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Rodas Food “salvou” 3 886 quilos de comida

5 Fevereiro 2020
Catarina Correia Martins

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Catarina Correia Martins

5 Fev, 2020

Foto: Raquel Carreira

O Rodas Food – Rodar para alimentar, um projeto levado a cabo pelo Rodas d’Aço Motor Clube, da Tremoceira, tem combatido o desperdício alimentar e entre setembro e dezembro do ano passado resgatou 3 886 quilos de comida que, depois, distribuiu por 16 famílias – compostas por quatro crianças e 26 adultos, três dos quais idosos – da freguesia de Pedreiras. Usar a «força voluntária» em prol da comunidade sempre foi um objetivo deste grupo no entanto o formato como o faz foi sofrendo alterações, estando agora em funcionamento este projeto que aplica o conceito Refood à realidade local.

Rodrigo Silva, o presidente do clube, explica a O Portomosense que tudo começou com um grupo de voluntários a aprender e a cooperar com o Centro de Operações da Refood em Alcobaça, com a intenção de montar um centro em Porto de Mós. O conceito é simples: recolher, em restaurantes ou outras superfícies, alimentos que tinham como o destino o lixo mas ainda em bom estado, e doá-los a famílias carenciadas. Com a experiência em Alcobaça, foram percebendo que a recolha de produtos frescos em supermercados era também uma possibilidade e que o desperdício era «em muito mais quantidade». «Surgiu-nos um parceiro local, o Centro Paroquial de Assistência do Juncal (CPAJ) que já aplicava o conceito mas sem usar o nome Refood», conta, através de um acordo com o Pingo Doce, em São Jorge.

O Rodas d’Aço foi convidado a colaborar e aceitou de imediato. Inicialmente, no primeiro mês de atividade, em setembro, a comida recolhida era entregue na Refood, em Alcobaça, mas depois começaram a chegar os pedidos “da terra”. Perceberam então que podiam criar uma rede de beneficiários e atuar na freguesia de Pedreiras. «A Refood tem um modelo de trabalho que é mais focado na recolha em restaurantes», o que, em termos logísticos, «é menos prático» porque implica, por exemplo, que o grupo possua uma grande quantidade de caixas para distribuir a comida. Então, de acordo com Rodrigo Silva, «do supermercado já vem tudo em embalagens individuais, o que, para separar em cabazes, é muito mais prático». «O que fazemos é pegar no conceito e aplicá-lo à nossa maneira, estamos a moldá-lo à nossa realidade, à nossa terra, é isso o Rodas Food», afirma.

A importância da distribuição num “meio pequeno”

Rodrigo Silva considera que irem “porta a porta” fazer a distribuição dos cabazes é uma das grandes diferenças relativamente ao conceito Refood, porque lhes permite chegar a «pessoas doentes ou idosas». «Sei que pode haver sempre um familiar ou amigo que pudesse vir buscar, mas temos o fator vergonha, nestes meios em que toda a gente se conhece», refere. É por isso que, na opinião do presidente, é necessário saber «o que define alguém que precisa de ajuda hoje em dia, não é necessário que esteja aí aos caídos ou a viver na rua, porque o que define é a capacidade financeira de se aguentar com a realidade atual», e exemplifica: «Reformas baixíssimas com pessoas com doenças complicadas em que a maior parte do dinheiro fica na farmácia; mães solteiras com vários filhos em que só entra um ordenado em casa; casais em que um fique desempregado ou que por doença deixe de trabalhar, já só fica um ordenado a cobrir o crédito de carro e casa… Se tomarmos atenção, há muita gente para quem este tipo de ajuda é mesmo muito importante», afirma.

É na sequência disto que Rodrigo Silva considera que o Rodas Food está «a fazer a diferença» e por isso, «era necessário» haver recolhas e distribuição, pelo menos mais uma vez por semana, estando já conversações em curso para tornar esse anseio em realidade. Atualmente, a ação decorre todas as quartas-feiras, a partir das 22h30. Na opinião do presidente do Rodas d’Aço, o ideal seria que o segundo dia fosse segunda-feira ou sábado, «para criar uns dias de separação e assim as famílias ficavam com alimentos para a semana toda». «Era um conforto para nós, porque sabíamos que estávamos a fazer uma entrega que garantia uma semana inteira de alimentos», conclui.

A ajuda vai chegando

A recolha regular é feita no Pingo Doce, no entanto há outras fontes que vão surgindo pontualmente. A organização do Festival de Sopas das Pedreiras «contactou o grupo para saber se queria fazer a recolha do excedente, o Grupo Desportivo das Pedreiras fez o mesmo em vários eventos», também da Fonte do Oleiro chegou um contacto: «Fizeram uma festa em que sobrou muito pão com chouriço e como sabem que fazemos esse reaproveitamento, contactam-nos para tratar disso», refere Rodrigo Silva.

As maiores necessidades

Os voluntários são sempre uma necessidade premente, no entanto, há outras necessidades que começam a ser urgentes. Uma delas é uma carrinha frigorífica, que permita fazer a recolha e a distribuição, mantendo os alimentos nas melhores condições possíveis e, além disso, «caso os cabazes não sejam entregues [na noite da recolha], possam ficar preservados em frigorífico», explica Rodrigo Silva. Outra mais-valia para o grupo seria ter alguém, formado em Educação Social, que pudesse ser voluntário no grupo para ajudar na avaliação dos possíveis beneficiários. «Posso correr o risco de estar a ajudar alguém que já esteja a receber apoio de outra instituição. Como é um meio pequeno, conhecemos a realidade das pessoas, mas se aparecer alguém que não é dos nossos conhecimentos, precisamos de ter um mecanismo que sirva para fazer essa triagem», adianta o presidente.

Alargar o projeto? Quem sabe, no futuro…

Rodrigo Silva afirma que o «grande plano» era criar um modelo, «nesta escala de freguesia», passível de ser replicado nas restantes freguesias do concelho. Para isso é necessário «encontrar pessoas com o mesmo perfil de solidariedade em cada uma das freguesias», chamá-las a aprender como se faz e depois poderão montar a sua rede «e ser independentes a trabalhar». Esse é, no entanto, um projeto para o futuro.

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