O que mudou ao nível do Ensino? Qual o papel do professor e do aluno hoje, comparativamente ao que era no século passado? Como são os alunos da atualidade? As respostas a estas perguntas foram díspares, mas as faixas etárias dos alunos que as professoras entrevistadas acompanham também divergem. Se por um lado a professora do 1.º ciclo na Escola Básica de Serro Ventoso, com 37 anos de experiência, Delfina Rosário, considera que o aluno de hoje é mais ativo e participativo, e que mais facilmente comunica com o professor; por outro, a docente do 3.º ciclo no Instituto Educativo do Juncal (IEJ), com 26 anos dedicados ao Ensino, Paula Cordeiro, sente que o aluno está mais fechado e que a relação com o professor é menos próxima e carente de comunicação e de partilha. Ainda assim, apesar das opiniões diferenciadas, ambas reconhecem que existiu uma grande evolução no Ensino, essencialmente por conta das novas ferramentas digitais disponíveis, que permitem dinamizar as aulas de outra forma, tornando-as mais ricas.
“Hoje o aluno tem um papel muito ativo na construção da sua aprendizagem”
De 1986 até agora «as coisas mudaram muito a todos os níveis. Mudou o papel e a postura do professor e do aluno em sala de aula, mudaram as instalações, as metodologias e, portanto, as alterações têm sido muitas, para melhor», diz Delfina Rosário, que vê esta evolução de forma positiva embora reconheça que «o professor tenha deixado de ser a principal fonte de conhecimento», sendo aquilo a que chama de «facilitador da aprendizagem, de orientação e de apoio aos alunos, que passaram a ser o foco e o ponto de partida para a aquisição de conhecimento». O «tipo de Ensino alterou-se» e as prioridades agora são outras, aponta: «Apela-se muito ao desenvolvimento das competências, da criatividade, do pensamento crítico, da capacidade de comunicação e da colaboração». Ao contrário do que acontecia antes, quando existia um Ensino mais individual, atualmente estimula-se o trabalho em grupo, o que é vantajoso para as crianças, que «têm um papel muito mais interventivo», considera. A forma de trabalhar veio também alterar o comportamento dos mais novos e a dinâmica em sala de aula, que se tornou «muito mais participativa ao invés de silenciosa». A professora primária reconhece, no entanto, que este tipo de Ensino permite uma maior libertação do aluno e por vezes «um bocadinho mais de indisciplina», também «porque a educação é outra». A exigência e as regras continuam a existir em sala de aula, garante a professora, só que de outra forma. «Nós somos exigentes, mas um exigente carinhoso, com regras apreendidas por eles». Deste modo, a aprendizagem «consegue ser muito mais rica e estimulante», abandonando «o medo de falar», presente noutros tempos.
Presentemente, «as novas tecnologias» permitem que o professor tenha à sua disposição vários materiais, o que facilita o trabalho, motiva os alunos e prepara-os «para a integração na sociedade que cada vez é mais digital». Portanto, estas novas ferramentas motivam os alunos e «um aluno motivado aprende melhor», reforça a professora, acrescentando que «o Ensino veio beneficiar das novas ferramentas digitais, porque é mais dinâmico, divertido e interativo e as crianças apreciam isso».
O aluno de hoje é “mais fechado, insatisfeito e difícil de cativar”
Em 26 anos de experiência ao nível do Ensino, Paula Cordeiro, professora de Português e Espanhol no IEJ, consegue ver grandes diferenças, tendo em conta as experiências que fizeram parte do seu caminho enquanto docente. O comportamento dos alunos foi uma das mudanças apontadas pela professora que acompanha sobretudo turmas do 3.º ciclo. «Antes os alunos ficavam comigo na sala, à espera de uma conversa, de um “olá”, de um “como é que tu estás?”, “como é que as coisas vão lá em casa…?”. E, neste momento, eles saem e só querem é ir ao intervalo, para ver quais é que são as mensagens que estão no telemóvel ou quais é que são as notificações», conta a docente, lamentando o atual relacionamento entre professor e aluno, que é mais distante, comparando com aquele que tinha com antigos alunos, que ainda hoje mantêm contacto consigo.
Na visão de Paula Cordeiro, hoje é mais difícil de «cativar os alunos» e fazê-los perceber que existem vários momentos numa aula. Há espaço para «quizzes interativos, jogos no telemóvel e para visualização de vídeos», mas tem, igualmente, de existir uma parte teórica, que dificilmente consegue a sua atenção: «É preciso escrever e copiar apontamentos do quadro se for preciso, mas é muito difícil», reforça a docente. Se por um lado a internet veio ajudar a dinamizar as aulas, por outro veio minimizar a dedicação e o esforço dos jovens. «Tanto na aula como em casa, eles tinham que fazer apontamentos. Agora, vão à internet, copiam, imprimem uma página de um site qualquer e têm o apontamento feito». «Escrever e ler deixou de ser uma coisa natural», aponta a docente, considerando que «é uma luta inglória um livro competir com um telemóvel, não vale a pena, temos de arranjar outras estratégias», sublinha. «Ser professor hoje é mais exigente, mas eu continuo a acreditar muito no nosso sistema e na nossa educação», garante Paula Cordeiro, ciente do desafio que tem pela frente com os adolescentes de hoje, que «acham tudo uma seca».
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