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Quando o avô se torna pai

19 Março 2020
Catarina Correia Martins

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Catarina Correia Martins

19 Mar, 2020

Hoje, dia 19 de março, assinala-se o Dia do Pai. Esta data comemorativa pretende homenagear a figura familiar paterna e a influência dos homens na vida dos filhos. A efeméride é assinalada em vários países, no entanto a sua data muda. Em Portugal, tal como na maioria dos países ocidentais, o Dia do Pai celebra-se a 19 de março, coincidente com o dia de São José, que os cristãos acreditam ser o pai de Jesus.

Para comemorar, O Portomosense foi conhecer uma história em que alguém que não é pai, na aceção biológica da palavra, assumiu esse papel na vida da sua neta. Margot Oliveira, natural de São Jorge, perdeu a relação com o pai quando tinha cerca de 6 anos: «Ele decidiu ir embora. Voltou esporadicamente, nunca definitivamente, nunca mantivemos uma boa relação», conta, acrescentando que «hoje em dia é mesmo cada um para seu lado».

Margot Oliveira e a mãe viviam com o avô Francisco, avô e neta passaram a ser «a companhia» um do outro: «Foi isso que nos fez ficar tão próximos», considera. Apesar de afirmar que a progenitora ocupou o lugar de mãe e pai e que teve «uma vida dificílima» para lhe «proporcionar tudo» o que conseguiu «até hoje», foi no avô que encontrou «a figura masculina de que sentimos falta quando só temos a mãe». O avô Francisco «era o lado mais carinhoso, mais brincalhão, companheiro das coisas que às vezes não são tão sérias, de me chamar à razão de outras formas que uma mãe não faz», conta Margot Oliveira.

Não sabe se aquela relação é a que se cria entre um pai e uma filha e sublinha que o avô nunca quis substituir-se ao seu pai, no entanto, diz que, «de forma involuntária», se agarrou «a essa ideia»: «Era o que ele representava na minha vida, eu nem faço a mínima ideia do que é ter um pai, mesmo pai. Era muito pequena quando o tive e as recordações que tenho dele não são bem como um pai, então achei que aquilo que conheci no meu avô era essa relação, mas nem sei se é», frisa.

«O meu avô chamava-me sempre a bengala dele» e «tínhamos a tradição de, todos os dias à tarde, irmos até ao Mosteiro [da Batalha] e, enquanto ele andava de andarilho, eu andava de patins ou de bicicleta e andávamos os dois juntos, sempre. Era muito muito giro, é a melhor recordação que tenho dele. O meu avô dizia sempre que precisava de mim para ir a todo o lado, precisava da sua bengala. Íamos juntos à fruta, sempre, todos os dias, à padaria, dar sempre aquele passeio os dois, até ele deixar de sair de casa…», conta, emocionada. Cuidou do avô até ao final dos seus dias, juntamente com a mãe e avança que a sua partida, quando tinha 14 anos, foi «muito muito complicada»: «Vivia com o meu avô todos os dias, víamos televisão, fazíamos tudo e mais alguma coisa juntos e, de repente, ia à sala dele para perguntar se queria água e ele já não estava lá e isso foi dificílimo para mim», reitera.

O Dia do Pai é, ainda hoje, para si, difícil de «gerir emocionalmente». «Hoje em dia, ainda me custa mais por causa desta questão das redes sociais. É um dia em que me custa bastante abrir o Facebook, o Instagram, porque é só fotos e textos com os pais e isso sempre mexeu um bocadinho com o meu sistema nervoso», confessa Margot Oliveira.

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