tecnologia na diabetes”. Houve, ainda, algumas comunicações livres.

A sessão de abertura contou com a participação do diretor clínico do Hospital Santo André, do diretor executivo do ACES Pinhal Litoral, dos presidentes da Assembleia e Câmara Municipal de Porto de Mós e da coordenadora da Unidade Coordenadora Funcional da Diabetes Pinhal Litoral.

Esta iniciativa decorreu no âmbito do Dia Mundial da Diabetes, que se assinala a 14 de novembro, e “encerrou” precisamente nesta data com uma caminhada noturna sob o tema “Prevenir a diabetes, estação a estação”. E se o fórum foi dedicado exclusivamente a profissionais de saúde, esta teve como público-alvo a comunidade em geral. À semelhança da última edição, a caminhada de 5 quilómetros contou com curtas apresentações de temas relacionados com a diabetes em cada uma das “estações”. Assim, na primeira, a enfermeira Florbela Ferreira, da USF Novos Horizontes, falou do que é a diabetes, enquanto que a sua colega da USP de Porto de Mós, Cristiana Rosário, revelou dados sobre a incidência da diabetes no concelho e no país. Na terceira estação, a oradora foi Clarisse Louro, professora da Escola Superior de Saúde do IPL e atual presidente da Assembleia Municipal de Porto de Mós, que abordou o tema “A alimentação como prevenção da diabetes”. Da atividade física e a diabetes falou o enfermeiro da UCC. D. Fuas Roupinho, Frederico Amado. Na quinta e última estação, coube à enfermeira da UCSP de Porto de Mós, Anabela Sousa, deixar vários conselhos de como prevenir a diabetes. A encerrar, houve, ainda, a intervenção da
vereadora da Saúde, Telma Cruz.

No decorrer do Fórum, vários oradores, recorreram aos dados estatísticos mais recentes para realçar o impacto da diabetes. Assim, de acordo com o Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes, a prevalência da diabetes em Portugal, «era, em 2021, de 2,4% nos homens e de 1,4% nas mulheres na faixa etária 20/39 anos. Já na faixa 40/59 anos a percentagem para 17,8% nos homens e 8,3% nos homens. A maior prevalência é registada entre os 60/79 anos, com 30,4% e 24,3%, respetivamente.

Considerando que 14,1% da população portuguesa é afetada pela diabetes, verifica-se que a doença está identificada em 7,9% dos casos, havendo por isso 6,1% ainda não diagnosticados, o que é preocupante tendo em conta que é a quarta patologia com maior carga de mortalidade, doença e incapacidade em Portugal, por 100 mil habitantes.

O que é a diabetes?

A diabetes mellitus é uma doença metabólica crónica que ocorre quando o pâncreas deixa de conseguir produzir insulina ou o corpo não a consegue usar de forma eficaz. De acordo com Federação Internacional da Diabetes, «a insulina é uma hormona que atua como uma chave para permitir que a glicose dos alimentos que comemos passe da corrente sanguínea para as células do corpo para produzir energia. O corpo decompõe todos os alimentos ricos em hidratos de carbono em glicose no sangue, e a insulina ajuda a glicose a entrar nas células. Quando o corpo não consegue produzir ou utilizar insulina de forma eficaz, isso leva a níveis elevados de glicose no sangue, chamados hiperglicemia. A longo prazo, níveis elevados de glicose estão associados a danos ao corpo e à falência de vários órgãos e tecidos », nomeadamente cegueira, amputação dos membros inferiores, ataques cardíacos, AVC, insuficiência renal e uma série de outros problemas de saúde.

Sexualidade no diabético

Entre as várias temáticas abordadas neste III Fórum Diabetes, houve uma de que raramente se ouve falar quando o assunto é a diabetes: a sexualidade no diabético. Desta vez teve direito a painel próprio, com três médicas especialistas que abordaram deste «a contraceção na mulher diabética e alterações da líbido», à «disfunção sexual na pessoa com diabetes», e aos «aspetos psicológicos da sexualidade na pessoa com diabetes». Na impossibilidade de trazermos aqui o resumo de todos os temas tratados no Fórum, escolhemos este pelo seu interesse para um grupo cada vez maior da população. A apresentação foi para um público profissional mas muito do que foi partilhado é facilmente entendido pelo cidadão comum e a sua divulgação mais alargada poderá contribuir para a efetivação de uma ideia que passou pelas várias intervenções: a diabetes aumenta o risco das disfunções sexuais, pelo que é importante os doentes falarem do assunto com os profissionais de saúde para que possam ter a ajuda necessária e se não o fizerem, o tema deverá ser abordado, como qualquer outro relacionado com a diabetes, no contexto de consulta, por iniciativa do médico ou enfermeiro.

De acordo com as três especialistas, quando se fala de disfunção sexual associada à diabetes, habitualmente associa-se à disfunção erétil e esquecem-se outras. O problema está longe de ser um exclusivo dos homens mas das mulheres, neste contexto, pouco se ouve. As queixas mais comuns dos diabéticos são a disfunção erétil (que tem uma prevalência global de 52% na população diabética), as disfunções ejaculatórias e a falta ou diminuição do interesse sexual (neste caso com uma prevalência de 35 a 52%).

Ao contrário dos homens, nas mulheres as disfunções sexuais têm mais a ver com aspetos culturais, emocionais e psicossociais que fatores metabólicos e, ou, cardiovasculares. Se no homem a mais frequente é a disfunção erétil, na mulher, é a falta ou diminuição do interesse sexual, sendo que a depressão se apresenta como o principal fator subjacente às disfunções sexuais femininas. Nesse sentido, os efeitos psicológicos vão desde consequências negativas no humor, na autoestima, na auto-imagem e no erotismo; sentir-se menos atraente sexualmente; medo de ser rejeitada sexualmente ou de não satisfazer o/a parceiro/a; receio de hipoglicémias durante a relação sexual; depressão e ansiedade, dependência e solidão. Poderá haver também efeitos na relação com a deserotização da mesma; criação de laços de dependência pela prestação de cuidados; sentimentos de culpa do companheiro (a) por desejar o prazer sexual apesar da doença; medo de eventuais efeitos nefastos que a atividade sexual possa ter sobre a doença.

Tendo em conta que há um risco aumentado de disfunção sexual na diabetes e que a sexualidade é uma componente essencial do bem-estar de qualquer indivíduo, os técnicos de saúde presentes na sala foram desafiados a dar ao assunto a devida atenção nas suas consultas e no acompanhamento do diabético.

Como muitos doentes, por vergonha ou por não associarem as disfunções sexuais à diabetes, podem não tomar a iniciativa de falar do assunto, devem ser os médicos e os enfermeiros a «fornecer informação básica; explicar o impacto dos tratamentos; dar exemplos do que pode acontecer, a frequência e duração; tranquilizar e desdramatizar quanto à segurança das relações sexuais; mostrar abertura para que sejam colocadas questões; oferecer suporte e esperança; desmitificar preconceitos e mitos e abordar a comunicação entre os parceiros», recomendaram.

Neste painel foram também deixadas alguma recomendações para a prescrição dos métodos contracetivos mais adequados à mulher diabética, e de medicamentos para a disfunção erétil no caso dos homens, sendo certo que, como em tudo o resto, cada caso é um caso e tem de ser avaliado enquanto tal, lembraram.

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