Portomosense “por empréstimo” vence Troféu Português do Voluntariado

3 Janeiro 2025

Luís Vieira Cruz

João Miguel Alves Ferreira nasceu há 30 anos em Coimbra, é psicólogo de formação e divide-se entre a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e a Universidade de Lisboa, onde é investigador. A meio caminho, há também uma vila que desde tenra idade diz ter aprendido a considerar como “sua” e que, apesar da azáfama e da exigência do seu meio profissional, não deixa de visitar pelo menos uma vez por ano pela altura das Festas de São Pedro, um arraial que frequenta e que o “transporta” para os tempos idos de juventude, quando o visitava com o seu já falecido pai.

João Ferreira é um aficionado confesso pela “nossa” vacada e uma cara bem conhecida entre quem a acompanha com mais afinco – foi batizado de “Nazareno” neste meio. Ligado desde cedo ao movimento associativo e embalado pelo espírito do voluntariado, foi a sua veia solidária e altruísta que o levou a traduzir perto de três dezenas de obras de formação médica para doentes e familiares de pessoas com doenças raras, “missão” que lhe valeu, no passado dia 5 de dezembro, uma subida a palco na gala da Câmara Municipal de Cascais e Confederação Portuguesa do Voluntariado para receber o Troféu Português do Voluntariado, na categoria Revelação.

Licenciado em Psicologia pelo Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares de Almada, Data Scientist certificado pelo Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa, mestre em Psicologia Social e Psicologia Organizacional, candidato a mestre Neurocientista Molecular e de Translação (FMUC), aluno de doutoramento (FMUC), supervisor de dissertações de mestrado (FMUC), representante do 3.º Ciclo no Conselho Geral da Universidade de Coimbra e embaixador da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra para o Núcleo de Estudantes de Doutoramento da Universidade de Coimbra e Lista representante do 3.º Ciclo no Conselho Geral da Universidade de Coimbra, contacto de apoio oficial da Rede Europeia de Referência para Doenças Neuromusculares Raras, revisor científico do Journal Stress and Health, da Wiley, e membro de diversas organizações internacionais, João Ferreira é dono de um currículo académico assinalável mas que assegura não ter sido trilhado apenas à secretária e diante dos livros: «Ao longo destes anos, houve todo um banho de realidade, um contacto em primeira pessoa com o flagelo que é a vida de muitas das pessoas com quem me tenho cruzado e que acredito que, por se tratarem de doentes com patologias raras, acabam por não ter qualquer peso ou representatividade na nossa sociedade», vinca, em jeito de lamento.

Foi por «não conseguir virar as costas à injustiça de haver quem sofra em silêncio» e por ver de perto as necessidades por que passam pacientes com doenças raras e seus familiares na hora de procurar mais informações sobre as respetivas patologias» que o psicólogo começou a traduzir voluntariamente obras de formação médica do inglês para português. Este gesto, por simples que pareça, está a quebrar barreiras no direito à informação e, segundo João Ferreira, está a ajudar pessoas em todo o mundo: «Diz-se que o inglês é a língua da Ciência, mas há ainda muita gente que não o domina. Na verdade há uma grande comunidade de falantes de português, e aqui incluo os falantes de português em todo o mundo, que sofrem num “silêncio em português”. São eles quem eu tento ajudar».

Por defender que «um homem e uma causa não devem dissociar-se», o jovem investigador recusa olhar para «as horas incalculáveis» que dispensou a traduzir estas 26 obras como «tempo perdido». Fê-lo sempre a título anónimo, sem qualquer tipo de contrapartida financeira, e continuará a fazê-lo ao longo da sua jornada, «enquanto Deus permitir», afirma.

O Troféu Português do Voluntariado está dividido em categorias e João Ferreira venceu a de Revelação. O dia 5 de dezembro de 2024 ficará marcado na sua memória, assegura, não pelo prémio em si, mas pelo palco que lhe concedeu «a oportunidade de dar voz a uma comunidade pouco representada e que por isso mesmo continua a sofrer em silêncio».

Foto | DR

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