A pé, de bicicleta, de mota (até certo ponto), mais cansados ou menos, gostando mais ou menos da Natureza, é impossível chegar ao “Sítio do Elias” e não absorvermos a paz deste local. Para quem é adepto de caminhadas ou para quem anda de bicicleta com alguma frequência, provavelmente já sabe do que estamos a falar. Para quem ainda não ouviu falar, muita atenção, porque vai querer ficar a conhecer.
Estamos a falar de uma cabana de madeira, rodeada por um cenário de grande beleza e quietude, seja qual for a direção para onde olhemos, só conseguimos contemplar as cores verde e castanho. As árvores são centenárias, o espaço está em bruto, é uma tela natural, sem alterações. Já a cabana, essa, nasceu pelas mãos de José Elias, natural da Bezerra e que empresta o nome ao sítio. Esta cabana já foi local de milhares de petiscos para pessoas do concelho e de todo o país, em duas décadas de existência. Se José Elias o esperava? Talvez não.
«Eu gosto muito de Natureza, passeio muito a nível nacional por todo o país e cheguei a encontrar casas destas em vários sítios e aquilo ficou-me sempre na ideia», explica. A ideia existia, mas o local para a concretizar nem por isso, até que isso mudou: «A partir do momento em que herdei este terreno dos meus pais, pensei logo em fazer isto, comecei logo a construir. O terreno já tinha sido do meu avô, depois da minha mãe e depois ficou para mim», recorda. A juntar a isto, José Elias, como eletricista, tinha muito contacto com vários colegas de armazéns de Leiria onde ia buscar material e que «gostavam muito de fazer petiscos ao fim de semana» e que perguntavam frequentemente onde «deviam petiscar aqui pela zona». José Elias já prometia: «Ganhem calma, que eu logo arranjo uma casa para nós fazermos uns petiscos como deve ser». E cumpriu. «Tudo quanto aqui está foi feito por mim, fiz devagar porque naquela altura tinha muito trabalho, não podia faltar aos compromissos que tinha assumido, por isso fazia isto aos fins de semana, feriados e algumas folgas», conta. A inauguração oficiosa aconteceu a 6 de junho de 2000, quando José Elias fez 50 anos e juntou os seus familiares num almoço, nomeadamente as filhas que «chegaram a ajudar» a pôr de pé esta cabana. A partir desse momento começaram a ser recorrentes os almoços «com família, amigos, colegas de trabalho e era raro o sábado que não se fizesse um petisco».
Do Elias, para todo o país
Não foi de um momento para o outro, mas num gesto altruísta, aquele que era o seu espaço para os seus convívios, passou a ser partilhado com todos. «Ao início o sítio não era conhecido, porque não andava aqui ninguém no meio da serra, mas passado um ano ou dois, quando o Parque Natural [das Serras de Aire e Candeeiros] marcou o primeiro trilho a pé, começou a passar aqui gente e a ser logo um local conhecido, embora tenha estado dois ou três anos sem grande dimensão», recorda. Este foi o primeiro passo para o que viria depois. «Quando foi feita a Ecopista [2012] aí sim, começou-se a falar muito do “Sítio do Elias”», frisa a mente que idealizou este local. Se ao início as pessoas ligavam a perguntar se podiam ali ficar, o cenário foi mudando: «Começaram por me telefonar [no local há indicação do número] para saber se podiam fazer ali piqueniques, almoços e outras coisas, mas depois, as pessoas começaram a comunicar umas com as outras que eu não me importava e começou a ser cada vez mais frequente a presença de pessoas lá, já mesmo sem ligarem». José Elias nunca se importou com esta “apropriação” do seu espaço, ele próprio deu margem para que fosse acontecendo e é «motivo de orgulho», pedindo apenas «para que não estragassem nada».
Já fez «muitos amigos» neste sítio, de todos os pontos do país, mas com destaque para os visitantes do norte do país e da zona Oeste. Na cabana, onde é possível fazer uma fogueira para assar o que se queira, «acamparam escuteiros» e até já houve a visita do bispo de Leiria (quiçá tenha abençoado o local). José Elias já foi chamado a muitos convívios para partilhar a refeição com quem ali passa, porque a maior parte das pessoas faz questão de associar o nome a uma cara: «Já têm ido também a minha casa de propósito para me conhecerem, no fim de acabarem o petisco, para me agradecerem pelo que fiz». Além de muita ornamentação de peças que lhe deram ou que o próprio fez e trouxe de vários pontos do país, a sua cabana tem ainda um livro onde os visitantes podem deixar uma mensagem: «Tenho dossiers de mensagens guardados, as pessoas são sempre muito gentis e deixam mensagens muito bonitas, é muito bom».
José Elias compromete-se a conservar este espaço «enquanto cá estiver». «Isto dá trabalho e despesa, o espaço está aqui há 20 anos e a madeira tem que ir sendo tratada, e eu cada vez menos posso trabalhar, mas eu vou estimar até poder», garante. Orgulhoso, José Elias afirma que este é para ele «o sítio mais bonito que o concelho tem».
Há ainda… a “Casa do Elias”
Neste processo nem tudo foi bom. No “Sítio do Elias”, o proprietário chegou a disponibilizar «pratos, talheres, copos, e até vinho do Porto e várias bebidas» que estiveram cerca de 15 anos «à disposição de todos sem que ninguém mexesse». Um dia, José Elias chegou à cabana e «tinha desaparecido tudo»: «Fiquei um bocado triste com isto». Nesse momento, José Elias decidiu que não ia «colocar mais nada» e quem quisesse petiscar, teria que levar tudo o que precisasse. Foi também neste momento que decidiu materializar uma ideia que já tinha: criar uma outra casa. «Como aconteceu aquilo, decidi que a partir daquele momento, tudo o que comprasse, ia colocar nesta segunda casa, a “Casa da Elias”», explica. Esta casa, ao contrário do “Sítio do Elias” está fechada, embora o proprietário esteja disponível a emprestar a chave a quem queira ali fazer os seus petiscos.