O tema da Saúde tem sido obrigatório Assembleia Municipal (AM) sim, AM também. Tudo porque «continua por resolver» e tem vindo até a agravar-se. As questões, na última AM, surgiram de várias partes e desta vez houve até uma posição conjunta de todos os presidentes de junta. Começou por ser o presidente da Junta de Freguesia de Mira de Aire, Alcides Oliveira, a levantar o véu: «Estivemos a falar e assinámos um documento porque há um tema que nos aflige há muito tempo. Solicitamos que o presidente da Câmara nos informe do que pode acontecer a curto e médio prazo, é óbvio que isto não é culpa do presidente nem do executivo», realça o autarca. Alcides Oliveira deu o exemplo do que se passa na sua freguesia. «Temos um médico, dos três que supostamente deveriam lá estar, em atividade e outro de baixa e simultaneamente, há um mês e meio, uma das assistentes administrativas passou à reforma e uma outra alertou mais do que uma vez que não conseguia sozinha dar resolução a todas as situações, chegou ao cúmulo de meter baixa e depois a Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Porto de Mós (UCSP Porto de Mós) colocou duas administrativas de Porto de Mós. Antes não havia duas para ajudar e depois havia duas para substituir?», questionou.
Lançando algumas críticas à forma como a presidente da AM, Clarisse Louro, «conduziu o início de trabalhos, com regras diferentes» na ordem habitual das intervenções (no período antes da ordem do dia), Filipe Batista apresentou então o abaixo-assinado por todos os presidentes. Dirigindo-se precisamente a Clarisse Louro, a quem fazem um pedido, os presidentes começaram por evidenciar o problema. «Em virtude do problema que afeta a prestação de cuidados de saúde do nosso concelho e por forma a tomar conhecimento da real situação em que o processo de resolução se encontra, vêm os senhores presidentes de junta abaixo-assinados requerer que vossa excelência se digne a diligenciar uma reunião entre eles e o diretor executivo do ACES Pinhal Litoral, enfermeiro Marco Neves», leu o presidente de Junta de Alqueidão da Serra.
O executivo municipal não foi “chamado” ao documento e Filipe Batista justificou: «Não colocámos o executivo municipal porque entendemos que a AM não tem estado organizada, eu faço parte dela, não temos estado organizados, e penso que a AM é um órgão que deve também ele ir junto das entidades buscar uma solução». O presidente de Junta sublinhou ainda o facto de todos os presidentes, «mesmo os que não têm problemas nesta área na sua freguesia, se terem associado a esta causa».
Clarisse Louro recebeu o pedido e garantiu que tudo fará para lhe dar seguimento: «Eu tenho todo o gosto, na qualidade de presidente da AM, e depois em conjunto com os líderes de bancada, de marcar uma reunião com o senhor enfermeiro Marco Neves para, em conjunto, trabalharmos um bocadinho e questionarmos o que pensa da USF Aire e Candeeiros e sobre o fecho das extensões de saúde», disse a autarca.
AM unida numa ideia: fechar polos de saúde não é solução
A USF Aire e Candeeiros, que já foi notícia n’O Portomosense, tem motivado muito desagrado, tudo porque em cima da mesa, na proposta feita pela coordenadora da UCSP de Porto de Mós para a transformar em USF, se prevê que esta venha a fechar duas extensões de saúde, a de Alqueidão da Serra e a da União de Freguesias de Arrimal e Mendiga. Aos presidentes de junta juntaram-se os deputados municipais que também intervieram em busca de respostas. Gabriel Vala (PSD) diz que o problema da Saúde é um problema «que afeta todos, é um drama». O deputado começou por salientar que o «executivo tudo tem feito para aliviar esta situação junto das entidades competentes» e de que este é um problema da «responsabilidade do Governo». «Para uma população cada vez mais envelhecida, com necessidades diárias de saúde, muitos deles sem transporte para se deslocarem, este tem sido um problema grave», refere, pedindo no fim um ponto de situação ao presidente de Câmara. Já Rita Cerejo (PS) foi direta à questão da USF: «Veio a público a possível criação de uma USF, gostaríamos de saber o quão oficial é esta situação e se o modelo que está a ser publicitado é o que está previsto ser implementado?», questionou. Se por um lado a criação da USF «congratula o concelho com mais 11 médicos, por outro preocupa e aflige pela forma como eles poderão ser distribuídos». «Parece-nos que a população mais idosa, deslocada, será a que não será contemplada por esta boa notícia, que na verdade não pode ser vista como uma boa notícia», sublinha a deputada. Rita Cerejo disse ainda que o PS está disponível «para lutar para que não aconteça da forma como está». «Sabemos que é difícil que todos tenham médico à porta de casa, mas não podemos ser alheios a não termos uma rede de transportes públicos que permita as pessoas de São Bento, Arrimal, virem até à sede de concelho, portanto há aqui uma série de limitações que esta USF não vai resolver».
