Obra é da autoria do portomosense Rui Basílio
A partir deste sábado, dia 25, quem atravessar a Ponte Nova, à entrada da vila de Porto de Mós, vai deparar-se com um novo mural. Nas duas últimas semanas já foi possível ver o nascimento da obra, que tem suscitado alguma curiosidade aos portomosenses. A conclusão está para breve. Ainda não tem nome definido, mas é da autoria do portomosense Rui Basílio e tudo indica que estará pronta este sábado, para o primeiro dia das Festas de São Pedro.
Ao nosso jornal, o artista explica que «os timings [com a Câmara Municipal, que lhe endereçou o convite] ajustaram-se para esta altura», embora não fosse uma ideia exclusiva para as Festas. O executivo pretendia – e pretende, num processo que se iniciou com a reabilitação da agora Central das Artes – dar uma “nova roupagem” à entrada da vila, e «depois tudo isto ganha mais sentido» ao ser conjugado com o dia inicial do certame, explica Basílio. Como o projeto vai ficar logo após a principal entrada do rossio portomosense, ganha uma responsabilidade acrescida: «Por ser fácil de muita gente ali passar», diz, «e obviamente que a crítica é sempre algo muito presente, mas nestes momentos, se conseguirmos ter menos críticas, melhor é o projeto».
O artista, natural de Évora mas a residir na Fonte do Oleiro, explica que «aquela parede já há uns anos que era para ser trabalhada, mas como era necessário uma responsabilidade maior do que era habitual se calhar [os executivos municipais] nunca arriscaram muito por aí». Agora, chegaram «ao grafismo certo»: «Eu ali vou recriar uma senhora, à janela, uma janela tradicional portuguesa, com a cantaria portuguesa, que vai também ao encontro da pedra que é aqui extraída; coloquei no canto inferior direito o bordado que as senhoras mais de idade têm por tendência colocar por baixo das televisões, por baixo das jarras de mesa; depois, no canto superior esquerdo, vou ter ali um apontamento, um grafismo que nos remete aos muros de pedra seca, para demonstrar que também é algo que nos caracteriza; como elementos físicos vou colocar o cimento e também a pedra solta, aplicada diretamente na parede. Vou ter também um candelabro e um gato no parapeito a fazer companhia à senhora, que acaba por nos relembrar um pouco as nossas avós ou mães que, por intermédio da nossa vida, porque queremos algo mais, deixamo-las um pouco mais sozinhas, e queria trabalhar essa parte mais sentimental também». O motivo da pintura estará de olhos postos em
quem entra na vila-sede do concelho, mas também no recinto das Festas de São Pedro.
As dificuldades, os desafios e as críticas
A parede onde Basílio está a trabalhar pertence ao antigo Convento dos Agostinhos Descalços, «dos edifícios mais antigos de Porto de Mós», o que tem dificultado o processo: «Obviamente que eu gostava de intervir mais na parede, seja com rebarbadoras, de uma forma mais “agressiva”», explica a O Portomosense. «No entanto há que ter alguma atenção, porque se calhar ter esse tipo de intervenções [num edifício tão antigo], acabo por daqui a uns anos poder vir a sofrer de responsabilidades por alguma coisa que aconteça no interior do edifício, portanto vamos trabalhar de uma forma mais tranquila, mais controlada, dar ênfase ao grafismo, e acho que conseguimos um bom projeto», acredita.
E o público, apesar de alguns percalços (nas redes sociais, Basílio partilhou alguns atos de vandalismo que ocorreram na passada semana, algo que nunca lhe tinha acontecido e que, diz, nem nos «centros urbanos» acontece), parece concordar: «A opinião acaba sempre por ser algo normal no desenrolar do meu trabalho, e como aqui todos nos conhecemos, obviamente que há muita malta a parar, a apitar, a dizer “força!”, isso é interessante e acaba por ser também motivante», frisa o artista, remetendo o balanço das críticas para quando a obra estiver concluída.
Bruno Fidalgo de Sousa | Foto