Início » Quando o céu é o limite

Quando o céu é o limite

5 Agosto 2021
Jéssica Silva

Texto

Partilhar

Jéssica Silva

5 Ago, 2021

Com uma vista privilegiada para o Oceano Atlântico e para o arquipélago das Berlengas, quando as condições climatéricas assim o permitem, a Pista de Voo Livre situada no Vale Grande (Serro Ventoso) é uma das quatro existentes no concelho de Porto de Mós e que, a pedido de vários praticantes de parapente, foi recentemente melhorada pela Junta de Freguesia de Serro Ventoso. «Era uma pista que só tinha o placard e pouco mais, apesar de já estar registada. Não havia nada de especial», conta Carlos Cordeiro, presidente da Junta. As restantes pistas encontramo-las em Alvados, Arrimal e Mato Velho (Serro Ventoso).

Com mais de duas décadas de experiência em parapente, Pinto da Silva, 59 anos, militar reformado, natural da Golegã é, talvez, uma das pessoas que mais vezes se lançou a partir da Pista do Vale Grande, um local que conhece desde 1998, altura em que tirou o curso de piloto e onde era comum voar. «Aquela pista de descolagem de parapente é a mais alta da nossa zona e a que tem um desnível maior (440 metros)», refere, acrescentando que devido à predominância de ventos com orientação oeste-noroeste é bastante procurada na época estival. Há quem diga que voar de parapente é uma experiência única, no entanto, nesta pista em concreto parece ter outro sabor. Quem o diz é Pinto da Silva, que se desdobra em elogios quando fala das características daquela rampa, onde, garante, se consegue realizar um voo «espetacular». «A pista é linda e tem uma vista fabulosa. À frente daquela montanha não há mais nada, só vemos o mar lá ao fundo», sublinha.

Pinto da Silva é presidente do Asas do Oeste – Clube de Voo Livre que tem sede em Leiria e é considerado o «maior» clube do género a nível nacional, devido ao número de pilotos que integra (74). O instrutor de parapente com mais de 15 anos de carreira destaca as «boas condições» da pista localizada em Serro Ventoso que, assegura, permite uma descolagem «boa e ampla». Já a aterragem pode ser feita em baixo, onde pese embora os terrenos sejam «todos privados» existe sempre algum que está disponível e que permite aterrar «em segurança», ou em cima, embora essa opção não seja aconselhada a pessoas com pouca experiência, dada a dificuldade associada. «Desde que montaram lá um radar que é mais difícil aterrar, por isso é que só se recomenda a pessoal muito experiente», explica.

Antes de cada voo, Pinto da Silva é a pessoa responsável por analisar as condições meteorológicas e decidir se há ou não condições que permitam realizar a atividade desportiva. Ciente do perigo associado àquele que é considerado um desporto radical, o instrutor esclarece que as pessoas só voam em «determinadas circunstâncias». Para isso, recorre à National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), uma página na internet onde constam dados sobre «a atividade térmica, a formação de nuvens, a instabilidade atmosférica» e que, indicam, por exemplo a velocidade do vento em relação ao nível do solo». Mas quais são as condições consideradas ideias para se poder voar? O instrutor explica: «No caso daqui da serra, alinhamos 90 graus com a montanha e podemos ir entre 30 a 40 graus para a esquerda ou para a direita, a cerca de 20 a 25 quilómetros por hora».

Os cuidados a ter na hora de voar

Quem quiser andar de parapente deve ter formação teórica e «não pode ser maluco», confessa Pinto da Silva, entre risos, e explica porquê: «É um desporto muito técnico. Tem que ter a cabeça no lugar, porque senão vai acabar por durar pouco tempo, não tem hipótese nenhuma». Deve ainda estar munido de licença e seguro válidos, mas não só. A Pista de Voo Livre do Vale Grande está integrada na área restrita de Monte Real (LP-R60B), onde de «há uns meses para cá» o espaço aéreo passou a estar reservado à realização de atividades de treino com F16, que por vezes, sobrevoam essa zona a baixa altitude, existem outras preocupações que é essencial ter em conta. «O clube tem de pedir uma autorização à Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) para que possamos voar num raio de 5 100 metros e até aos 2 500 pés de altitude», afirma. No entanto, e mesmo havendo essa autorização, cada vez que se pretende voar de parapente, é obrigatório entrar em contacto com a Força Aérea Portuguesa (FAP) meia hora antes para saber se existe disponibilidade para que o voo seja feito. Caso essa permissão seja concedida é, ainda, necessário informar quando a atividade seja dada como terminada.

Com o aproximar das férias de verão e não estando o espaço aéreo «completamente livre», Pinto da Silva alerta para a necessidade de as pessoas que quiserem voar por iniciativa própria cumprirem com as regras em vigor, sob pena de correrem grandes riscos. «Tem que ser, senão podem levar com um F16 em cima. Já me passaram à frente e aquilo mete medo. É uma aeronave muito rápida que vai dos 3 mil aos 500 metros em poucos segundos. Se ele bater em cima, a pessoa nem ouve», frisa. Por isso, recomenda que quem esteja interessado em realizar algum voo avise a Junta de Freguesia, a Federação Portuguesa de Voo Livre ou a Asas do Oeste – Clube de Voo Livre, para que seja possível agilizar os procedimentos necessários para a sua realização. Apesar das condicionantes, o instrutor de parapente rejeita a ideia de que hoje em dia seja «muito complicado» voar: «O que acontece é que atualmente temos muito mais acesso à tecnologia, mas temos que a saber utilizar a nosso favor. O ar é de todos nós, tem é que ser utilizado em conjugação», considera.

Assinaturas

Torne-se assinante do jornal da sua terra por apenas: Portugal 19€, Europa 34€, Resto do Mundo 39€

Primeira Página

Publicidade

Este espaço pode ser seu.
Publicidade 300px*600px
Half-Page

Em Destaque