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Ser bombeiro é…“ser um super-herói” ou “ser maluco”

21 Junho 2019
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

21 Jun, 2019

Foto: Jéssica Moás de Sá

No Dia do Bombeiro Português, a 28 de maio, O Portomosense acompanhou a equipa de emergência dos Bombeiros Voluntários de Mira de Aire durante todo o dia. De um lado estava Filipe Santos, com apenas 20 anos mas com um amor aos bombeiros que já vem «desde miúdo», de outro, Yuriy Feshchak, que não é português, mas foi “adotado” para a corporação há 15 anos. Pouco passava das 9 horas quando chegámos ao quartel. Filipe e Yuriy foram, por coincidência, as primeiras caras que avistámos. Já com uma volta dada ao espaço para conhecer as instalações, parámos para conversar sobre o percurso de cada um.

Filipe Santos confessa que o gosto pelos bombeiros foi partilhado, em criança, com um vizinho com quem «era unha com carne». O pai desse vizinho «era bombeiro» e os dois queriam «como qualquer criança» ter uma profissão de «super-heróis». O amigo de infância acabou por ir viver para França onde é bombeiro, mas surgiu depois em Mira de Aire uma «escolinha de bombeiros», para a qual Filipe entrou com 11 anos. «Em vez de irmos jogar à bola vínhamos para aqui», conta o jovem bombeiro que aos 16 anos passou a cadete, aos 17 a estagiário e há três meses que é bombeiro profissional. No ano passado foi nomeado o bombeiro do ano. No caso de Yuriy, nascido na Ucrânia, tem atualmente 41 anos e chegou a Portugal há 19, onde começou por trabalhar na construção civil. Chegou aos bombeiros por impulso dos amigos. O despertar aconteceu durante um almoço, quando tocou a sirene e os amigos «abalaram todos» e Yuriy para «não ficar sozinho» foi com eles. Ficou à espera dos amigos no quartel e quando chegou o comandante perguntou-lhe o que era «preciso fazer para ser bombeiro» porque se os «amigos» iam ele também queria. O comandante foi pronto a responder, ao dizer que «é preciso ser maluco» e Yuriy respondeu na mesma moeda: «Então pode inscrever-me», contou entre risos. Yuriy considera ainda que a sua adaptação a Portugal «foi melhor do que estava à espera».

A equipa que está escalada para emergência é sempre a primeira a avançar no socorro de emergências pré-hospitalares. No tempo que sobra, «porque há dias com muitas emergências e dias muito parados» há outras funções para desempenhar, uma das quais, fazer a chamada «check list das viaturas de emergência» para confirmar se está tudo bem. Ainda na parte da manhã, fizeram a vistoria a uma das ambulâncias. Esta função serve essencialmente para perceber se os veículos «têm os materiais todos, como ligaduras, compressas, soros ou sacos de gelo e água quente», informação que fica toda registada.

As memórias

De manhã não houve emergências para socorrer, ao contrário do dia anterior que «tinha sido muito agitado», contam os bombeiros. Por coincidência, explica Filipe Santos, é quase sempre quando está a «começar a almoçar» que «toca o telefone com uma emergência». Não aconteceu desta vez. Yuriy foi almoçar a casa, a 310 passos, contados por ele, do quartel. No espaço reservado para as refeições e que é também uma sala de estar, juntaram-se vários bombeiros para o almoço quando passava pouco tempo do meio dia. Nem sempre é assim, porque há fases do ano em que estão mais bombeiros no quartel, sobretudo no verão, com equipas de prevenção aos incêndios permanentes, como foi o caso deste dia. O almoço, que se começou a preparar logo pela manhã, foi pago por todos. Este espírito de partilha é assim em todos os parâmetros da corporação, frisam Filipe e Yuriy, que destacam que os bombeiros são a sua «segunda família».

Regressado Yuriy do almoço e depois da pausa para o café, continuámos na tarefa de verificação das ambulâncias. Houve tempo para partilha de estórias, das menos felizes às memoráveis, no bom sentido. Filipe confessa-se «um coração mole» e contou-nos que no dia anterior tinha ido buscar uma «senhora de mais de 70 anos, doente terminal que não falava muito» e que de repente, apesar da idade, «chamava intensamente pela mãe, como se estivesse ali ao lado», algo que o emocionou. Yuriy diz que presenciar «a morte» é sem dúvida a parte mais difícil, e recorda o dia em que um «bebé de quatro meses» lhe morreu nos braços. Em sentido contrário, o bombeiro já teve a oportunidade de fazer um parto, algo que o «marcou», sobretudo porque a mãe «não sabia que estava grávida». Entrar em locais em chamas são também situações «difíceis de esquecer» para os dois bombeiros, principalmente assistir ao sofrimento das pessoas que «não querem abandonar» as suas casas.

Procedimentos no socorro

A tarde revelou-se mais agitada. A equipa de prevenção a incêndios foi chamada para um fogo, que acabou por se revelar de pequenas proporções, mas que juntou todos os bombeiros em torno da central de comunciações. Mais tarde, foi a nossa vez, ou melhor, da equipa de emergência, de sair. Yuriy foi o socorrista por já ter formação de INEM, Filipe foi o condutor, tendo também formação de Tripulante de Ambulância Manual. O serviço destinava-se à evacuação de um doente do Centro de Saúde de Mira de Aire para o Hospital de Leiria.

A paciente, a «dona Maria», caiu e bateu com a cabeça contra um ferro. No centro de saúde foi suturada com sete pontos, no entanto, explica Yuriy «por prevenção, como há muitos traumatismos cranianos encefálicos» causados por estas situações é importante ir ao hospital realizar exames. Na ambulância são logo avaliados os sinais vitais. Neste caso a doente tinha a tensão relativamente alta, mas estava tranquila, «não perdeu os sentidos» e estava «orientada».

Neste momento, falámos com o Filipe, que admite que adora «conduzir uma ambulância», tem pena, no entanto, que os condutores, por desatenção ou por «não quererem saber» não respeitem as regras perante a ambulância. Chegados ao hospital, é feita a inscrição da paciente e depois, assim que chamados, segue-se a fase de triagem. Neste momento, o socorrista entrega todos os dados à enfermeira que depois atribui a pulseira com o grau de urgência. A «dona Maria» ficou entregue ao hospital e nós seguimos de volta ao quartel.

No Dia do Bombeiro, Filipe e Yuriy consideram que «dão» o seu «melhor» pelo quartel e garantem que «cada vez que toca a sirene» estão lá, prontos para dar o seu contributo.

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