Nem sempre é fácil perceber que se chegou a um ponto em que é preciso pedir ajuda quando o orçamento familiar não chega para todas as despesas. Foi a pensar nisso que o Município de Porto de Mós mudou o paradigma do apoio social, sobretudo na distribuição de alimentos e outros produtos, sendo que foi extinta a Loja Social que deu lugar a um apoio em rede, com as várias instituições e entidades do concelho. «A Loja Social existia em Porto de Mós e o que acontecia é que dava respostas às pessoas que se dirigiam lá, o que para nós era insuficiente porque todos sabemos que a parte social é delicada e há muitas famílias que não iam à Loja Social», explica a vereadora da Ação Social, Telma Cruz, referindo que isso acontecia «ou porque não tinham forma de se deslocar, ou porque às vezes há aqueles casos da chamada “pobreza envergonhada”, em que a pessoa não se quer expor (e está no seu direito), mas nós queremos e temos o dever de dar resposta a essas pessoas também».
O Município definiu, assim, uma abordagem «em rede» para chegar a todos, através dos vários parceiros, entre eles as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS’s) do concelho, as juntas de freguesia, as escolas, a GNR, as Conferências de São Vicente de Paulo e grupos sóciocaritativos locais. Assim, as instituições, escolas, GNR e Juntas ajudam na sinalização das famílias carenciadas e as Conferências e grupos sóciocaritativos na distribuição dos alimentos e produtos, possibilitando que as famílias carenciadas possam transmitir as suas situações de necessidade junto das instituições mais próximas de si e com quem se sentem mais confortáveis. Este modelo começou a ser aplicado no início do mandato deste executivo, mas ganhou uma importância maior em contexto de pandemia
Inclusão de alimentos frescos e produtos de higiene
Outra das mudanças que o Município implementou, foi a inclusão de «alimentos frescos» como «carne, peixe, ovos, produtos hortícolas, fruta» e também de «artigos de higiene» no lote dos produtos a entregar a cada família. «A Loja Social só tinha alimentos enlatados, não havia a disponibilização de uma alimentação variada», explica Telma Cruz, que frisa ainda que «para a saúde das pessoas não basta comer enlatados, arroz e massa». Esta componente veio também ganhar força com a COVID-19, em que existia uma necessidade ainda maior de a população estar saudável e a inclusão de produtos de higiene nos cabazes disponibilizados tem precisamente esse objetivo. «Neste contexto em que vivemos, todos sabemos que há necessidade de higienizar os locais e até o próprio corpo. Achámos importante reforçar os produtos de higiene porque são mais caros e porque quando as famílias são obrigadas a fazer escolhas, optam, naturalmente, por colocar comida na mesa», salienta.
A reação das famílias apoiadas tem sido positiva, destaca a vereadora: «Ficam-nos muito gratas pela disponibilidade dos alimentos. Há famílias que têm crianças, daí ser importante este reforço a nível da diversidade de alimentos. Neste contexto que vivemos, também disponibilizámos as refeições confecionadas, que vieram dar resposta aos alunos que muitas vezes só recebem uma refeição confecionada na escola», acrescenta.
Famílias referenciadas e a continuidade
As famílias estão distribuídas pelos vários «parceiros nesta rede de apoio alimentar», uma vez que ao serem referenciadas são depois encaminhadas para um dos grupos sóciocaritativos para que exista uma continuidade no apoio. Neste período de COVID-19 o processo é o mesmo: «As famílias contactam o Município, nós fazemos a avaliação e distribuímos a alimentação e gradualmente vamos integrando as famílias nas Conferências», explica a vereadora. O contacto contínuo vai permitindo avaliar a situação das famílias e algumas que, sobretudo nesta fase instável da pandemia, tinham entrado em lay-off, ou perdido o trabalho, vão deixando de precisar de apoio, porque a sua vida já se reestruturou», destaca Telma Cruz.
Uma das mensagens que a COVID-19 veio deixar bem presente foi o facto de qualquer pessoa, independentemente da sua classe social, poder ser afetada por uma crise, considera. «Algumas pessoas que até tinham uma situação profissional muito estável e um nível de vida bastante superior à média, com bons salários, e que por isso assumiram compra de habitação ou aquisição de automóvel, de repente ficaram sem forma de dar resposta aos seus compromissos e isso para uma família é muito difícil, de repente confrontar-se com todas estas situações», frisa a autarca.