O tema “saúde” voltou a assumir destaque na última sessão da Assembleia Municipal, a primeira totalmente via internet por força das exigências sanitárias do momento. Alcides Oliveira, o presidente da Junta de Mira de Aire deu o mote e fê-lo de forma visivelmente indignada. «Pretendo demonstrar a minha indignação, revolta e sensação de abandono por parte da tutela da Saúde no que diz respeito à ausência de médico num dos ficheiros do Centro de Saúde de Mira de Aire», começou por afirmar o autarca confessando que também ele faz parte desse ficheiro e é um dos que se sentem injustiçados porque há mais de 10 anos não tem médico de família.
«Para ficar doente terei que escolher o ano, o mês e o dia, caso contrário, morrerei por falta de atendimento ou então na estrada a caminho de Porto de Mós, sem garantias de que seja atendido», disse, acrescentando que está certo de que os seus colegas de Arrimal/Mendiga, Alqueidão da Serra e São Bento também se sentem postos de lado por parte da tutela da Saúde.
Em resposta, o presidente da Câmara, Jorge Vala, disse que a falta de médicos «é um problema recorrente» que tem «tentado gerir sem grande alarido», no entanto, afirmou, «de vez em quando torna-se incompreensível a forma como somos tratado pelo Ministério da Saúde e o exemplo de Mira de Aire é bem o paradigma do que temos». «Em plena pandemia, quando em Mira de Aire todos os dias havia dezenas e dezenas de casos de COVID-19, à médica que tinha o ficheiro onde estava incluído o senhor presidente da Junta, foi autorizada uma transferência por mobilidade interna para outro centro de saúde», recordou o edil adiantando que, perante isto, manifestou indignação junto do ACeS e da ARS mas sem obter resposta.
«Vamos insistindo e ainda esta semana falámos com alguém responsável da Saúde, no sentido de podermos, eventualmente, minimizar o impacto negativo que a população de Mira de Aire está a sofrer mais uma vez por falta de médico de família», disse.
Olga Silvestre (PSD), que é também deputada à Assembleia da República, juntou-se à discussão referindo que, no âmbito da atividade parlamentar, questionou sobre a falta de médico em Mira de Aire e de delegado de saúde no concelho e que a resposta do secretário de Estado foi que «quanto à mobilidade da médica era um direito que lhe assistia e relativamente à falta de delegado de saúde estava tudo resolvido a contento da população e da autarquia». «É esta, então, a preocupação do Governo com a falta de médicos em Porto de Mós e no país», frisou a deputada.
Gabriel Vala (PSD) realçou também «o período difícil que o concelho está a atravessar com «a falta de médicos nalgumas freguesias e as dificuldades no atendimento dos utentes, em especial os não COVID». Por isso, disse o autarca, foi «com alguma esperança e expectativa» que viu a notícia de que o PS de Porto de Mós reunira com o secretário de Estado, no sentido de o sensibilizar para a questão da falta de médicos e de delegado de saúde no concelho, «porque tudo o que puder ser feito por via direta ou indireta, será útil». «Contamos assim com boas notícias brevemente, ou então de nada valem as influências políticas», sublinhou.
David Salgueiro, por seu turno, disse que «o PS não utiliza a Saúde para fazer política» e que «tem tido sempre uma atitude proativa e de colaboração com o próprio Município». Além disso, garantiu, «o PS faz tudo o que estiver ao seu alcance para defender os interesses do concelho junto das entidades competentes» e que ao contrário de Olga Silvestre «não vem para a AM dizer que quando alguma coisa corre mal a culpa é do Governo e quando corre bem, que foi feito pelo município». Quanto ao delegado de saúde disse que «não é só em Porto de Mós que a delegada está de baixa médica». Já relativamente à falta de médicos, «se foi encontrada uma solução para a Mendiga, decerto se encontrará também para Mira de Aire», afirmou.
Jorge Vala interveio de novo, dizendo que ficou «perplexo» quando leu em O Portomosense o artigo, relativo ao comunicado do PS em que se diz que «o presidente da Câmara anda a dizer que não temos delegado de saúde e que isso embora seja verdade não faz diferença nenhuma porque alguém em Leiria dá resposta a este serviço». Ora, afirmou o autarca, «se o delegado de saúde existe, é porque é necessário, se não fosse, estavam todos numa sala em Leiria e a verdade é que, infelizmente a nossa delegada tem um problema de saúde e isso transtornou-nos muito, temos de o admitir».
«Estou sempre muito disponível para partilharmos as dores deste problema, que é complexo e de difícil resolução mas o meu papel é defender o interesse da população do concelho e, aparentemente, o David Salgueio tem o papel de de defender o PS e o Governo», concluiu.