“Não nos pediram qualquer parecer”
Em resposta a tudo isto, o presidente da Câmara, Jorge Vala, começou por fazer um esclarecimento: «Há poucos dias fui confrontado com um vídeo que foi divulgado pela associação Ur’gente e aquilo que disse aos senhores presidentes de junta foi que a Ur’gente não representa nem substitui o município». Neste vídeo, a solução USF Serra de Aire com apenas três extensões (Porto de Mós, Serro Ventoso e Mira de Aire) foi apresentada como uma hipótese. «Oficialmente não temos conhecimento desta proposta nem nos foi solicitado qualquer parecer», referiu o autarca.
O executivo, diz, só não está às escuras porque «tem feito alguns telefonemas para perceber o ponto da situação». Jorge Vala divulga ainda que tem recebido alguns «telefonemas preocupantes da parte do Ministério da Saúde». «Isto porque Porto de Mós é um dos 20 municípios do país que ainda não recebeu a descentralização da Saúde e eu desde o primeiro momento que vos disse que o Município não recebe a descentralização enquanto o problema da Saúde não estiver resolvido e não está», garante. «Não está porque não aceitamos, como já aqui foi dito por várias pessoas, que seja criada unilateralmente uma proposta de USF como aparentemente foi criada, com um centro de saúde sede e duas delegações», acrescenta o autarca. Jorge Vala disse que já transmitiu aos responsáveis da Saúde e aos presidentes de junta que o entendimento do executivo é que «Arrimal e Mendiga, num dos locais, e o Alqueidão da Serra, devem continuar com médicos». Até porque, admite o presidente, «o Município não tem ainda uma rede de transportes preparada, a partir de janeiro de 2024 vamos ter uma alteração ao modelo do Vamós, mas de todo o modo uma coisa não substitui a outra».
«Para terminar, dizer-vos que neste momento a situação da Saúde no concelho agudizou-se e agudizou-se porque continuamos a ter uma UCSP com médicos que trabalham muito, que têm ficheiros pesados, que compensam colegas que não têm e sobretudo para atender quem não tem médico de família e perdoem-me se estou enganado, mas não devo estar muito, ganham dois mil euros brutos por mês», começa por referir. Por outro lado, na USF Novos Horizontes, «que presta o mesmo serviço, um serviço de excelência com excelentes profissionais, podem, cumprindo os objetivos, atingir vencimentos de cinco mil euros». Isto vai levar, acredita Jorge Vala, a que muitos destes profissionais da UCSP se «vão embora para a USF modelo B porque o coração e vontade são importantes, mas infelizmente não dão comida».
Também a presidente da AM afirmou rever-se «totalmente naquilo que a deputada Rita Cerejo disse»: «Na primeira reunião que esta AM teve com os senhores líderes de bancada e com a senhora vereadora da Saúde, foi para pedir para se criar uma USF, porque na altura se entendia que era uma forma de trazer mais médicos para o concelho» Mas a forma como esse processo avançou não agradou Clarisse Louro. «A USF Aire e Candeeiros foi proposta e foi proposta pela coordenadora da UCSP Porto de Mós e o modelo foi proposto por eles, agora, eu, na qualidade de presidente da AM, não me revejo num modelo que feche polos». «No meu entender, se a USF consegue abranger os utentes da extensão do Alqueidão da Serra, de Arrimal e Mendiga e de São Bento, então quer dizer que têm médicos, então porque não ir aos próprios locais e atender uma população envelhecida e com necessidades de cuidados de saúde no próprio local? A Saúde diz mesmo isso, que temos que prestar os cuidados de saúde onde as pessoas estão e vivem», conclui.
Foto | Jéssica Silva