Nesta obra, “Porto de Mós” representa «um sítio do qual qualquer ser humano precisa de ter, uma sensação de pertença, de propriedade, do sítio onde se pode ser, e o ideal é que toda a gente tivesse o seu Porto de Mós». Esta foi uma das frases que o autor portomosense Pedro Amado – que assina como Rastigat, já que «não queria que aquele livro ficasse demasiado próximo » da sua persona pública – utilizou para descrever o seu primeiro livro, que não deverá ser o último, quando da apresentação pública do mesmo, no dia 30 de julho. A sessão teve lugar na Lagoa de Alvados, um lugar especial para o autor («sinto neste vale assim uma força especial, pela envolvente natural e pela dimensão estética que tem», referiu), e com a presença de quase uma centena de «familiares, amigos» («são as minhas pessoas, estou completamente em casa», explicou Pedro Amado ao nosso jornal). Na sessão estiveram ainda o vice-presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, Eduardo Amaral, e a presidente da União de Freguesias de Alvados e Alcaria, Sandra Martins.
«Tudo começa com uma visita guiada ao centro histórico de Porto de Mós», lê-se na sinopse do livro, cujo enredo «decorre no período de um dia», entre «a escola, a juventude, os animais, os cafés, a vida noturna, o Castelo e o Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros». Ainda assim, Pedro Amado não queria que o livro «pudesse submeter para uma espécie de guia turístico»: «As sensações que tive [e agora em livro] acho que são transversais às pessoas que leram até agora, não só da minha geração, mas das gerações anteriores, vivências que todos vivemos, que fazem parte da nossa adolescência, da nossa infância». Para tal, serviu-se de uma vila deserta, «o momento perfeito» para a introspeção. A obra foi escrita em 2021, quando da pandemia, e surgiu precisamente dessa circunstância, aliada ao desemprego que permitiu a Rastigat «finalmente ter tempo de estruturar e meter no papel umas coisas que estavam soltas em notas pessoais». Mas Pedro Amado já escreve desde a entrada na idade adulta, como referiu, e, aos 30 anos vai continuar, e com ele o próprio concelho de Porto de Mós: «Eu gostava que o livro crescesse comigo, ou seja, Porto de Mós há-de continuar a crescer, embora uma das ciosas que não tenha dito à pouco foi que espero que o conteúdo mais profundo do livro consiga ultrapassar estas fronteiras do nosso concelho, acho que qualquer leitor depois chegará ao fim e dirá que isto não acontece apenas em Porto de Mós, isto são coisas transversais a qualquer sitio onde existam pessoas», frisa.
O autor aproveitou ainda para agradecer à própria mãe, «enquanto editora». «Porque a certa altura apanhou-me no meio desse processo e disse-me “se queres escrever, escreve, não me venhas com conversas”, revelou, entre risos do público. Para já, revela-se motivado para continuar a escrever: «Até agora tive um feedback muito bom, mas em menos de cinco anos não vou relaxar, porque sei que a porrada há-de aparecer e ainda bem, eu vou continuando a escrever, mas não caio no erro de achar que tudo o que escrevo merece ser publicado, sou muito criterioso nisso, acho que é uma questão de higiene artística », garante.
A obra tem selo editorial da Edições Sem Nome, inaugurando assim a coleção Sangue na Guelra, destinada a acolher novos autores, e foi financiada pelo Município de Porto de Mós. A fotografia de capa é da autoria da também portomosense Raquel Montez, que teve as suas imagens em exposição na Lagoa de Alvados.
Foto | Bruno Fidalgo Sousa