Foi ainda antes de virar o milénio, marcava o calendário o ano de 1998, que Rui Pereira, que completava já cinco primaveras, herdou o “bichinho” da música. A mãe cantava fado e o pai, aficionado pela percussão, era baterista numa banda. Na escola, escolheu a mesma sonoridade que o progenitor – juntou-se à banda do Instituto Educativo do Juncal (IEJ), onde se tornou protagonista atrás da bateria. Já na trilha sonora da sua vida reinavam Pearl Jam, Green Day e Ornatos Violeta, das suas maiores inspirações no auge da adolescência. «Lembro-me perfeitamente, inspirava-me um bocadinho neles. Mesmo depois, mais tarde, a cantar, foi um bocadinho por ali», conta-nos Rui Pereira.
A vocação para o canto veio com o passar do tempo, mas não chegou de “mãos a abanar”: «O meu percurso começou com amigos, alguns da escola e outros de fora. Começámos com aqueles projetos de garagem e as coisas começaram depois a ir por aí. Em 2009-2010 estive sempre em bandas e depois a partir de 2011-2012 já comecei a ter o projeto em meu nome, ainda com malta amiga».
Rui Pereira, que cresceu na aldeia da Cruz da Légua, assinala esse mesmo ano de 2012 como um ponto de viragem, por o ter despertado para a voz que “residia” dentro da sua cabeça e que afirmava querer algo mais daquilo que na altura só encarava como um hobby. Esta transição foi especialmente marcada pela sua participação num concurso de talentos, dinamizado pela Rádio Dom Fuas, da qual saiu vitorioso, ganhando o destaque dos holofotes do palco das Festas de São Pedro, em Porto de Mós. «Éramos 10 finalistas, fomos atuar ao palco principal nas tasquinhas e consegui vencer. Foi a partir daí que comecei a ter mais um bocadinho de visibilidade no concelho e no próprio distrito e as coisas começaram a ficar um bocadinho mais sérias. Comecei a pensar realmente que, se calhar, tinha que a apostar mais naquilo que era a minha carreira a solo e foi a partir daí que comecei a compor, a escrever…», revela.
No entanto, foi só em 2018 que o cantor gravou pela primeira vez em seu nome. A inspiração musical proveniente do rock clássico internacional e português foi deixada na “gaveta” e foi aberto espaço para uma outra – o «pop e o reggaeton», que hoje definem a sua música. Para o artista, esta mudança deu-se graças às suas raízes, às «festas da terra» que transportavam a «boa energia pelo concelho» e admite que um dos lugares que frequentou para escrever e desenvolver o seu processo artístico se situa no coração da vila de Porto de Mós, onde se ergue o Castelo.
Hoje, aos 31 anos, o cantor integra o podcast do canal do YouTube de David Antunes & The Midnight Band, Canta-me uma História, da autoria do músico natural de Santarém. A ele juntam-se o fadista humorístico Emanuel Moura e artistas convidados que se encarregam de fazer várias interpretações de temas nacionais e internacionais. Segundo Rui Pereira, tudo surgiu através de «um simples telefonema». «Estava eu em casa bem descansadinho quando o Emanuel Moura me ligou. Já somos amigos há alguns anos e também já tinha conhecido o David, mas nunca desta forma. Nesse telefonema, pergunta-me se eu queria fazer parte da equipa. Na altura já lá estava o Emanuel e a Jéssica Cipriano, e chamaram-me para eu poder ajudá-los com a parte de multimédia e para estar ali naquele meio. Eu aceitei logo, como é óbvio, porque além de ter percebido que iria estar com malta amiga, iria poder também estar a fazer aquilo que eu gosto», explica.
A presença no podcast, que teve já vários espetáculos ao vivo, trouxe uma «enorme projeção» para a música de Rui Pereira, nomeadamente para o single Vem Curtir o Verão. «A qualquer lado que vou não há ninguém que não se meta comigo a cantar a canção ou que peça no próprio concerto. Foi a primeira canção que eu gravei e compus, foi tudo escrito por mim e tem um sentimento muito especial para mim», sublinha.
A sua música tem também “viajado” pelas televisões portuguesas, animando programas como o Preço Certo, Somos Portugal, Dois às 10 e A Nossa Tarde. Mas o artista não se fica pelos televisores – em julho deste ano pisou pela primeira vez um dos palcos do festival de música Meo Marés Vivas em Vila Nova de Gaia. «Foi incrível poder estar com outra malta que foi a minha influência na altura, os Ornatos Violeta, António Zambujo… Poder estar num dos palcos do Meo Marés Vivas, um festival com um nome muito grande no nosso país, foi uma sensação única que eu levo para a minha vida», confessa.
E porque dizê-lo não é suficiente, o cantor decidiu eternizar a frase «a música é tudo o que me define» ao tatuá-la no seu braço, porque na sua opinião esta arte é algo de que «todos precisamos, todos os dias». «Ninguém vai para casa sem ligar o rádio. A música transmite muito o nosso bem-estar, aquilo que nós somos. Traz-nos coisas muito boas. Mesmo quando estamos um bocadinho mais em baixo, basta ligar a rádio ou irmos ao YouTube e ouvirmos alguma coisa que conseguimos ficar com outra energia», conclui.
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