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Porto de Mós volta a lembrar Abril

29 Abril 2022
Jéssica Silva

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Jéssica Silva

29 Abr, 2022

Eram 9 horas em ponto quando o presidente da Câmara de Porto de Mós, Jorge Vala, e a presidente da Assembleia Municipal (AM), Clarisse Louro, ambos de cravo vermelho ao peito, hastearam a bandeira nacional na Praça da República, para assinalar o 48.º aniversário do 25 de Abril de 1974. O momento simbólico contou com a presença de um pelotão do Regimento de Artilharia n.º 4, da GNR, de elementos das corporações de bombeiros do concelho e com a Banda Recreativa Portomosense, que tocou o hino nacional, entre elementos do executivo e outras individualidades.

Guerra na Ucrânia marca discursos na sessão solene

Liberdade. Foi talvez esta a palavra mais ouvida durante a sessão solene que pretendeu assinalar a conquista deste direito há 48 anos pelos Capitães de Abril mas foi a falta dele que mais marcou os habituais discursos, com a guerra na Ucrânia a ser tema central. A cerimónia comemorativa decorreu na manhã da passada segunda-feira, Dia da Liberdade, no Cineteatro de Porto de Mós e contou pela primeira vez, com a presença da Jovem Autarca, Érica Silva. A sessão teve início com a declamação de um poema de Manuel Alegre, protagonizado por Miriam Morgado e Marcelo Oliveira.

«São mais uma vez tempos muito difíceis os que vivemos», começou por dizer a presidente da AM, a primeira a tomar da palavra, fazendo referência ao conflito que tem devastado a Ucrânia: «Após dois terríveis anos de pandemia, damos de frente com uma guerra na Europa que massacra um povo e destrói um país numa rota que julgávamos abandonada, perdida e enterrada no século passado, a lembrar-nos que a paz nunca pode ser dada por garantida, como a democracia e a liberdade, os dois pilares que sustentam a paz». Clarisse Louro aproveitou para defender a importância de se continuar a acreditar na democracia. «Por maiores que sejam as dificuldades é na democracia que está a solução, nunca o problema. Compete-nos a nós, cidadãos, aperfeiçoá-la, sem nunca desistir dela». Por outro lado, a presidente da AM criticou o acesso aos cuidados de Saúde que considera, hoje, ser «francamente desigual, desequilibrado e sem equidade» e que contrapõe com a «ideia romântica» trazida pelo 25 de Abril de existirem «direitos iguais para todos». «É necessário garantir uma racional e eficiente cobertura de todo o país em recursos humanos e unidades de saúde», frisou.

Na sua primeira intervenção numa sessão do género enquanto Jovem Autarca, Érica Silva lembrou que o 25 de Abril foi um «grande marco» para a história portuguesa e que tem de ser «relembrado». «Antes não havia liberdade civil, política ou de expressão, tudo o que a minha geração toma por garantido todos os dias, sem nos apercebermos da sua importância», reconheceu.

O 25 de Abril pelos olhos dos deputados municipais

Já nas intervenções dos deputados municipais, a representante do Chega foi a primeira a discursar. Sandra de Sousa fez referência aos dois «bens preciosos» – a liberdade e a democracia – que durante quase 50 anos consecutivos «não estiveram disponíveis no nosso país». Se para muitos, os que a viveram, essa realidade ainda hoje está bem presente, para outros nem tanto. «Parte significativa da população habituou-se a viver sempre em democracia, acabando, muitas vezes, por não dar o devido valor à rotina da prática democrática, nomeadamente no que diz respeito aos atos eleitorais e à participação cívica que lhe está inerente», constatou.

«Esta data não pode ser tratada como uma simples efeméride, porque não o é», reconheceu Rita Cerejo, em representação do Partido Socialista (PS). «Falar sobre o 25 de abril é uma tarefa difícil que nos obriga a um exercício de reflexão profunda sobre a nossa historia passada e, sobretudo, sobre a história do nosso presente e futuro», acrescentou. Na sua intervenção, Rita Cerejo defendeu a necessidade de os privilégios conseguidos com a liberdade não serem dados como adquiridos, «sob pena de, sem nos apercebermos, voltarmos a necessitar de uma nova revolução de abril». «Os direitos e liberdades alcançados devem ser permanentemente lembrados, acautelados e promovidos», frisou.

Também a representante do Partido Social Democrata (PSD), Isa Vala, reconheceu que a comemoração do 25 de Abril não pode ser considerada «um mero formalismo»: «Foi quando a liberdade foi conquistada. Liberdade que devemos, dia após dia, preservar e melhorar». Na sua intervenção, Isa Vala fez também referência ao conflito que há mais de dois meses dura na Ucrânia e que, considera, é a «prova viva» de que «não podemos nem devemos dar por garantidas as conquistas de Abril». «A guerra afeta-nos a todos. Coloca a liberdade em risco, ameaça os direitos que eu e as pessoas da minha geração sempre tivemos e agora podem ser colocados em causa», alertou.

Preservação dos valores democráticos é um dever

Numa cerimónia que ficou marcada pela ausência praticamente total de máscaras de proteção entre o público presente – dias após ter sido levantada a sua obrigatoriedade – o presidente da Câmara, Jorge Vala, no seu discurso de encerramento da sessão, fez questão de relevar a atitude «exemplar» que os portugueses mostraram ao longo da pandemia. «Fomos democratas de grande maturidade. Não confundimos as limitações à livre circulação por motivos sanitários com qualquer tentativa de golpe totalitário, nem fizemos das vacinas uma conspiração contra a nossa segurança», sublinhou.

A conquista da liberdade e a sua manutenção foram outros dos pontos que Jorge Vala não quis deixar de realçar: «É bem longo o caminho percorrido ao fim de quase cinco décadas de construção democrática. Atingimos a liberdade mas temos de saber mantê-la com o sentido de responsabilidade». Por outro lado, o autarca defendeu que a «preservação dos valores democráticos» é um dever da «geração educada em democracia». «Tendo sido a primeira a beneficiar deles, foi também a primeira a quem coube transmiti-los. Isto é uma responsabilidade e deveria ser um motivo de orgulho mas também de cidadania», concluiu.

A sessão solene terminou com um momento musical com dois temas da autoria de Zeca Afonso, um dos maiores rostos da Revolução dos Cravos.

Fotos | Jéssica Silva

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