No seguimento da conversa sobre a última expedição realizada pela Sociedade Portuguesa de Espeleologia (SPE), na Gruta dos Moinhos Velhos, conhecida por Grutas de Mira de Aire, a presidente, Cristina Lopes, denunciou um problema que, garante, nos últimos anos, tem vindo a condicionar algumas das explorações. «Têm acontecido inundações frequentes na zona da galeria, provocadas por ruturas brutais do sistema de abastecimento de água da Câmara de Porto de Mós», revela.
A situação é de tal forma imprevisível que, de acordo com a presidente da SPE, é impossível prever que condições a equipa de espeleólogos encontrará no dia da exploração: «Nós chegamos lá hoje e está completamente seco e se voltarmos passado dois dias aquilo já pode estar cheio até acima». Antes de cada expedição é sempre montado um sistema que permite «esvaziar a água rapidamente», caso seja necessário, e que impede que ninguém fique preso. Porém, Cristina Lopes explica que no caso de haver alguma rutura súbita, sem que a consigam controlar, esse esforço poderá relevar-se infrutífero: «Imagine o que é estar a tentar retirar a água para uma bomba e do outro lado a água estar a ser injetada pela conduta? Não se consegue retirar e aí nós corremos um sério risco de vida», alerta.
Confrontado com o assunto, o presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós confirmou a existência de ruturas ocorridas nas Grutas de Mira de Aire mas garantiu que têm sido feitas «intervenções significativas» no abastecimento de água de Mira de Aire. Segundo Jorge Vala uma dessas intervenções aconteceu há dois anos, após ter sido detetada e reparada uma rutura de «grandes dimensões» e, desde então, assegura, «as coisas têm estado estabilizadas». A descoberta de uma rutura na conduta principal foi feita durante a realização de um diagnóstico à rede e rapidamente se percebeu que já existia «há vários anos»: «A bomba estava em esforço, estava a bombear muito mais do que aquilo que era consumido. Depois de reparada, em 24 horas, passámos a bombear menos de um milhão de litros de água por dia», destaca. Desde essa altura, o autarca considera que tem havido o cuidado de «manter uma avaliação dos sistemas» na relação «entre aquilo que é fornecido e o que é captado», o que permite que com alguma «facilidade» seja possível perceber qual a dimensão das fugas, de eventuais ruturas. «Felizmente não temos tido anomalias no sistema», afirma.
Embora não negue que possam existir outras ruturas, o autarca acredita que, a existirem, serão em número «muito menos significativo»: «Estou certo que já não temos os problemas com aquela dimensão que existiam no passado, até porque não temos tido informação da própria SPE sobre essas inundações anormais, provocadas por rebentamentos de condutas», justifica, acrescentado que, caso aconteçam, serão reparadas «na hora ou no dia».
Poluição em Meandros dos Fósseis pode durar “décadas” a desaparecer
Aproveitando o facto de se estar a abordar as expedições realizadas pela Sociedade Portuguesa de Espeleologia (SPE), a presidente, Cristina Lopes, voltou a mostrar-se preocupada com o problema da poluição existente no outro lado da Gruta dos Moinhos Velhos, onde, neste caso, será «impossível» qualquer tipo de exploração «nas próximas décadas», uma situação que, aliás, O Portomosense noticiou em outubro de 2020. A presidente da SPE repudia, por completo, o estado em que se encontra essa ramificação do labirinto da Gruta da Pena, em Meandro dos Fósseis, onde, assegura, se encontra um ambiente «extremamente tóxico». «Ninguém vai mergulhar numa água daquelas, nem sequer conseguimos estar lá a falar normalmente sem que a garganta pique e arranhe. É como estar dentro de um camião-cisterna que transporta produtos tóxicos», descreve.