Trazemos-lhe esta quinzena um jornal como há muito não acontecia: recheado daquilo a que chamamos de “artigos de agenda”, isto é, a cobertura de eventos ou atividades que foram acontecendo, sem grande espaço ou tempo para outras reportagens ou entrevistas mais intemporais a que temos habituado também os nossos leitores. E isto acontece agora porque, depois de dois anos de pandemia, ainda que esta não esteja debelada, aprendemos a viver com ela. Ainda que continuemos a temê-la, sabemos agora proteger-nos melhor dela e sabemos também que, em muitos casos, felizmente, as consequências não são tão graves como no princípio. Por isso, a vida começa a voltar a acontecer. Estão de regresso os eventos que juntam pessoas, mantendo-se, é claro, muitas cautelas e medidas de proteção, adaptados aos tempos novos, mas finalmente a acontecer. Estamos a começar a largar o online, as reuniões, comemorações e celebrações “via zoom”, para passar a fazer tudo isso cara a cara. Começamos a experimentar mais um bocadinho de normalidade. E isto vale para tudo, para a Cultura, para o Desporto, para a Educação, para a Religião, para o associativismo…
Resta agora saber se as pessoas, a população em geral, estará disposta a voltar às multidões, a encontrar-se para participar na Eucaristia e depois passar pela “tasquinha” para comer uma filhós e beber um café da avó, por exemplo, ou a deslocar-se a um qualquer salão para, em mesas corridas, degustar uma série de sopas, com pessoas não tão próximas sentadas ali ao lado. Se no começo da pandemia todos desenvolvemos uma certa germofobia, a achar que tínhamos sempre as mãos sujas, a desinfetar tudo a toda a hora, questiono se, com o tempo, não desenvolvemos também uma certa fobia social. O que sentimos nós quando pensamos em ir a um festival de música, em que não há lugares sentados e definidos e onde, inevitavelmente, estaremos bem perto de desconhecidos? Que angústia nos traz a ideia de um 13 de Maio tradicional em Fátima, por exemplo? Ou mais simples, já é para nós normal ir a um centro comercial?
Para estas perguntas, cada pessoa terá uma resposta diferente, que é pessoal e independente de opiniões alheias. Mas são essas respostas que vão ditar a nossa vida daqui para a frente, a nossa vida em comunidade e em sociedade. Porque, no fundo, a normalidade só voltará quando essas respostas forem quase unânimes. De que vale que eu e o meu vizinho pensemos de uma maneira, e estejamos dispostos a voltar a conviver, se depois mais ninguém no bairro o fará? Que festas teremos no verão, se as comissões se “matarem” a trabalhar para depois não terem “público”? Que futuro podemos esperar, se continuarmos a ir buscar comida em regime take-away e nunca mais voltarmos às grandes comezainas nos restaurantes? Podemos pensar que se vivemos dois anos sem isso, conseguimos viver para sempre. Talvez, no início foi muito doloroso, mas agora já nos habituámos a esta nova forma de viver. Mas, então, não podemos nunca mais reclamar pela normalidade. Sem querer, aqui, incentivar aos ajuntamentos – palavra que se tornou corriqueira com a pandemia – irresponsáveis, deixo apenas a reflexão sobre que futuro queremos, que futuro faremos, que futuro viveremos.