1 Xícara de Partilha é o primeiro livro de Sílvia Carvalho, lançado recentemente, e que, mais do que um livro, pretende ser um projeto. A obra, dedicada ao público infanto-juvenil, vem acompanhada de uma xícara, que pode ser adquirida juntamente com o livro, e de uma receita de um bolo, presente na história. Além disso, a autora disponibiliza um site (www.1xicara.pt) onde é possível fazer o download gratuito de alguns recursos educativos: um guião que permite aos professores explorar os conceitos da história, uma canção e gravuras para colorir.
Sílvia Carvalho explicou a O Portomosense que esta é uma «história ideal para ler em contexto familiar», que «vale pela história em si», mas a sua «grande riqueza reside na desconstrução dos temas e das personagens». 1 Xícara de Partilha parte «das peripécias de três crianças que moram numa aldeia» para «transmitir valores universais e intemporais, como a partilha e valores de vida em família e em comunidade; mas onde também se abordam temas extremamente atuais da área da cidadania, dos direitos humanos, sustentabilidade ambiental, igualdade de género, etc».
A autora, também professora, explica que a ideia inicial não era um «projeto desta dimensão», mas apenas a história em si, o livro. Porém, ao fazer «várias formações na área da Educação para a Cidadania, Igualdade de Género e Domínios de Autonomia Curricular, percebeu que «aquilo que se preconiza hoje em dia para o ensino básico, muitos desses temas e componentes estavam no livro». «Pensei: por que não adaptar isto para ser desenvolvido no contexto escolar?», revela. Apesar de considerar que a aplicabilidade dos recursos na sua área de trabalho – o Inglês – é baixa, afirma que a história e os materiais que criou podem ser «muito úteis» para os seus colegas, também professores, de outras disciplinas: «Tenho visto uma grande dificuldade, em conseguirem encontrar tempo útil na aula para desenvolver os projetos e para levar a cabo esta nova visão de educação. Portanto, penso que o livro poderá ser muito útil porque tenho algumas sugestões de exploração no guião, que poderão ser utilizadas diretamente, sem outra preparação, e que tornam este livro em algo que pode ser facilmente aplicável», explica.
A O Portomosense, Sílvia Carvalho adiantou que «o projeto não está acabado, ainda agora começou» e que, para continuar a desenvolvê-lo, tem duas áreas prioritárias: «A adaptação futura para inglês» e «gostaria muito de poder divulgar o livro junto das comunidades portuguesas lá fora, porque também eu sou filha de emigrantes [nascida na Alemanha] e porque um dos temas do livro é a emigração, as dificuldades e as motivações que levaram os nossos emigrantes lá para fora», refere.
“Período atípico” foi momento ideal
O livro estava “na gaveta” há já algum tempo «a maturar», mas Sílvia Carvalho considerou que esta fase, distinta de todas as outras, que vivemos era a altura ideal para o lançar. «Estamos a viver um período atípico e que acho que muitos dos nossos valores familiares, de amizade, de vida em comunidade, podem vir a perder-se com este afastamento que nos é pedido. Temo que as coisas nunca mais voltem a ser iguais, por isso, achei que seria esta a altura ideal para apelar a determinados valores que temos que continuar a manter para que possamos voltar a poder partilhar daqui a uns tempos», frisa.
Até agora, «o feedback tem superado as expectativas». O livro foi lançado online e a autora diz-se surpreendida com a quantidade de partilhas e com a «dimensão que atingiu em meia dúzia de dias».
Sílvia Carvalho avançou a O Portomosense que optou por não apresentar o seu projeto «a nenhuma editora porque, nos dias que correm, o mercado editorial é muito agressivo e, muitas vezes, os autores têm que se sujeitar a todos os cortes e a todas as exigências das editoras», algo a que não queria submeter-se uma vez que fazia questão que o seu projeto chegasse ao público «tal e qual» como o imaginou. Para já, é possível adquirir a obra, quer no site próprio, quer na Papelaria Lapinha, no Alqueidão da Serra, aldeia de onde é natural. Sílvia Carvalho não exclui a possibilidade de vir a ter outros pontos de venda, mas é algo que não pode prever uma vez que se trata de uma edição de autor.
A terminar, a alqueidanense reforça que «em primeiro lugar, isto é uma história para ler em família, para os pais lerem com os filhos, para os filhos lerem com os pais, com os avós, porque a componente de relações intergeracionais é muito forte no livro». Essa era a intenção inicial e aquela que, para Sílvia Carvalho, deve sobrepor-se. «O facto de ter resolvido adaptar isto para trabalhar em contexto escolar foi por ter percebido que não há, pelo menos que eu tenha conhecimento, nada do género, que integre os temas da área da educação para a cidadania, os vários temas, tudo no mesmo livro. Mas, em primeiro lugar, é uma história ternurenta e cheia de valores», conclui.