Os cortes constantes durante a chamada telefónica com Lino Santos, que inviabilizam até a concretização de uma comunicação razoável, mostram com precisão aquele que é um dos maiores problemas que ainda hoje subsistem nas zonas serranas do concelho de Porto de Mós. Na sua casa, em Arrimal, já tem interiorizado que sempre que recebe um telefonema é obrigado a “correr” para um local onde saiba que irá conseguir atender. Normalmente, o sítio estratégico é a cozinha, mas por vezes, é obrigado a ir para rua e mesmo assim, nada lhe garante que até lá a chamada não possa cair. A juntar à rede móvel fraca, está uma internet que também não é «a mais famosa», apesar de reconhecer que nem é «dos piores locais». «Eu para ter um pacote MEO satélite, com televisão, internet e telefone, sou obrigado a assinar um contrato de 24 “megas” quando na realidade tenho três “megas” em casa», denuncia.
Pai de dois jovens, de 12 e 17 anos, que a partir de agora irão utilizar a internet em simultâneo, Lino Santos admite que tem vivido com «alguma apreensão» os últimos dias antes da retoma do ensino online, agendado esta segunda-feira, dia 8 de fevereiro. «É evidente que estamos sempre com o coração nas mãos porque não sabemos se aquilo que temos vai aguentar», confessa. Com o país em Estado de Emergência e com o dever de recolhimento obrigatório, o arrimalense antevê que o «afluxo ao servidor» irá ser «muito grande» o que poderá ter repercussões na casa de cada um. «Uma coisa é estarem 10 clientes num servidor ao mesmo tempo, outra coisa é estarem 100 e os três “megas” poderão transformar-se em 2,5 ou dois», afirma. Apesar de assegurar que durante a primeira experiência das aulas à distância, a internet «deu para desenrascar» e que os filhos «não foram prejudicados», Lino Santos reconhece que «é uma limitação» e mostra alguma insegurança com o regresso do ensino online: «Nada me garante que isso vá continuar assim na segunda fase».
“Esta situação foi sendo chutada para canto”
Vários meses depois de ter endereçado uma carta à MEO/Altice onde denunciou a falta de acesso à internet por parte de várias crianças de aldeias serranas, durante o ensino online, Albertina Duarte garante que, atualmente, «está tudo igual». «Não soube de nenhuma alteração que tenha ocorrido a nível de cobertura», assegura, adiantando que vários vizinhos, que estão na MEO, relatam a existência de «falhas contínuas, avarias e problemas constantes». «Em março e abril do ano passado, o problema era desculpável, agora é inadmissível», critica.
A residir em Telhados Grandes, na freguesia de São Bento, Albertina Duarte tem uma filha e admite que hoje está «menos apreensiva» do que no ano letivo passado, porque «entretanto mudou de operadora». «Por beneficiar da proximidade da Serra de Santo António, que tem uma antena da Vodafone, passei a ter net através dessa operadora». Hoje em dia, garante, «tem resultado melhor», contudo reconhece que o acesso continua a ser «um bocadinho deficiente e bastante difícil» e ainda «não é nada que se pareça com a fibra» ou com aquilo que «seria expectável» que tivesse.
«Inglória» é como Albertina Duarte descreve a luta que há vários anos tem mantido com a MEO por causa de problemas de comunicação e falta de cobertura de internet. «Nunca ninguém olhou para isto e agora olham porque de repente se veem com o menino nas mãos», sublinha. Ainda assim, é com algum receio que olha para o futuro e para uma situação que, considera, «tem sido chutada para canto»: «Agora fala-se no assunto, mas se as crianças voltarem para a escola, esquece-se o assunto e nós ficamos na mesma».
Confrontado com a proximidade da data do início do ensino online e com a persistência de queixas sobre a dificuldade de acesso à internet em algumas zonas, o presidente da Câmara, Jorge Vala, admite que nesta fase o problema vai «provavelmente manter-se em muitas das localidades» onde já havia problemas e recorda que o acordo que o Município fez com a Altice foi «até dezembro de 2021». O autarca mostra-se preocupado com o problema mas garante que o executivo está a «tentar criar soluções» para que «todos os alunos» tenham acesso às aulas online.