Partir do Alqueidão da Serra «para qualquer parte do país» é aquilo a que se propõe a nova companhia de teatro profissional que está a nascer no concelho de Porto de Mós. Tempus – Teatro Oficina, Utopia, Reflexão e Sonho, foi no passado domingo, dia 26, apresentado publicamente aos alqueidoenses no Auditório José da Silva Catarino, numa sessão onde foram encenados alguns excertos das futuras produções da companhia, que junta o conimbricense David Teles Ferreira, a residir no Alqueidão da Serra, à «filha da terra» Graça Gomes e à jovem compositora e cantora Beatriz Sá Vieira, de Leiria.
O primeiro assume-se como diretor artístico da companhia, dado ser o que tem mais experiência, mas quer «que as criações sejam o mais coletivas possível». Criações como uma adaptação de Bartolomeu Marinheiro (um poema do poeta leiriense Afonso Lopes Vieira) para a infância, com a qual pretendem percorrer as escolas do país e dinamizar junto das crianças «o gosto» pelo teatro: em cada sessão, vão ser convidados membros do público para se juntarem aos atores em cima do palco, interpretando várias personagens da peça, sem ensaio, só com guião. Não é o ex-líbris da companhia mas é, neste momento, «o foco». «Eu fiquei órfão de outros projetos que tinha no teatro profissional; a Graça estava cheia de vontade de começar a fazer teatro; a Beatriz já tinha projetos comigo na poesia e, portanto, achámos que era tempo de lançar um projeto para ir às escolas», explica o diretor artístico.
«Era tempo de lançar» a iniciativa que agora é Tempus – Teatro Oficina, Utopia, Reflexão e Sonho, «porque somos pessoas de utopias, se não, não fazíamos um projeto destes. E acreditamos em Teatro que faça pensar, faça refletir, e no sonho, nos nossos e que as pessoas têm que também lutar para atingir os seus»., acredita David Teles Ferreira. Daí a escolha deste poema leiriense: «Afonso Lopes Vieira utilizou o Bartolomeu Dias para falar de um sonho, da coragem de vencer os medos. E isso é uma mensagem absolutamente intemporal», considera.
Teatro, mas também poesia e música
«O foco vai ser mais o teatro infantil, que é aquele que poderá dar dinheiro», diz. O ex-líbris, e o que pode «dar prestígio», é a peça para adultos: Momentos Heteróclitos, uma sequência de quadros «que permite ter desde 10 minutos de peça até 50 minutos», escrita por David Teles Ferreira. Mas há ainda um espetáculo de marionetas com textos de Acácio de Paiva e «um pequeno monólogo de Raul Brandão», Rui Imaginário, tal como «espetáculos de poesia (o próximo vai ser na Ronda Poética, em Leiria)», com a voz do diretor artístico e a guitarra de Beatriz Sá Vieira, que tem em simultâneo um projeto a solo, com música de cariz medieval. A jovem tocou dois temas desse projeto na apresentação, que o presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, Jorge Vala, referenciou na sua intervenção: «Vocês [dinamizadores do Tempus] terão sempre lugar a fazer parte do espaço cultural que é promovido no concelho, nomeadamente em locais que a Beatriz hoje me trouxe à memória, e falo no Campo Militar de São Jorge, falo no Castelo, falo até do espaço aqui no Alqueidão da Serra da Estrada Romana», garantiu. O autarca, tal como o presidente da Junta de Freguesia local, Filipe Batista, aproveitou a apresentação para dar as boas-vindas ao grupo, que prometeu apresentar a peça Momentos Heteróclitos no Alqueidão da Serra. E esperam uma boa adesão dos alqueidoenses, tal como tiveram nesta apresentação. «Já estive em espetáculos em Leiria com muito menos gente», diz o diretor artístico. «Hoje apareceram algumas pessoas, esperamos que lhes tenhamos deixado já água na boca para poderem passar a palavra e depois virem ver o espetáculo todo», conclui.
Foto | Bruno Sousa
Revisão | Catarina Correia Martins