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Silvino Vieira: Dessem-lhe tudo menos escola

4 Junho 2023
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

4 Jun, 2023

Enquanto nos “perdíamos” por Alvados em busca de uma “figura da nossa terra”, foi a história de um natural de Covão de Oles, Alqueidão da Serra, que encontrámos. Silvino Vieira ia fazendo aquilo que fez (quase) toda a vida: trabalho na área da construção. Num “bom dia” de sorriso simpático, foi fácil, a partir desse momento, percorrer as suas memórias. Recuou dos seus 68 anos atuais à sua infância, onde a escola e a catequese são das primeiras lembranças que lhe vêm à cabeça.

«Tinha daquelas catequistas mesmo radicais, capazes de dar uma chapada», recorda. Quanto à escola, não era grande fã: «Não gostava muito», diz. A professora ia a pé de Porto de Mós até ao Alqueidão da Serra para dar aulas, «por um caminho péssimo» e bastava atrasar-se um pouco para Silvino Vieira ir embora. «Quando se atrasava, as meninas diziam para esperarmos mais um pouco, nós, os rapazes, dizíamos logo “já não vem, está fora de questão” e íamos embora». Fez a quarta classe e depois foi trabalhar, como acontecia com grande parte da sua geração. Ainda assim, fez questão de salientar que os seus pais «nunca o obrigaram a ir à escola, mas também nunca disseram que não devia ir para trabalhar». O certo é que quando chegava das aulas, tinha «tarefa marcada» nas fazendas.

«Naquele tempo ninguém encarava trabalhar no campo como algo mau, mesmo aos 10 anos, toda a gente o fazia, tinham um rebanho de gado, uma junta de vacas para cultivar a fazenda», assegura. Silvino Vieira era feliz com «a liberdade» que o campo lhe dava: «O meu pai deixava-me pegar no arado, punha-me à vontade a semear qualquer coisa», revive. O pagamento «era comer» na mesa, o que para si era suficiente. Por volta dos 17 anos começou a ganhar o seu dinheiro, ainda na agricultura, onde se aguentou “nos primeiros anos” de trabalho, depois foi então aprender «a trabalhar nas obras».

Já está casado há mais de 40 anos, um «namoro de escola» que tem aguentado toda a vida. Com a esposa, natural dos Casais de Vales (onde o casal vive), também no Alqueidão da Serra, tem uma filha, que já lhes “deu” três netos. No entanto, a «saudade» é agora uma constante nas suas vidas, uma vez que estes seus descendentes vivem em França. «Custa um bocadinho, mas vamos lá de vez em quando e eles também vêm cá», diz. Habituado a longas distâncias de viagem está desde que esteve emigrado na Venezuela. «Estive lá alguns cinco ou seis anos, já éramos casados e inicialmente fui sozinho, mas depois a minha esposa e a minha filha estiveram lá comigo», conta.

E como foi a experiência de estar emigrado na Venezuela? «Já na altura era um país pobre e com um regime complicado, mas gostei de viver lá, se calhar se não fosse a minha esposa nunca ter gostado, ainda poderia lá estar», acredita. O clima sempre quente é «uma das coisas boas» do país e o povo «era simpático», embora problemático: «Há muitos roubos e droga». Durante o tempo em que esteve no país teve apenas um problema a este nível. «Fui ao banco levantar sete mil bolívares (moeda venezuelana) e a senhora do banco deu-me um molho solto, pedi-lhe para pôr um elástico mas não o fez», começou por explicar. Por ser um país quente, «usa-se pouca roupa» e restou-lhe o bolso da frente das calças para pôr o dinheiro. Quando entrou no autocarro foi vítima de um esquema por parte de vários indivíduos, que depois de “armarem uma confusão” aproveitaram para lhe tirar o dinheiro. Este foi um dos aspetos que o desmotivou e o fez voltar a Portugal. Depois da Venezuela esteve emigrado na Suíça, «mas poucos meses». Desde então, está “de pedra e cal” no Alqueidão da Serra.

Foto | Jéssica Moás de Sá

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