Foi com a presença d’O último Oleiro das Pedreiras e de mais de 200 espetadores que o cineteatro de Porto de Mós recebeu, na noite do passado dia 18, a rodagem do documentário sobre José Alves, da Tremoceira, lugar «onde antigamente havia uma centena de oleiros» e «agora resta apenas um» a trabalhar manualmente a roda. O filme, realizado pelo portuense Fábio Oliveira e produzido pelo próprio e pela esposa, Jéssica Fino Oliveira, também natural da Tremoceira, foi exibido pela primeira vez na vila sede do concelho, depois de se ter estreado em novembro no festival Entre Olhares, no Barreiro, e de ter passado pelos ecrãs de vários festivais internacionais.
Com «casa cheia» e «praticamente esgotado», referiram Fábio Oliveira e José Alves, com visível orgulho na adesão dos portomosenses, a sessão começou com três momentos de conversa, moderados por Jéssica Fino Oliveira. Primeiro, sentou-se na cadeira o próprio realizador, que aproveitou para explicar como surgiu a ideia e como se deu a produção da curta-metragem, gravada durante o último verão. Depois, foi o protagonista, o oleiro José Alves, e a filha, administradora na Olaria de Barro Vermelho, Ana Carina Santos, que estiveram à conversa com a produtora. O artesão confessou não estar «à espera de tamanho impacto» quanto ao número de espectadores, revelando que «teria pena» se daquela concentração não viesse a sair «um novo oleiro». «Pode ser que [a arte] não morra», desabafa. Já a filha não contava com este resultado final, esperando um «filme mais simples», mas agradeceu a publicidade que trouxe à empresa e ao próprio setor da olaria. Armindo Vieira, jornalista reformado, que também aparece no filme, foi o último convidado a participar na conversa, para dar a sua opinião sobre a prática da olaria na região, tal como aconteceu na curta-metragem. Quando as luzes se apagaram e se deu início aos 20 minutos de filme, a plateia não se resumiu ao silêncio, trocando aplausos, comentários e gargalhadas com alguns momentos da obra.
Em conversa com O Portomosense, Fábio Oliveira considerou que o «tempo dedicado ao projeto valeu a pena», não afastando a hipótese de voltar à região para explorar outras artes com «potencial», «desde o trabalho da pedra ao trabalho de azulejo». O realizador respondeu assim a um desafio do presidente da Câmara, Jorge Vala, que congratulou o realizador e a esposa pelo facto de «colocar[em] o lugar de Tremoceira, a freguesia de Pedreiras e o concelho de Porto de Mós no mapa do mundo», além de ter parabenizado José Alves pela continuação do trabalho manual. «O que falta para fazer desta arte o que ela é são as mãos, e as mãos continuam a ser preponderantes para transformar aquele pedaço de barro numa obra de arte», afirmou o autarca.
A acompanhar os autores e atores da obra estiveram ainda elementos do Rancho Folclórico das Pedreiras e o músico Joel Madeira, que participaram na composição da banda sonora original.