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Produção de maçã e pêra com quebra devido às condições climatéricas

15 Setembro 2020
Catarina Correia Martins

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Catarina Correia Martins

15 Set, 2020

A campanha da apanha da fruta deste ano tem sido amplamente noticiada nos últimos tempos, inicialmente devido à COVID-19 e ao receio que se instalou pela vinda de pessoas de toda a parte do país e não só. Os produtores enfrentam, no entanto, um outro problema, que vem também fazendo manchetes em alguns meios de comunicação social: as quebras na produção. Jorge Soares, presidente da Associação de Produtores da Maçã de Alcobaça, da qual fazem parte alguns dos produtores do concelho de Porto de Mós, disse à agência Lusa que «dois distúrbios climáticos pouco comuns na região, a poucas semanas da campanha, proporcionaram uma redução do crescimento dos frutos e perdas previsionais de 15%», referindo-se a «dois dias de temperaturas próximas dos 40 graus e granizos pontuais». Também as previsões do Instituto Nacional de Estatística (INE) apontam para uma redução em vários frutos, nomeadamente de 35% na pêra, 30% no pêssego e 20% na maçã. O INE avança mesmo que a campanha da pêra será das menos produtivas dos últimos 20 anos.

O Portomosense falou com o técnico responsável da Lusofruta – Cooperativa Agrícola do Concelho de Porto de Mós, o engenheiro agrícola, Amílcar Silva, que corrobora, de alguma forma, estas estimativas. «Há variedades onde ainda não começou a colheita e outras onde já começou, mas no geral, só deve ficar concluída no final de setembro», por isso «é ainda precoce dar valores», no entanto «estimo que, nalgumas variedades, possa haver uma quebra de 40 ou 50%, se não chegar aos 60%. Geralmente em anos em que há pouco, é ainda menos do que a primeira perceção que se tem», revela.

Amílcar Silva explica que se «têm sentido, nos últimos anos, alterações grandes na produção»: «Há anos em que a produção é normal, mas outros em que cai e isso, na minha perspetiva, pode ter um bocadinho a ver com a questão das alterações climáticas», considera. «As macieiras e as pereiras são árvores de folha caduca. Depois de cair a folha, precisam do frio do inverno para rebentarem bem e tem-se notado que os invernos já não têm o frio que existia antigamente», começa por dizer. De acordo com Amílcar Silva, «este ano assistimos a florações com um mês. Na mesma árvore, houve uma parte que floriu no final de março e a última floração veio já em maio», revela, acrescentando que isso se «reflete na produção». «Houve árvores que nem flores deram, e sem flores não há fruto», conclui.

Produtores partilham opinião

Mário Loureiro, fruticultor, residente no Casal do Alho – Andam, tem cerca de 15 hectares de maçã e pêra, na União de Freguesias de Coz, Alpedriz e Montes, já no concelho de Alcobaça. Quando falou ao nosso jornal, em plena época de apanha, e depois de ter dito que, este ano, «a produção é menor», frisou que «a colheita está a ser problemática porque as variedades não estão homogéneas»: «As árvores estiveram em floração durante muito tempo, fruto do clima que tivemos, e agora andamos a colher e a mesma árvore pode ter uma pêra que está já demasiado adiantada, portanto pronta para comer agora, mas que em termos de conservação já não presta, e na mesma árvore, temos outros frutos que ainda vão ter que ficar, se calhar, mais uns dias», explica. O fruticultor partilha da opinião de Amílcar Silva e frisa que este ano «não tivemos o inverno a que estávamos habituados, cada vez temos menos horas de frio de inverno, aquele frio que faz as nossas árvores pararem e depois arrancarem uniformes».

António Pragosa é também produtor de maçã e pêra, tem as suas propriedades em Porto de Mós. O produtor apresenta-nos mais um testemunho de que, na campanha deste ano, «a produção é menor». António Pragosa afirma que «a apanha é atípica» e «bastante mais curta», não apenas pelas medidas que é necessário implementar por causa da pandemia, mas também porque a quantidade de fruta é inferior. Atribui este resultado a «algumas doenças que não deviam acontecer, especialmente na pêra; e também ao calor, que nesta fase tem sido constante», tornando assim unânime a opinião de que as condições climatéricas afetaram, este ano, a produção de maçã e pêra.

Foto: Isidro Bento

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