Luís Vieira Cruz

Sobre o extremismo ambientalista

12 Out 2023

Está na hora de voltar ao diálogo, é preciso é que ambas as partes tenham algo a dizer

Certos movimentos ambientalistas têm feito manchetes de jornais e aberto noticiários um pouco por todo o mundo nos últimos tempos e as opiniões sobre as atitudes mais ariscas que temos vindo a observar dividem-se.

Enquanto há quem considere que os jovens ativistas fazem muito bem em bloquear estrategicamente vias de acesso que condicionam muito boa gente e que o facto de se estarem a atirar substâncias várias contra fachadas de edifícios, obras de arte e até mesmo outras pessoas é justo e se classifica apenas como uma “chamada de atenção” para o abismo climático, há também quem não hesite em tratar as mesmas personagens como inoportunos, estorvos ou verdadeiros criminosos.

“Vai mas é trabalhar, ó! Vai fazer qualquer coisa útil para a sociedade”, gritava Nuno Lopes na afamada série da RTP 1 Os Contemporâneos, que rodou na TV ainda durante a primeira década dos anos 2000. Estaria aquela personagem ou algum dos seus guionistas a antever esta crise? Duvido muito. Mas o que é certo é que expressões idênticas estão ultimamente a ser vociferadas por muitos dos que se indignam com tais “alertas”.

As medidas propostas para evitar que continuemos a deslocar-nos a um ritmo vertiginoso para um caminho ambiental sem retorno não se mostram eficientes, portanto é justo que se tente fazer algo. Mas estarão já todas as formas de comunicação esgotadas menos esta? Esbravejar na rua pouco tem resolvido, protestar pacificamente também não. Contudo, o vandalismo e o delito, por mais pequenos que sejam – e só estes condeno -, também não me parecem a forma mais eficaz de marcar posição. Aliás, o extremismo acaba por ter um efeito inverso na maior parte das vezes, e está mais do que provado que a velha máxima “falem mal de mim, mas falem” não resulta assim tão bem. Se o intuito é chocar, alertar e fazer com que mais almas adiram à causa, porque raios se tomam tantas atitudes de índole delinquente e que já se sabe de antemão que a opinião pública vai tão rapidamente julgar? Está a usar-se uma estratégia de comunicação de impulso, de raiva e de revolta, o que gera precisamente mais impulso, mais raiva, mais revolta e, a adicionar a isto, mais violência.

Acredito que esteja na hora de voltar ao diálogo, é preciso é que ambas as partes tenham algo a dizer, e isso nem sempre se tem verificado. Pense-se primeiro e aja-se depois em conformidade, por um melhor Ambiente.