«Empresas do concelho vão, num primeiro momento, para lay-off, num segundo momento, não havendo alteração aos custos astronómicos com a energia, vão encerrar», adiantou o presidente da Câmara de Porto de Mós. O preço do gás está no topo das preocupações, nomeadamente nas empresas de cerâmica que são grandes consumidoras deste combustível: «Para se ter uma ideia, uma empresa que, em dezembro do ano passado, pagou 69 mil euros de gás, em janeiro deste ano pagou 277 mil, em fevereiro 640 mil e em março prevê pagar 926 mil, um valor substancialmente superior ao que fatura e estamos falar apenas da fatura do gás», revela o presidente. As empresas que se encontram nesta situação têm um grande volume de recursos humanos que vai desde os 160 aos 500 empregados. «Estamos a falar de cerca de 1500 pessoas que vão para casa, que corresponde a uma percentagem superior a 10% do ativo de recursos humanos do concelho», afirma Jorge Vala.
Associado a este problema, frisa o presidente, há «uma crise humanitária»: «É uma matéria que nos preocupa muito e à qual vamos dar atenção em paralelo com o que estamos a fazer para receber refugiados». «Até agora temos vivido um cenário de falta de mão-de-obra, ao ponto das empresas que são grandes empregadoras do concelho estarem a contratar em empresas de trabalho temporário, esta situação pode repentinamente inverter-se, o que complicará muito a missão de receber e integrar profissionalmente os que cá chegarem», salienta Jorge Vala.
Câmara já gastou “orçamento de um ano”
«Sem falar na iluminação pública, pagávamos, em média, pouco mais de 15 mil euros por mês de energia. Em janeiro pagámos 65 mil, em fevereiro um pouco mais e em março prevemos pagar mais de 100 mil euros», revela Jorge Vala. Em três meses, «consumiu-se toda a verba prevista para pagar a energia do ano todo». O vereador Rui Marto (PS) salienta que esta questão da energia o deixa «bastante apreensivo»: «Numa anterior reunião, o senhor presidente disse que ia haver um plano estratégico mais concertado em relação à energia, já há alguma coisa pensada no imediato?», questionou, acrescentando que nesta matéria tem que haver uma «atuação enérgica e rápida».
Jorge Vala referiu que já estão a ser tomadas medidas. «Não conseguimos criar, de um dia para o outro, bairros energéticos, comunidades com respostas de autossustentação, mas estamos a desenvolver o projeto com parceiros e a fazer o plano estratégico para a região, naturalmente, de forma mais acelerada tendo em conta estas preocupações», assegurou. Em relação, por exemplo, à iluminação pública terá também de haver um reajuste: «Ao preço de hoje, pagaríamos num ano cerca de seis milhões de euros, o que quer dizer que não temos dinheiro para um único investimento, vamos ter que tomar medidas, não vamos apagar o concelho, mas temos que fazer opções para reduzir o consumo». No concelho existem mais de «13 mil luminárias, apenas quatro mil são led, as restantes são em vapor de sódio que tem um consumo mais elevado». Substituir algumas destas luminárias é um objetivo do Município para «minimizar o impacto brutal dos custos de energia».
«Fizemos um ligeiro aumento no concurso para o fornecimento de gás, o valor base não chegava aos 200 mil euros, uma das propostas que nos foi apresentada foi de 670 mil, facilmente se percebe que vamos ter problemas», frisou. «Não podemos deixar de aquecer as escolas, os pavilhões ou as piscinas», afirmou, explicando ainda que o Município está a aguardar por uma parecer de «um processo antigo que nunca teve resposta da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro para a intervenção na eficiência energética das piscinas».
Transportes públicos também preocupam
«No âmbito da energia, se pensarmos, a maior parte de nós não tem alternativa para fugir ao custo, por exemplo, do combustível que lhe é apresentado na bomba», frisa Rui Marto, lembrando que não existe uma rede de «transportes públicos» na região, capaz de dar resposta a todos. «Andamos a falar dos transportes públicos no âmbito da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria desde 2015, depois o concurso era para dezembro de 2019, depois penso que foi adiado por dois anos, o que é certo é que não há grandes desenvolvimentos neste assunto, que eu saiba», frisa.
Jorge Vala explicou que o Município tem «até ao final do ano para a abertura do concurso». «O concurso tem de ser aprovado pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes e esta entidade, já por duas vezes, solicitou alterações ao caderno de encargos, é um concurso internacional, para toda a região, onde se incluem algumas das respostas solicitadas pelo senhor vereador», respondeu o presidente. «Relativamente aos transportes aqui no concelho, a ligação entre freguesias ficará assegurada a partir dos transportes escolares, algumas linhas funcionarão todo o ano, outras não, mas há um acréscimo de prestação do serviço Vamós», revelou ainda Jorge Vala.