Mercado Brasil Aqui – o nome desta loja já nos dá muitas pistas, mas quisemos desvendá-las ao pormenor. Íris Sena, de 28 anos, natural de Natal (nordeste do Brasil), juntamente com o seu marido, decidiu que queria trazer um pouco do seu país até Portugal e, mais concretamente, até Porto de Mós. Esta loja, localizada no Centro Comercial Jardim, no centro da vila, vende exclusivamente produtos brasileiros, praticamente todos eles vindos diretamente deste país. Aberta desde o segundo dia deste mês, «está a correr muito bem», garante a proprietária. Mas recuando um pouco, como surgiu esta ideia? «Eu trabalhava numa fábrica, mas já estava muito cansada, sentia que não tinha tempo para nada, eu e o meu marido tínhamos um dinheiro guardado com o intuito de comprar uma casa», começa por explicar. No entanto, não estava a ser fácil conseguir financiar a habitação, até porque era requerido um tempo mínimo de residência em Portugal que o casal ainda não cumpria. Acabaram, por isso, por pensar em investir o dinheiro de outra forma. «Pensámos colocar o mercado aqui em Porto de Mós porque há aqui muitos brasileiros, em Leiria sei que existe um mercado assim, mas sairmos daqui para Leiria para ir comprar estes produtos é muito longe e por isso achei que era uma boa ideia para aqui e que ia dar certo e está a dar certo, graças a Deus», frisa Íris Sena.
Mas se inicialmente este era um mercado pensado sobretudo para brasileiros – «até como uma forma de se sentirem mais próximos de casa através dos produtos aos quais estavam habituados» – o «impressionante» aconteceu. «Vendemos muito para os portugueses também, sobretudo a paçoca é muito procurada, como temos a escola aqui ao lado. as crianças, os adolescentes e até adultos compram muito», diz a proprietária. Hoje, diria, a venda distribui-se 50/50 por portugueses e brasileiros: «Para falar a verdade não esperava, achei que o meu público seriam os brasileiros, mas fiquei surpreendida, não é só os adolescentes, todas as idades, fico feliz com isso», acrescenta Íris Sena. Na sua opinião muito se deve, além da convivência entre portugueses e brasileiros, às redes sociais, nomeadamente o Tik Tok. «Muita gente chega aqui e diz que viu um determinado produto no Tik Tok e que quer provar, quer saber o gosto que tem, é pela curiosidade», diz ainda.
Apesar de já ter uma variedade de produtos considerável, exemplos como cuscus, chás, feijão carioca, leite nido, vários chocolates e doces típicos, açaí, doce de leite, carne seca, sumos variados, há ainda produtos que Íris Sena está a procurar trazer para Portugal e que até agora não teve sucesso. «Espero um dia conseguir trazer mais coisas, para as pessoas ficarem mais perto do país», sublinha. No futuro, o sonho seria abrir outra loja idêntica, ainda sem certeza do sítio: «Estamos a ver, a estudar e a analisar, mas se der certo, o meu marido sai do emprego e fica cada um de nós numa loja».
“Não troco Porto de Mós por nada”
Íris Sena e o seu marido estão em Portugal há quatro anos, mas apenas há três em Porto de Mós. «Primeiro fomos para o Algarve porque era onde estava praticamente toda a família do meu marido, ficámos por lá uns meses, mas além do aluguer ser caro, tínhamos apenas seis meses para sair da casa porque já estava alugada para o verão», recorda. A falta de emprego no Algarve foi outro dos motivos que os fez começar a procurar outras opções. «O meu cunhado começou a pesquisar por Leiria e viu que tinha muitas fábricas, depois veio a pandemia e pensámos que era a altura ideal para mudar, pegámos no que tínhamos e viemos para Leiria onde alugámos uma casa», conta. Mais tarde, o marido e o cunhado arranjaram emprego numa pedreira em Porto de Mós. «Aí como dava quase uma hora e meia para ir e voltar de Leiria todos os dias, o gasto de combustível e de tempo não dava e arranjámos uma casa em Porto de Mós», explica.
«Eu gosto muito de Porto de Mós, não troco Porto de Mós por nenhuma Lisboa ou Porto, acho lindo, mas aqui é um ambiente mais calmo, sinto-me muito bem aqui», salienta. Apesar de no Brasil ter vivido em lugares mais agitados, «estranhamente», encontrou em Porto de Mós o ambiente ideal. «Quando cheguei aqui, eu e o meu marido, a restante família, amámos», lembra. Voltar para o Brasil, por agora, está fora de questão: «Não penso em voltar, só se Deus quiser que eu volte, mas eu gosto muito de Portugal e quero permanecer aqui durante muito tempo».
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