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“Ser jornalista é um processo de aprendizagem permanente”

14 Janeiro 2021
Jéssica Silva

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Jéssica Silva

14 Jan, 2021

Há meia dúzia de dias, Alexandra Barata, natural de Leiria, completou meio século de vida, 25 anos dos quais têm sido dedicados a «contar histórias», naquela que encara como sendo a sua «missão»: o jornalismo. Apesar de já ter tido três experiências como assessora de comunicação, assume que é no jornalismo que está a sua grande preferência, mas nem sempre foi assim. No início, revela, sentiu uma «grande divisão interna» sobre qual a área por que gostaria de enveredar, porém acabou por seguir as pisadas do avô, integrando em 1995 a equipa do Diário Económico. Desde então já fez parte de vários órgãos de comunicação nacionais e regionais, sendo atualmente correspondente do Jornal de Notícias e colaboradora do Jornal de Leiria.

«Ser jornalista é um processo de aprendizagem permanente, porque estão sempre a acontecer coisas novas e a surgir novos desafios», diz. Duas décadas depois de ter iniciado o seu percurso profissional, muito mudou no jornalismo. A principal diferença, garante, foi a evolução da tecnologia com os jornais impressos a passarem a ter uma presença assídua no digital, de forma a acompanhar «os hábitos de consumo» dos leitores. «Hoje dá-se uma grande primazia à multimédia», sublinha Alexandra Barata, acrescentando que as tecnologias são um dos maiores desafios na profissão, principalmente para as pessoas da sua faixa etária, que não estando tão familiarizadas com este «novo mundo» tiveram que se adaptar para conseguirem ser «jornalistas completos». A evolução do jornalismo obrigou os jornalistas a tornarem-se «pessoas multifacetadas» e com capacidade para «dar resposta a várias plataformas», no entanto, admite, «não se revê» no pensamento de que os jornalistas «devem saber fazer tudo»: «Depressa e bem, não há quem. As pessoas ao terem que estar preocupadas com tantas coisas não podem fazer um trabalho tão válido ou tão bom, como se estivessem concentradas numa só coisa», sublinha.

A importância cada vez maior do online acabou por ter influência naquele que é o trabalho do jornalista que se viu obrigado a viver, ainda mais, sob a tirania do tempo. «Cada vez mais se sente a pressão do tempo e uma vontade de ser o primeiro a dar», admite a jornalista, explicando que essa “luta”, anteriormente travada entre as rádios e a Agência Lusa, passou a envolver todos os media com consequências naquele que é o produto final. «Existe pouca reflexão e as pessoas deviam olhar para a informação que têm e tentar ir um bocadinho mais longe», constata.

Os jovens jornalistas

Apesar de admitir que os jornalistas mais jovens têm hoje uma grande facilidade em lidar com as ferramentas digitais e que essa é uma mais-valia que os distingue dos da “velha guarda”, Alexandra Barata defende que as redações sejam constituídas por ambas as faixas etárias. «As mais velhas têm a experiência e a memória que é fundamental no jornalismo. Por exemplo, numa entrevista a uma pessoa com uma certa idade, um jovem pode preparar-se muito bem mas dificilmente se conseguirá preparar tão bem como uma pessoa mais velha que, acompanhou o contexto histórico e tem outros conhecimentos», justifica.

Alexandra Barata refere que sempre foi «muito combativa» e deixa claro que nunca cedeu às «poucas pressões» que sofreu. Contudo, a visão que tem atualmente é de que as gerações mais novas, seja devido à imaturidade ou à dificuldade em arranjar trabalho, por vezes «sujeitam-se a situações bastantes complicadas» e que podem descredibilizar a profissão: «Muitas vezes aceitam fazer coisas que não deviam. Tenho visto muitos atropelos ao código deontológico», frisa. A jornalista assume que «não gosta de rótulos e detesta generalizações» e por isso, confessa alguma tristeza quando nota que por causa de alguns profissionais, as pessoas tendem a generalizar. «Isso deixa-me muito desanimada porque apesar de alguns merecerem o rótulo de maus jornalistas, não concebo que se meta tudo no mesmo saco», desabafa.

É sobre os assuntos de sociedade, «aqueles que não têm grande espaço mediático», que Alexandra Barata assume maior predileção e uma «grande apetência». «É importante que haja a preocupação de dar voz àqueles que são sistematicamente discriminados. Esse é um caminho que quero cada vez mais seguir», admite. A jornalista defende que «o jornalismo tem de espelhar a realidade», mas para isso não tem que ser sensacionalista, o «jornalismo abutre» como lhe chama, e com o qual «não se identifica de todo», em que é pedido aos jornalistas que façam trabalhos que «facilmente puxem à lágrima». «As pessoas estão numa fase muito difícil da vida e os jornalistas, muitas vezes, desrespeitam-nas e exploram fragilidades e isso para mim é arrepiante», admite, defendendo que, em alguns casos, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social deveria ser «mais atuante» para que esse tipo de situações «não se perpetuem».

Que atitude devem ter os jornalistas quando entram no mercado de trabalho?

Muito se fala sobre a atitude que, por vezes, alguns jornalistas recém-formados têm perante a profissão. Mas afinal qual deve ser o comportamento de alguém que tenha a oportunidade de integrar uma redação? A pedido d’O Portomosense, Alexandra Barata, que também já foi docente no Instituto Politécnico de Leiria, deixa alguns conselhos para quem sonha um dia vir a ser jornalista. «Ter uma atitude de humildade e grande interesse em aprender» são dois dos aspetos que destaca, a que se junta a capacidade de «estar recetivo a críticas». «Estar sempre informado» e procurar ter «diversidade de fontes de informação», são outras das sugestões. A jornalista sublinha ainda que é essencial «cumprir o contraditório e o que ficou acordado», assim como escrever de «uma forma que todos compreendam».
Um jornalista deve ser «curioso, atento, corajoso e crítico», defende a profissional, considerando que a par com esses traços, existe outra característica que deve compor o seu ADN: saber ouvir. «Quando nós damos importância ao outro, a pessoa sente-se confortável e vai-se criando uma relação de empatia. Mas se a pessoa percebe que o jornalista só quer fazer duas perguntas a despachar, não se sente confortável e responde o mínimo», explica.

Nuno Brites | In Touch Stories | foto

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