“Shop On” em Porto de Mós teve fraca adesão popular

31 Outubro 2022

Isidro Bento

Voltou às ruas da vila de Porto de Mós, o Shop On, uma iniciativa de promoção e animação do comércio local, organizada pela Associação Comercial e Industrial de Leiria (ACILIS) em parceria com o Município. O regresso aconteceu no dia 15 de outubro e as opiniões dos comerciantes com quem conversámos dividem-se: há quem se queixe de que ficou «aquém das expectativas» e há quem fale de um «regresso em grande». No entanto, a maioria opta pelo meio termo: «Já foi bem melhor, mas deixar de fazer também não é opção, o comércio de Porto de Mós precisa deste tipo de ações».

António Vala, o proprietário de uma das lojas mais antigas da vila, a Sapataria Vala, é um dos que defendem que este tipo de ação é de grande importância para o comércio local e, por isso, lamenta que tenha havido «comerciantes que se inscreveram e nem sequer abriram». Apesar de não saber as razões, considera que «é bastante aborrecido tanto para a ACILIS como para a Câmara investirem na animação de rua e depois só abrirem meia dúzia de lojas». Este ano, o lojista viu «mais gente na rua que num sábado normal, mas em termos de clientes, zero». Apesar disso, fez questão de cumprir o compromisso de manter a loja aberta até às 23 horas.

Tal como aconteceu nas edições anteriores, veio à porta do seu estabelecimento receber os grupos de animação e só lamenta que estes tenham estado praticamente «a tocar para o boneco» por ausência de público. «Só no primeiro ano é que houve muita gente, porque era novidade e nessa altura valeu a pena. Agora, tanto esta edição como a anterior foram uma desilusão. As pessoas das freguesias não se deslocam para este tipo de evento. Os mais novos compram online e os outros não querem vir de propósito às lojas de rua, quando têm os centros comerciais abertos até às tantas», diz, com tristeza.

Tendo em conta a «fraca afluência», António Vala teme que a ACILIS não volte a trazer o Shop On a Porto de Mós «ou mesmo à Batalha, onde aconteceu situação idêntica», mas caso traga deixa um conselho: «É necessário apostar na divulgação feita com mais tempo e de uma forma mais visível. Só os papéis na montra não chegam», considera.

shop on | Jornal O Portomosense

Para Ana Ferreira, da Danoca Boutique, este ano «o Shop On foi mais fraquinho, talvez por ter sido em outubro, quando dantes era mais no verão». A lojista gostou da animação, mas considera que «veio um bocadinho tarde». No seu entender, devia ter começado logo depois de almoço ou a meio da tarde. «As pessoas perguntavam se não havia animação e acabavam por ir embora, porque não havia nada que as prendesse. O insuflável também foi montado muito tarde e, à noite, passava despercebido. A moça estava a trabalhar praticamente às escuras. A Câmara devia ter colocado iluminação extra na Praça Arménio Marques», justifica.

«Se for para ser como este ano não vale a pena estarmos aqui até às 11 da noite para nada», diz, reconhecendo, contudo, que «houve lojas que se inscreveram e não abriram e outras que fecharam muito mais cedo que o previsto porque pensavam que já não ia haver animação e não tinham clientes». «Na última vez correu muito bem, havia gente nas ruas e não sei se era por ser ano de eleições, mas parecia que havia muito mais empenho por parte dos autarcas. Se se fizer de novo, espero que volte a boa organização e que o poder local tenha uma presença ativa, como teve no passado», frisa a lojista.

Gisela e Marlene Ferreira, da Reflexus Boutique, outra das lojas participantes, fazem questão de dizer sempre “sim” a tudo aquilo que promova o comércio local e foi com esse espírito que, mais uma vez, aderiram, explica Gisela Ferreira. «São iniciativas sempre muito boas e este ano correu muito bem. Após uma pausa de dois anos, as pessoas estão sedentas por fazer algo e foi o que aconteceu», refere.

Gisela Ferreira considera que «a divulgação foi muito bem conseguida e que daqui sairá retorno». Já a animação poderia ter corrido um pouco melhor, «não por falta de qualidade dos grupos, bem pelo contrário», mas pela escolha dos horários: «Durante a tarde não houve e depois arrancou à hora a que as pessoas estavam a jantar, o que fez com que algumas vezes os grupos atuassem sem público a assistir». Para edições futuras sugere que a animação seja vista mais na perspetiva de cativar o público infanto-juvenil que o adulto porque, «atrás das crianças, vem toda a família e enquanto estão ocupadas e em segurança os pais podem visitar as lojas e, eventualmente, fazer compras».

Iniciativa teve duas dezenas de lojas inscritas

Inscreveram-se para participar na edição de 2022 do Shop On, 21 estabelecimentos de várias áreas do comércio e restauração. À semelhança dos anos anteriores, o desafio lançado pela ACILIS aos lojistas foi de, nesse dia, levarem a cabo descontos e promoções, bem como iniciativas que, de algum modo, atraíssem os potenciais clientes aos seus estabelecimentos. ACILIS e Câmara deram também o seu contributo a este nível ao delinearem um programa de animação que contou com a DiArteDance, Grupo de Concertinas da Cabeça Veada, Ruído à Portuguesa e Grupo Típico Entre Serras. Enquanto que a escola de dança teve duas atuações em zonas distintas da vila, os restantes grupos atuaram, “à vez” no interior ou junto às lojas aderentes.

shop on 2022 danca | Jornal O Portomosense

“Câmara fez tudo aquilo com que se comprometeu”

O Portomosense falou também com o presidente da Câmara, Jorge Vala, a quem pediu um balanço desta atividade co-promovida pelo Município. O autarca começou por explicar que não esteve em Porto de Mós nesse dia pelo que apenas falou, posteriormente, com alguns comerciantes que se mostraram «muito desiludidos» e que criticaram também «quem fechou mais cedo» ou quem «nem sequer esteve aberto fora do horário normal». «Perante isto, falei com o vereador responsável que me garantiu que, da parte da Câmara, tudo aquilo com que nos comprometemos foi feito e sei que o mesmo aconteceu por parte da ACILIS», disse ainda.

«Ao que julgo saber, das 19 lojas inscritas, só seis estiveram abertas fora do horário normal, o que é muito significativo. Infelizmente, parece não ter havido da parte de alguns comerciantes a ação esperada e isso levanta algumas questões», afirmou Jorge Vala. «É importante pensarmos nas dinâmicas atuais da própria vila, especialmente agora que passámos à segunda fase da candidatura ao projeto Bairros Comerciais Digitais [que conta com um conjunto de apoios financeiros à digitalização do comércio, à sensibilização e capacitação de trabalhadores e empresários e à intervenção no espaço público na área definida como bairro comercial digital]», referiu, explicando que para se definir um plano é importante perceber, afinal, se se está a lidar com uma geração de comerciantes mais conservadora e mais velha ou uma mais nova e mais moderna, com maior predisposição para novos desafios. No seu entender será importante «contar com ambas» mas com a certeza de que «a geração mais nova tem de ser o motor para o futuro».

O Portomosense tentou obter o mesmo balanço por parte da ACILIS, mas tal não se revelou possível em tempo útil.

Fotos | Isidro Bento

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