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Qual o futuro da Antiga Igreja Matriz de Mira de Aire? Pergunta foi mote para conversa

5 Maio 2023
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

5 Mai, 2023

O futuro da Antiga Igreja Matriz de Mira de Aire foi o mote para um À conversa com… onde foi apresentado um possível projeto para o monumento. Depois de ter sido alvo de obras de conservação e restauro no âmbito do Orçamento Participativo (OP) de 2020, a Junta de Freguesia e os mirenses querem encontrar um uso adequado e benéfico para este espaço e foi precisamente neste espaço que este futuro foi debatido. «Esta é apenas uma proposta do que poderá ser feito aqui, uma primeira conversa e abordagem, não quer dizer que é isto que vamos fazer», vincou o presidente da Junta de Freguesia, Alcides Oliveira. O autarca contextualizou ainda os presentes, admitindo gostar «que a sala estivesse mais cheia»: «Estamos aqui para ouvir o que o professor William Cantú tem para dizer sobre uma possível solução, vamos ter outras, esta surgiu por intermédio da Susana Reis, que é professora no Politécnico de Leiria (PL) e o professor William também».

Susana Reis, secretária da Junta de Freguesia e a proponente do projeto vencedor do OP – Conservação e Restauro da Talha Dourada da Antiga Igreja Matriz de Mira de Aire – deu ainda mais contexto. «Isto envolveu uma equipa de estudantes, no âmbito de um projeto ao qual o PL se associou, o Link Me Up – 1.000 ideias», explicou. Susana Reis sublinhou ainda que, «há 40 anos, já se discutia o que fazer neste espaço», adiantando que tinha recortes de jornal que provavam isso mesmo. «Um museu pode não ser a solução porque é estanque, a pessoa visita uma vez e depois não volta a visitar, esse é um dos problemas que queremos colmatar», frisou. A Junta procura algo que possa «ser inovador e oferecer algo a quem visita, mas sobretudo a quem vive» em Mira de Aire.

Foi depois a vez do professor William Cantú explicar o projeto, começando por referir que esperava que «este fosse o início de um trabalho longo, de mudanças e transformação». O projeto Link Me Up – 1.000 ideias é «um projeto de cocriação de inovação que junta estudantes e empresas na resolução de problemas e desafios» e que usa a plataforma finlandesa Demola, «onde as organizações globais e locais desafiam os estudantes de Ensino Superior a criar um futuro melhor», ativando o «pensamento com base no projeto». Entre os desafios que podia coordenar, William Cantú soube logo que queria ficar com este espaço: «Quando conheci fiquei logo estimulado pelo que se podia criar aqui», revelou.

A “casa” que inspirou os alunos

Mira de Aire virou “casa” durante cerca de cinco meses, sobretudo para os cinco estudantes que abraçaram este trabalho. Art is in air – Produzir experiências culturais e artísticas regionais foi o nome dado ao projeto para a Antiga Igreja, onde professores e alunos encontraram mais do que isso. «É muito mais do que uma Igreja velha, tem cores, texturas, cheiros», sublinhou desta forma o potencial deste património. Os alunos conheceram o espaço, entrevistaram algumas pessoas, conheceram a vontade dos mirenses e com base nisso elaboraram um relatório. Mira de Aire é «som de metal, de trabalho, criatividade, história, património, sossego e paz, cheiro a castanhas», foram estas algumas das palavras usadas pelos estudantes para descrever a terra. Por isso, qualquer projeto para este espaço «teria que ter uma componente cultural muito forte». Quanto aos mirenses, defenderam também uma solução com uma «parte patrimonial vincada». «A linguagem de Mira de Aire chamou à atenção porque [os mirenses] vivem muito este espaço, têm sempre algo para contar, memórias novas, sem se repetirem», salientou o professor.

Tendo em conta o que recolheram, estudantes e professor pensaram em replicar nesta Antiga Igreja o espaço Serra, localizado na Reixida (Leiria), «um espaço de criação artística» que se baseia «num ecossistema multidisciplinar que se propõe a enriquecer a visão e conteúdos artísticos», pode ler-se na página do mesmo. «Este espaço poderia ser um hub (um ponto central) de criação e de identidade, quase uma Loja de Cidadão da Cultura. Um posto de turismo do futuro, virmos cá não só buscar informação, mas também viver, comer, conversar, trabalhar remotamente, um espaço evoluído tecnologicamente; um espaço para trazer o mundo para Mira de Aire, os últimos filmes, séries, etc…», explicou William Cantú. Poderia ter exposições (até permanentes) numa sala secundária, mas a principal seria volátil, ou seja, «mudaria consoante o que se estivesse a fazer no momento, podendo ser de dia um espaço de trabalho e à noite um local para tertúlia, para um concerto», por exemplo. A ideia de algo que não fosse estanque, «mas que tem que viver, ser dinâmico, adaptar-se sempre ao que as pessoas querem», o que o professor chamou «um centro recreativo do futuro».

Para encarar este espaço como algo de futuro, os alunos foram ainda instigados a pensar quem serão as pessoas a viver em Mira de Aire em 2050. «Estudantes de ensino superior, interessados pela Cultura, novas tecnologias. Pessoas com criatividade e empreendedoras, que gostam de Mira de Aire, que pretendem ter família e estabelecer-se», acompanhando a tendência atual das pessoas de fugir «do stress das cidades e virem para o sossego».

“É possível se houver união”

A população presente foi também desafiada pelo professor. Para facilitar uma discussão fértil, William Cantú lançou algumas questões, às quais cada pessoa respondeu de forma anónima num post-it que colou na sala para que fossem mote à conversa. Um hobbie que gostem de fazer; o que acham que distingue Mira de Aire e algo que falte na terra foram as perguntas feitas. Ouvir música, desenhar, ler, estar com a família, passear foram algumas das respostas à primeira questão que o professor salientou que iam ao encontro do cunho «muito cultural» que os estudantes também encontraram em Mira de Aire. Embora também tenham sido múltiplas as respostas à segunda questão, foi sem dúvida “as pessoas” a resposta mais dada quanto ao que distingue Mira de Aire. No que diz respeito ao que falta na terra, os mirenses falaram de «investimento, emprego, um espaço cultural, um espaço de convívio, melhores acessos, mais serviços de saúde». Algumas destas respostas vão ao encontro de um possível projeto para este espaço. «Acham estas coisas possíveis?», questão lançada pelo professor.

Os presentes estavam de acordo: «É possível se houver união, se não aparecerem sempre os mesmos para fazer as coisas». Entre um dos entraves à dinamização de um espaço comum está, na opinião de alguns, o facto de Mira de Aire ter muitas associações, o que faz com «que os esforços se dispersem e que, por vezes, existam muitos eventos na mesma altura». Um dos pontos em que todos concordaram foi o de que este «não pode ser um espaço estanque», tem de «ser dinâmico» para acompanhar diferentes necessidades. Também «não pode ser algo que desgaste o espaço», para o manter o mais sustentado possível. Em cima da mesa ficou a ideia de criar um «género de conferência das associações» para organizar os eventos e mobilizar todos para objetivos comuns. «Temos que cuidar uns dos outros e estar disponíveis para fazer».

Fotos | Jéssica Moás de Sá

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