As pedreiras do Codaçal, na freguesia de Serro Ventoso, voltaram a encher-se de vida entre os últimos dias de agosto e os primeiros de setembro com um verdadeiro vaivém de artistas nacionais e internacionais que, sob o olhar atento dos muitos curiosos que por lá passaram, foram pintando, grafitando e esculpindo murais e blocos meticulosamente selecionados de forma a criarem verdadeiros tributos à tradição e à identidade daquele lugar portomosense. Toda esta agitação foi provocada pela segunda edição do Stone Art Festival, certame artístico bianual que desde 2021 tem atraído milhares de pessoas ao concelho e que juntou várias centenas de miúdos e graúdos na sua sessão de encerramento ao final da tarde do passado dia 3.
Entre discursos e declarações a O Portomosense, um dos impulsionadores da iniciativa, o presidente da Junta de Freguesia de Serro Ventoso, Carlos Cordeiro, explica que «este foi um evento que aconteceu em tempo recorde». Desde março que o responsável e o curador Marco Almeida (também conhecido pelo seu nome artístico 2CarryOn) iniciaram contactos com escultores e pintores, trataram de processos logísticos associados, entre outros, ao alojamento, alimentação e transportes, angariaram patrocinadores e apoiantes «e o resultado está à vista, um produto final fantástico com um balanço excelente. Todos os envolvidos estão satisfeitos», frisou.
Mostrando-se bem ciente do impacto que este cruzamento artístico-cultural pode ter naquela localidade, Carlos Cordeiro salienta ainda que o setor da Pedra é também um dos grandes beneficiados. «É um setor que tem uma imagem péssima atualmente, mas as pessoas ao virem aqui acabam por descobrir como funciona uma pedreira, qual a importância do trabalho aqui desenvolvido e acabam por ir embora com uma imagem completamente diferente. Quando assim é, quando temos um ponto turístico tão característico e tão pouco usual, saímos daqui todos beneficiados. Temos, inclusivamente, recebido mensagens na nossa página de Instagram (@stoneartpt) de artistas de todo o lado… O Codaçal está no mundo, Serro Ventoso está no mundo. Com este projeto ganha o Codaçal, ganha a freguesia, ganha o concelho, ganha Portugal e, acima de tudo, ganha a Cultura», vincou.
Milhares de pessoas já visitaram as pedreiras
Com tão fortes palavras está «completamente de acordo» o presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, Jorge Vala. Em jeito de balanço, o autarca considerou ter condições para dar um «excelente feedback» a todo o evento – ao qual se associou a autarquia e ao qual compareceram diversos elementos do atual Executivo – e confirmou que «neste momento há artistas de todo o mundo a quererem vir a estas pedreiras». O Stone Art Festival, diz, «chegou a todos os cantos do mundo e não tenho dúvida nenhuma de que vai enraizar-se nos projetos de arte de cultura do nosso país. É muito importante para o território e, desde a sua primeira edição, já conseguiu trazer aqui milhares de pessoas, e mais milhares virão certamente visitar estas obras até à próxima edição, que terá lugar daqui a dois anos», admitiu o autarca.
Também Marco Almeida terminou a noite com o sentimento de se ter «saído em grande». Ao nosso jornal, o curador do certame confirmou que «as expectativas eram muito altas mas foram atingidas». «Garantiram-se aqui dois murais de larga escala com uma qualidade fantástica e este ano apostamos mais na interatividade entre o público e os artistas, algo que resultou muito bem», sublinha. Quanto aos desafios logísticos desta iniciativa, Marco Almeida explica que «a prioridade passou sempre por garantir todas as condições necessárias à intervenção dos artistas», pelo que a organização teve «uma especial atenção à seleção dos materiais, bem como às características das próprias pedras, e fez questão de realizar um acompanhamento de proximidade», algo que considera tornar este projeto «de certa forma diferente dos demais». Sobre a prestação dos artistas, 2CarryOn assume não haver «nada a apontar, todos fizeram um ótimo trabalho e dignificaram o evento».
Mesmo que a edição de 2025 esteja garantida, o artista e a respetiva organização não se dão por satisfeitos e já têm outros planos em vista. Ainda que não os pudessem revelar todos, foi anunciado durante a sessão de encerramento que já em 2024 haverá uma aposta mais direcionada para a escultura. O repto foi deixado pelo artista italiano Luca Marovino e prontamente aceite por Carlos Cordeiro: «O Luca é um escultor com muita experiência. Tem trabalhos em países como Irão, Iraque, Turquia, Brasil.. e não lhe pudemos dizer que não. Serão cinco dias de um curso dedicado à escultura no Codaçal, mais uma iniciativa de interesse cultural no território que decidimos aceitar de imediato. É assim que a região cresce», finalizou a sua intervenção.
Entre organizadores, artistas e representantes da classe política, asseguraram também a sua presença e contribuição direta e indireta empresários ligados ao setor da Pedra. Em representação da Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais – ASSIMAGRA -, a sua vice-presidente executiva, Célia Marques, fez questão de afirmar que «não podia haver melhor forma de homenagear todo um setor do que através da Cultura. Este foi um festival que mostrou tradição e uma narrativa artística capaz de refletir a história da nossa região. Quando nós [empresários] nos unimos, somos muito mais fortes enquanto setor e foi através da arte que o pudemos mostrar».
Desta iniciativa fizeram parte André Trafic, Daniela Guerreiro, Marita, Tiago Hacke, Theic, Trip, Time For The Oniric, Daniel Pérez, Luca Marovino, Olena Dodatko, RoMP, Bad Trip, Crack, Femar, Kurtz, Mojojo, Other1, Puro, Raps, Rote e Sen, artistas que, além das suas obras de ou na pedra, deixaram, cada um, uma árvore plantada, marca que se espera também duradoura na zona de pedreiras do Codaçal.
Foto | Luís Vieira Cruz