Foi em 2015 que Ana Brás e a família se viram numa situação limite: «Já tínhamos faturas em atraso, rendas em atraso, bens alimentares já nem se viam… Fartei-me de pedir ajuda nas instituições grandes e que devem e têm poder para ajudar e não consegui nada, nem em cabazes, nem para pagar faturas. Sentei-me à frente do computador e escrevi um texto a contar a história da minha vida e a pedir ajuda ao mundo, era a minha última oportunidade», recorda, em entrevista ao nosso jornal. Depois de carregar no “enter”, a «onda de solidariedade foi tão grande» que Ana Brás diz, ainda hoje, não ter palavras para o que aconteceu. E foi o que sentiu nesse momento que a fez dizer a todos (e mais tarde cumprir) que, «logo que tivesse a vida estabilizada», usaria aquela mesma página «para apoiar outras famílias, porque quem o devia fazer, não o faz». E assim foi. Poucos meses depois, contas saldadas e trabalho encontrado, Ana Brás e o marido puseram mãos à obra e, «sem deixar cair a estabilidade» que tinham conseguido, lançaram-se na missão que ainda hoje abraçam: ajudar famílias carenciadas.
«No primeiro ano eram cinco ou seis [famílias por mês], mas chegámos a ter 32 famílias mensais», conta, revelando que hoje ajudam de forma regular 14 famílias, tendo ainda duas em “SOS” — «são ajudadas por outra instituição, mas quando falta um ou outro bem, suplantamos», explica. Inicialmente, o Projecto Esperança Solidária de Leiria funcionava num anexo da casa de Ana Brás, mas com a chegada da pandemia “viram-se a braços” com duas opções: ou terminavam o projeto, ou tinham de arranjar um espaço físico, uma vez que não era plausível que, num tempo de contenção, tudo passasse pelo seu hall de entrada e pela sua cozinha para chegar ao respetivo espaço. Foi então que conseguiu um espaço, arrendado, na Quinta de Santo António, em Leiria, onde ainda hoje se mantém a “sede”.
Além de Ana Brás e do marido, o projeto conta hoje com mais duas pessoas no «staff fixo», além disso há uma rede de «amigos solidários» que contribuem regularmente com bens ou donativos monetários para que o projeto possa continuar. Mas não chega: «Não conseguimos sozinhos, não temos verbas nem capacidade para tal, nem para os cabazes, nem para a renda. Não sendo uma associação, não temos apoios “formais” e só contamos com a ajuda de voluntários. Todas as semanas recebemos três ou quatro pedidos de ajuda e tenho que dizer que não tenho capacidade para ajudar mais», revela. «Temos conseguido [suplantar tudo], mas sempre muito aflitos. Temos feito alguns apelos [na página de Facebook do projeto] e temos conseguido. O que nos custa mais é mesmo dizer que não a quem precisa», afirma. Ana Brás e o seu projeto tem sido divulgado em vários meios de comunicação social e a mentora espera que essa visibilidade possa trazer mais ajuda, que «dê frutos» e que isso permita ao projeto manter-se ou crescer.
Com Rita Santos Batista