São Bento esteve em festa, no passado dia 30, com a inauguração de um monumento de homenagem aos antigos combatentes e às famílias da freguesia. Dezenas de sambentonenses reuniram-se no Largo Luís de Camões, na sede de freguesia, para assistirem e, nalguns casos, tomarem parte ativa na cerimónia, no decorrer da qual foi inaugurado um monumento que não só pretende homenagear os 91 filhos da terra que combateram na 1.ª Guerra Mundial (em França e Moçambique) e na Guerra Colonial (em Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, Timor e Macau) mas evoca também todas as famílias da freguesia, segundo explicou o presidente da Junta no seu discurso. Tiago Rei referiu que «faz parte das celebrações reconhecer e homenagear todos aqueles que por cumprimento do dever pátrio partiram da nossa freguesia para terras longínquas e todos os familiares e amigos que viveram angustiados até ao dia do regresso» mas que «esta homenagem não deve ser entendida no sentido estrito como uma homenagem aos ex-combatentes da freguesia mas sim na abrangência de todas e de todos os sambentoneses que em determinado momento das suas vidas rumaram para países distantes à procura de novos desafios e crentes numa vontade inequívoca de alcançar uma melhoria significativa nas condições das suas vidas e com o seu esforço e dedicação elevaram o bom nome da sua terra natal».
No 88.º aniversário da fundação da freguesia quis, então, a Junta «perpetuar para a história» não só os antigos combatentes mas também todos os sambentonenses «que aqui ou em qualquer canto do mundo, com a sua dedicação, saber e abnegação elevam o bom nome da nossa terra». «Este monumento não está concebido só para o passado mas também estará para o presente e para o futuro», sublinhou o autarca, referindo que as pessoas da terra que se distingam «com feitos em prol da comunidade» também terão ali espaço para o devido reconhecimento público, mediante critérios ainda a estabelecer.
Numa cerimónia marcada por gestos simbólicos, Tiago Rei aproveitou o momento para elucidar os presentes sobre o significado dos elementos que compõem o monumento idealizado por Telmo Conceição, major do Exército na reforma, e levado a cabo por vários artistas do concelho e da região. «O monumento foi realizado no sentido de elevar alguns sentimentos vividos por aqueles que partiram cheios de ansiedade em direção aos cinco cantos do mundo, simbolizados aqui por cinco globos de pedra que se encontram no topo dos obeliscos. O mentor do monumento procurou que o mesmo não transmitisse uma envolvência bélica pesada, que poderia deturpar o real significado do mesmo», disse o autarca. As palavras estão inscritas em chapa remetendo para «o espólio abandonado no campo de batalha» mas que aqui, em vez do negro evocativo «da destruição e do luto», ganham tonalidades mais alegres e que vão mudando ao longo do dia de acordo com a incidência do sol em cada momento. Já no obelisco central está colocada uma coroa de loureiro, o prémio aos vencedores. «No topo temos um globo terrestre a ser ladeado por duas mão de pedra, expressivas, suportadas por dois braços fortes com o sangue a correr-lhes nas veias», representando, por um lado, «a ideia de que se houver vontade podemos ter o mundo nas nossas mãos» e, por outro, a força dos combatentes no campo de batalha. As correntes lembram ainda a união de toda a comunidade.
Cerimónia repleta de simbolismo
A cerimónia teve início com a apresentação da força às entidades militares, nomeadamente, o tenente-general, Chito Rodrigues, o presidente da Liga dos Combatentes, e o coronel, Marques Avelar, o comandante do Regimento de Artilharia 4, de Leiria. Seguiu-se um dos momentos de maior carga simbólica: a chamada dos 91 sambentonenses que combateram por Portugal. Os que ainda estão entre nós disseram “presente” de viva voz enquanto que pelos já falecidos foi toda a assembleia a fazê-lo e dessa forma se transmitiu a ideia que apesar da sua ausência física serão sempre recordados.
O pároco da freguesia, padre Luís Ferreira, procedeu à bênção do monumento e deu-se o descerramento da placa inaugural por parte dos presidentes da Liga dos Combatentes, da Junta e da Câmara. Dois escuteiros sambentonenses que integram o Agrupamento de Escuteiros 370, de Porto de Mós, levaram uma coroa de flores que seria depositada por Chito Rodrigues e Tiago Rei junto ao monumento. O ponto seguinte foi a homenagem militar aos combatentes tombados em defesa da pátria e em operações de apoio à paz. Concluída essa etapa do programa, houve os discursos da praxe, foram entregues lembranças aos artistas e entidades que mais de perto estiveram envolvidos na edificação do monumento, bem como aos antigos combatentes. O dia terminou com a celebração de missa em honra dos combatentes já falecidos, na qual além dos fiéis locais, participaram as autoridades civis e militares presentes.
“Este monumento é um marco de cidadania”
«É uma honra, um dever e um privilégio para a Liga dos Combatentes estar associada a este momento festivo. Um marco de cidadania que brotou espontâneo e que acrescenta mais história à determinação quotidiana e secular dos seus sambentonenses», disse o presidente da Liga dos Combatentes, tenente-general Chito Rodrigues no seu discurso na cerimónia de inauguração do monumento de homenagem aos antigos combatentes promovido pela Junta de Freguesia de São Bento. «O monumento alçado por afeto e engenho, a pulso e determinação, verte a alma dos sambentonenses e enriquece a história desta freguesia como uma homenagem aos valorosos combatentes de São Bento. Esta solenidade constitui um preito que de forma indelével assinala o dia que antecede o 88.º aniversário da criação da freguesia de São Bento, terra da pedra preta ou terra da calçada e que, como ex-líbris desta região, corre mundo e tão adequadamente constitui parte deste monumento», acrescentou, num discurso pautado por várias referências à realidade local da freguesia.
Já o presidente da Câmara começou por «felicitar a Junta pela iniciativa», considerando que «homenagear os seus antigos combatentes é também recuperar a memória daquilo que eles foram importantes para o nosso país e, mais em particular, para o nosso concelho». «Esta referência que é feita aqui, hoje, e que fica em memorial, diz bem da importância que a Junta de Freguesia está a dar aos seus habitantes, àqueles que combateram mas, também, uma homenagem em vida para a resiliência que tiveram, não apenas ao serviço da pátria mas também por tudo aquilo que representa esta freguesia para o concelho de Porto de Mós», realçou.
No final, O Portomosense falou com Telmo Conceição, que foi convidado pela Junta para auxiliar na organização da homenagem e que idealizou o monumento. «Não só o idealizei em termos de conceito, como falei com os artistas que o executaram e as empresas fornecedoras e estive sempre em contacto com a Liga dos Combatentes. Enfim, procurei estar à altura do desafio e da confiança em mim depositados», disse. Tudo aquilo em que estive envolvido de forma direta está documentado por orçamentos, faturas e outros elementos, como não poderia deixar de ser», acrescentou. Telmo Conceição mostrou-se «muito satisfeito com a forma como tudo decorreu e pelos elogios ouvidos» relativamente ao monumento que os membros da direção da Liga dos Combatentes presentes, classificaram como «de top a nível nacional». «Procurámos com parcos recursos fazer uma obra que deixasse os filhos da terra, orgulhosos, e penso que isso foi conseguido. Por outro lado, houve muito profissionalismo e um encontro de boas vontades. Artistas e empresas deram o seu melhor e isso refletiu-se, inclusive, nos valores cobrados, que foram os mínimos que lhes foi possível fazer, porque tiveram em atenção o fim a que se destina o monumento», concluiu.