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Situação dos javalis “não está fora de controlo”, mas há um “número bastante grande” de animais

16 Dezembro 2022
Catarina Correia Martins

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Catarina Correia Martins

16 Dez, 2022

A problemática dos javalis não é nova. Há muito tempo que se ouvem queixas acerca dos estragos provocados na agricultura, mas agora tem-se falado de um novo problema: a destruição dos muros de pedra seca, que são casa dos caracóis, um dos alimentos dos javalis. Estando este animal no topo da cadeia alimentar, não sendo o Homem a fazer o controlo da espécie, o número de indivíduos aumenta indefinidamente. O Portomosense falou com três dos quatro clubes de caçadores do concelho, para saber em que medida podem ajudar a combater esta “praga”, se há um plano de ação e o que está, neste momento, a ser feito. Até ao fecho desta edição não foi possível chegar à fala com o responsável pelo Clube de Caçadores de Alvados.

Miguel Santos, presidente do Clube de Caça, Pesca e Tiro das Freguesias de Alqueidão da Serra e Reguengo do Fetal (esta última no concelho da Batalha), diz que «a situação atual não está fora de controlo», mas admite um número «bastante grande de javalis». «Os javalis chegaram à nossa zona há cerca de 10 anos, no máximo, e começaram a estabelecer-se aqui. Como têm condições interessantes, a população tem crescido bastante», explica, acrescentando que, nos últimos dois anos, esse crescimento tem sido «um pouco descontrolado». Apesar de considerar que os caçadores têm conseguido fazer o controlo, admite que «há certas alturas do ano que são mais complicadas», como por exemplo quando as espigas de milho estão «numa fase apetecível». «Tentamos ajudar os agricultores, mas não somos super guerreiros», afirma.

Para poderem fazer o controlo, ao longo do ano, os caçadores operam «três ações distintas»: «Durante o ano, fazemos a caça de espera aos javalis à noite, durante os períodos legais. Depois, na altura em que há maior atividade dos javalis na nossa zona, socorremo-nos de uma figura legal que é a correção de densidade. Isso permite que cacemos todos os dias. Podemos fazer o pedido ao ICNF e temo-lo feito todos os anos. Depois há também as montarias – os caçadores são colocados em zonas estratégicas e os matilheiros, que possuem uma matilha de cães, entram na mancha e fazem circular os javalis, tentando que eles vão até às portas, que são os locais onde estão os caçadores armados –, cujo período legal é de outubro até ao final de janeiro, por imposição do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC). Esta é a forma mais eficaz de controlar [o número de animais]», explica Miguel Santos, acrescentando que, do seu conhecimento, estão duas agendadas para o concelho de Porto de Mós, a 7 e 28 de janeiro.

O presidente do Bencaça – Clube de Caça de São Bento, Amílcar Alves, considera que «os caçadores não conseguem fazer o equilíbrio da espécie porque não conseguem identificar os sítios específicos onde os javalis vão comer». Amílcar Alves explica que, na área de abrangência do clube que dirige, há «muita alimentação natural», como azeitonas e bolotas – «São Bento tem toneladas de bolotas» –, e que «há um clima húmido, propício a criar minhocas e caracóis», o que leva a que haja «deslocação dos javalis» para aquela zona.

«As montarias – que estão dependentes de autorizações do PNSAC e do ICNF – em São Bento são impossíveis. É uma região de minifúndio, com centenas de proprietários com cabras, ovelhas e vacas. No final, além dos javalis, outros animais apareceriam mortos», afirma. Por isso, para si, «o que é preciso é que o PNSAC autorize a caça de salto (que é como andar à caça ao coelho), que está dependente do Plano de Ordenamento que está para aprovação há mais de um ano. Só se pode caçar de espera, mas isso, quando há alimentação natural, não serve. Nesta freguesia, a caça de salto tem toda a razão de ser», considera.

Caçadores criticam PNSAC e ICNF

Amílcar Alves lança ainda algumas críticas às entidades que fazem a gestão das autorizações: «Quem está à frente dos institutos tem que ir ao terreno e falar com quem de direito. Existe um conselho cinegético municipal para alguma coisa. As regras não podem ser iguais para todos, mas sim adaptadas consoante as características de cada território», frisa. Também Fábio Venâncio, responsável pelo Sendiga – Clube de Caçadores de Serro Ventoso, Mendiga e Arrimal, atribui alguma culpa às «condicionantes» impostas pelo Parque Natural: «Não nos deixam fazer montarias em janeiro. As associações fora do parque podem, mas nós não estamos autorizados. Para fazer alguma coisa, temos que pedir parecer ao ICNF, se não “caem-nos logo em cima”», aponta.

A população procura-os por causa deste problema, dizem, mas nem toda a gente compreende o seu papel. «A população que cultiva milho, socorre-se de nós, informam-nos dos prejuízos. Mas há pessoas que não entendem, que acham que a culpa é nossa, que compramos javalis para pôr na serra, não entendem que, se não fossemos nós, a situação ainda era pior. Depois, fazem exigências, querem que sejamos nós a pagar os estragos», adianta Miguel Santos. Fábio Venâncio avança que o Sendiga dá «sementes e sacos de aveia para os agricultores cultivarem outra vez aquilo que os bichos destruíram», porém ressalva que, quanto aos muros, nada podem fazer: «Não temos verba para isso, os muros em pedra são caríssimos», diz. Por seu lado, Amílcar Alves aponta também que «os prejuízos às vezes são culpa das pessoas»: «Por vezes, os javalis passam em determinados carreiros, as pessoas não os querem lá e põem qualquer coisa para os afastar. Eles passam na mesma, vão é passar mais ao lado e, se calhar, estragar culturas que não estragariam se os deixassem passar nos tais carreiros. Os javalis são uma espécie muito inteligente, estudam tudo e, por isso, é mais difícil caçá-los», remata.

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