O Fim da Primavera é o nome provisório, mas muito provavelmente final, da curta-metragem documental que a portomosense Cátia Beato está a preparar para apresentar como projeto cinematográfico do seu Mestrado em Cinema na Universidade da Beira Interior (UBI), Covilhã. A ideia, conta a autora a O Portomosense, surgiu em setembro do ano passado, mas a história que inspira o argumento remonta a junho de 2022, altura em que perdeu o seu avô, António Coelho Machado: «A primeira vez que pensei sobre a morte foi no seu funeral e, durante um ano, neguei a sua morte. Não fui ao cemitério nem consegui voltar à casa dos meus avós. Só mais tarde, quando finalmente regressei, vi a casa onde cresci até aos meus 5 anos completamente vazia. Para mim, perder aquela casa significava perder a minha infância».
Quase todo o documentário será gravado naquela habitação, situada no Tojal. A primeira parte, revela, inicia-se com uma viagem de carro até à casa dos avós. De seguida, o roteiro dará espaço a «uma certa lembrança para reviver o passado da casa, que agora está vazia e que tem uma ambiência muito silenciosa». Sendo a única atriz, a ação centrará essencialmente em si, nas memórias que vai libertando ao passo que vasculha o arquivo dos seus pais – onde passou horas a analisar fotografias (mais de uma centena), negativos e cassetes – e na reflexão que faz enquanto aborda a temática da morte. «Na nossa cultura, isolamo-nos muito e negamos a perda. Tentamos que a vida continue imediatamente, mas o processo de sofrer e encarar é necessário para seguirmos em frente. Quero, com o filme, encerrar o capítulo da minha infância e do luto pelo meu avô», afirma.
Filme estará pronto em junho
Neste momento, Cátia Beato está em fase de réperage, ou seja, a estudar planos, enquadramentos e a fazer pesquisa filmográfica, visual e sonora. Contudo, o seu trabalho começou em outubro, altura em que deu por si a delinear esta aventura em “contrarrelógio”, já que a data de entrega está agendada para junho próximo, e a elencar a equipa que consigo irá trabalhar. São seis pessoas, no total. Quatro amigas que conheceu em âmbito académico e também a sua irmã. Entre elas, distribuirão tarefas de realização, direção de produção, montagem, fotografia e som.
Autora lançou campanha de angariação de fundos
Além das tarefas mencionadas, há também uma extensa lista de processos logísticos a tratar e que terá, inerentemente, custos associados. Para tal, a jovem realizadora pensou numa solução: criar uma campanha de angariação de fundos através da plataforma digital GoFundMe. Nesta página foi estabelecida uma meta de 900 euros, e quem quiser apoiar (de forma anónima ou inscrevendo o nome) pode esperar algum retorno, já que foram estabelecidos cinco “escalões” padronizados – embora qualquer valor seja aceite – que “desbloqueiam” recompensas que podem ir desde um agradecimento por e-mail até à oferta de um poster A3 do filme assinado pela equipa ou à possibilidade de exercício de um cargo como produtor executivo. A maquia recebida será destinada à cobertura de gastos como «alimentação, alojamento, transportes, iluminação e outros consumíveis» durante os nove dias de março em que estarão em filmagens. Até ao momento o projeto conta apenas com o apoio da UBI, que disponibiliza aos seus alunos o material necessário para a realização. Ainda assim, a autora estima que para cumprir os seus desígnios mínimos sejam necessários cerca de 2 mil euros. Desafiada a lançar uma quantia para que O Fim da Primavera fizesse jus aos seus mais elaborados planos, Cátia Beato orçamentou um custo final a rondar «os quatro e os cinco mil euros».
Exibição em festivais e em Porto de Mós entre os objetivos
O documentário está ainda numa fase embrionária, mas o seu futuro passará, muito provavelmente, pelo grande ecrã: «Pretendo levá-lo a festivais se sentir que o trabalho final está como quero. Até depois da entrega posso fazer ajustes para o levar a festivais, que é o meu objetivo», adianta, não sem antes demonstrar com firmeza o intuito de o deixar “rodar” também em frente aos olhos dos portomosenses num local «como o Cineteatro de Porto de Mós», um espaço que considera «ideal para a projeção».