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“Problema não se resolve só com médicos, mas com a boa vontade dos profissionais de saúde”

23 Outubro 2020
Catarina Correia Martins

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Catarina Correia Martins

23 Out, 2020

Se o estado da Saúde no concelho é bastas vezes discutido nas reuniões dos diferentes órgãos autárquicos, com a COVID-19 essa presença tem-se intensificado. A última Assembleia Municipal (AM) não configurou exceção. A presidente da AM, Clarisse Louro, começou por dizer que «as doenças não se combatem com medo, mas com prevenção e com medidas, pensadas por uma comunidade científica, que ajudem as comunidades locais a viverem a sua vida com este vírus». O presidente da Câmara, Jorge Vala, alertou que o concelho registou «mais casos em setembro que nos seis meses anteriores» e que «isso é motivo de preocupação». Informando que «uma parte significativa dos casos decorre de ajuntamentos familiares», o autarca reforçou a necessidade de cuidados, na época extraordinária em que vivemos.

Depois de questionado por alguns dos presidentes de Junta acerca da permanente falta de médicos nalgumas freguesias, Jorge Vala respondeu que há um concurso a decorrer e que antes do seu término, nenhuma resposta pode ser dada. O presidente salientou que «o problema da falta de médicos é complicado», mas lembrou que há um outro «muito mais grave, que começa a ser transversal a todo o país» e que se prende com o encaminhamento de boa parte dos doentes para as urgências hospitalares, antes de serem vistos no seu centro de saúde.

«A minha filha é médica no Hospital de Leiria e fica sistematicamente preocupada com a quantidade de crianças que vão com poucos sintomas para a sala de espera do hospital. Vão, nitidamente, empurradas pelos centros de saúde que não fazem o seu trabalho em termos de cuidados primários. Ficam na sala de espera, com dezenas de outras crianças e alguns adultos, o que me parece pouco digno e seguro», afirmou. «Não conseguimos alterar, e perdoem-me a expressão, a falta de vontade dos profissionais, que nos cuidados primários não estão a fazer o que deviam», frisou. Jorge Vala ressalvou que «há muitos» profissionais de saúde que «trabalham de sol a sol para satisfazer as necessidades dos seus utentes, mas infelizmente nem todos são assim».

«Os nossos munícipes, devagarinho, estão a ir à procura da morte», atira. «As pessoas têm um pico de febre. O protocolo determina que se ligue para a Saúde 24, que encaminha para o centro de saúde. No centro de saúde, abrem a janela, dizem que não é um assunto para ali, mandam as pessoas para o hospital e fecham a janela. Os utentes vão para as urgências, esperam seis, sete ou oito horas, porque têm pulseira verde, e ficam piores do que aquilo que já estavam», afirma o presidente. Por isso, Jorge Vala considera que o problema «já não se resolve só com [mais] médicos», mas «com a boa vontade dos profissionais de saúde e há muitos que não a têm».

Para exemplificar, o autarca contou um testemunho de alguém que foi «picado, ficou com o braço inchado e o médico nem sequer quis ver, mandou-o logo para o Hospital de Leiria. Essa pessoa esteve uma imensidão de horas à espera». Jorge Vala, que se mostrou indignado com a situação, disse mesmo que, para si, este modo de atuação «não tem explicação»: «Só queria que me fizessem perceber. Expliquem-nos para podermos entender, para estarmos todos juntos a discutir esta matéria e podermos explicar à população».

Juntas e deputados disponíveis para colaborar

Jorge Vala reconheceu que «algumas extensões de saúde podem não reunir as condições essenciais ou mínimas», mas lembrou que, quer o Município, quer as Juntas de Freguesia, já se mostraram disponíveis para adaptar os espaços das extensões de saúde da forma que for necessário, para que estejam de acordo com as normas. A corroborar essa afirmação está a intervenção do presidente de Junta do Alqueidão da Serra, Filipe Batista, que afirmou ter já disponibilizado «o edifício da sede da Junta de Freguesia»: «Falei inclusive com o diretor da UCSP de Porto de Mós, que me disse que iria ver a situação e visitar o local, mas até hoje não o fez», refere. Filipe Batista reforçou a sua disponibilidade para cedência do espaço que, na sua opinião, pode «acautelar algumas situações, para que as pessoas não esperem na rua» e para que «pessoas com diferentes sintomas e, provavelmente, diferentes situações de doença possam não ser misturadas».

A deputada do PSD, Cristiana Rosário, alertou também para utentes com «doenças oncológicas, degenerativas e crónicas, que necessitam de ser controladas», algo que «não está a acontecer no nosso concelho». «Não queremos que a nossa população vá a correr para as urgências, temos que dizer para ficarem em casa, mas há situações em que não podem e precisam de cuidados de saúde», lembrou a também enfermeira.

David Salgueiro, deputado socialista, deixou clara a abertura da bancada para colaborar com o executivo «em tudo aquilo que necessite nesta fase complicada». De seguida, disse não poder «deixar de lamentar a iniciativa que foi feita em plena pandemia, de trazer um trio elétrico [a nova versão do programa Somos Portugal, da TVI] para passear nas ruas. Viu-se o ajuntamento de pessoas, muitas delas, lamentavelmente, sem utilizar os meios de proteção individual. Mas o incentivo do próprio Município foi a que as pessoas saíssem à rua numa altura de pandemia». «Não sei qual foi a mais-valia de trazer, neste contexto, um trio elétrico para as nossas ruas», termina.

A encerrar o debate sobre este tema, a presidente da AM referiu que «a questão da saúde diz respeito a todos, não só ao executivo, e não deve ser politizada». Clarisse Louro afirmou ainda que vai agendar uma reunião com os lideres das bancadas parlamentares, para a qual vão ser também convocados os presidentes de Junta, para que possam «trabalhar e procurar soluções para ajudar o executivo nesta área».

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